Minha maior viagem de moto - Parte 2

Confira a continuação da longa experiência em direção a Ushuaia.

Por Adilson

José Ary

Dia 31 de janeiro regressamos para Rio Gallegos para então irmos ao Ushuaia. Ao chegarmos o frio estava intenso, marcando 5ºC e muito vento. Para piorar, choveu, e é possível que a temperatura tenha chegado a 0ºC. Fui ligar a moto e nada, não pegou mesmo. Chegamos à conclusão, eu e o atendente do hotel Costa Rio (Luiz), que a BUJIA (vela) já era.

Problemas: era feriado na província. Dia 01/02/08, na autorizada Yamaha, trocaram a vela. E outro problema: a bateria quase em curto.
Uma carga lenta resolveu, troquei os pneus e hotel, às 9h30min.

Dia dois, cedo, com muito frio, segui os 40 km até à aduana Argentina. Ali, durante os trâmites, conheci um casal inglês, o John e a Márcia, viajando de BMW GS650. Convidaram-me para ficar na casa deles em West Lodge, próximo de Londres.

A 1 km, a aduana chilena, foi tudo OK. Rumei para a balsa, mais 40 km até Punta Delgada, no Estreito de Magalhães. A travessia foi ótima. Do outro lado, roda-se 40 km até Cerro Sombrero em pavimento (asfalto) e mais 125 km de rípio até a Argentina novamente.

No início parece que se vai cair, mas, depois, se acostuma e dá para andar a 80 ou 100 km/h. No meio do caminho, um dos galões reserva furou, parei pra colocar a gasolina na moto e apareceu um brasileiro, paulista, que estava na estrada fazia um ano, voltando do Ushuaia.

Fotos, conversa fiada e estrada. Aduana chilena e Argentina, onde existe um posto de serviço (gasolina). Dali, até Tullim, a 197 km, parada para gasolina, lanche e? fui. De lá para o Ushuaia são somente 100 km.

Chegue! Vitória! O Ushuaia é uma cidade bem eclética, devido à grande quantidade de estrangeiros que residem ou visitam a cidade. Pequena, tranqüila e fria, o clima pode variar em questão de minutos. Dos 22º, ou 25º, com um simples vento, a temperatura cai para 7º, ou 5º. Aí, só com touca de lã e casacos bem fechados. Fiquei um bom tempo com dor de cabeça, por conta do frio. A Fátima comprou uma touca e pronto curado!

Visitamos o Parque Nacional Tierra Del Fuego, onde sacamos (tiramos) muitas fotos. Os Lagos Escondidos e Fagnano são muito lindos! Dá vontade de ficar hospedado à sua beira, por dias.

Dia quatro de fevereiro, às 19h, segui viagem para Rio Grande, a 200 km, voltando. Os primeiros 100 km foram debaixo de temporal, a roupa IXON segurou numa boa. A partir daí, os ventos estavam a, aproximadamente, 70 km, lateral direito, com muito frio, mas cheguei.

Dia cinco, madruguei e no posto, saindo de Rio Grande, encontrei a galera que estava no Ushuaia: 3 americanos, 2 canadenses - 1 de 59 anos - 1 inglês e 1 holandês - gente finíssima.

Conversamos muito, em español, é claro. Estrada até à aduana Argentina são 87 km. Conheci um alemão (Faeck), numa XT 660, européia, ano 93 - meio Ténéré, meio Superténéré. Andamos juntos por dois dias.

Já no Chile, fomos até Porvenir (150 km, de rípio), uma cidadezinha de pescadores, extremamente fria, onde se pega a balsa para Punta Arenas. Previa-se 2h30min de navegação, mas, devido aos fortes ventos, levamos 4h30min. Por conta do atraso, não achamos hotel com vaga e fomos dormir, com as motos, dentro de um restaurante de um cara que se apiedou de nós, Deus o abençoe por isso!

Dia seis, trocaram o óleo da moto, o Faeck comprou umas coisas, encontrou um casal de alemães amigos dele (mundo pequeno!), fotos, e fomos para Puerto Natales.

Dia de muito vento lateral, o que nos cansou demais. Paramos em Tehuelches, a 100 km, onde havia um caldinho que, além de quente, estava delicioso, vale à pena parar. Seguimos viagem por mais 154 km até nosso destino. Faltando 40 km, cessam os ventos, que alívio!

Chegamos à Cidade, lá pelas 17h, com 5ºC, que frio! Na moto a sensação térmica é de 0ºC. Eu tremendo como vara verde e o alemão abrindo o casaco e fumando tranquilamente. Fui para um Lodging (pousada) e o Faeck foi para um camping (doido).

Puerto Natales, a capital da província de Ultima Esperanza é uma cidade de 20 mil habitantes, que vive da pesca e do turismo, muito visitada por europeus. Tratam o turista como tal e fazem questão de que volte. Eles têm o Parque Nacionale Torres Del Paines, muito lindo. Têm a Gruta Del Millodon e o Frigorífico Bories. Ótimo lugar pra descansar. Fiquei aí por três dias.

Dia nove, logo cedo, após o desayuno (café da manhã), parti rumo à Argentina. Escolhi o caminho que passa por Rio Turbio, na Argentina, que fica a 30 km. Fui até Esperanza, onde rumei para Rio Gallegos e, depois, para San Julian. Não havia vagas em hotéis, a solução foi dormir dentro de uma sala na Rodoviária da Cidade, ajudado pelo Mauro da Secretaria de Turismo de Puerto San Julian, que foi muito amigo e condescendente com a minha necessidade, valeu cara.

Depois de uma noite dificílima, segui rumo ao norte, chegando a Caleta Olívia, às 12h, onde resolvi parar para descansar, foram 380 km. Dia 11, já refeito, peguei estrada com destino a Sierra Grande, que fica a 633 km de distância. Conheci uma senhora de uns 60 anos, que viajava há nove meses e vinda da Austrália numa BMW GS 650. Cheguei às 19h, foi um dia muito quente, mas venci.

No dia 12, já acordei com temperatura em torno de 26º. Saindo rumo a Las Grutas, a 130 km, cheguei após as 1h30min, com ventos fortes e, depois, favoráveis. O lugar é estruturado para o turista e têm muita badalação. A praia fica sobre um platô de pedra, têm muitas grutas e é muitíssimo freqüentado.

Segui para Bahia Blanca, pela Ruta 151, que vai pelo interior, com menos vento. Parei para abastecer e encontrei a australiana outra vez. De Bahia Blanca fui até Cel. Pringler, onde parei pra dormir, com 712 km rodado e quase morto.

Dia 13 saí de Cel. Pringler, Cidade dos girassóis, indo por Azul, até Cañuelas, onde começa o contorno de Buenos Aires. Fazendo uma parada providencial, o dono do bar me indicou o caminho certo antes que eu errasse, pois no trevo seguinte, que estava em obras, não havia sinalização.

Fui até Campanhá, onde não havia vagas nos hotéis, de modo que segui até Zarate, encontrando vaga, porém cara. Mas o que fazer, às 22h? Fiquei.

Dia 14 segui para Gualeguaychu, para passar pela aduana de Fray Bentos, no Uruguai. Estava fechada. Tive que ir até Colón, na aduana com Paysandu. Aqui, a 40ºC, entrei no Uruguai e logo fui muito bem atendido, tanto na aduana quanto no posto BR dentro da Cidade. Que povo adorável!
Fui até Salto e parei para esperar o sol baixar um pouco e refrescar, não estava dando pra respirar. Pouco depois segui para Bella Union, onde dormi.

Dia 15, após trocar o óleo na oficina do Peña, fui até à aduana uruguaia, a 7 km, e tchau Uruguai! Pouco mais e me senti em casa, que ótimo chegar ao Brasil! Que povo bom, comida ótima e variada! Tudo se resolve mais fácil, que orgulho de ser brasileiro! Vou reclamar bem menos e divulgar mais meu país.

De Barra do Quarai fui até Uruguaiana e, depois, para São Borja, onde parei pra dormir no Hotel Obino, ótimo, comida excelente e povo amigo. Dia 16, fui para Vacaria RS, onde dormi. Hotel e comida excelentes também, com direito a um suco de uva excepcional.

Dia 17, domingo, segui por Lages (SC), indo até Urubuci, ficando ali dois dias. Visitei o Morro da Igreja, mas as nuvens não me permitiram boas fotos.

Dia 19 segui por Rio do Sul (SC) e Jaraguá do Sul, depois, Joinville e Guaratuba já no Paraná, parando para dormir depois de sair da balsa, em Caiobá (PR).

Dia 20 de fevereiro, segui pela Rodovia Graciosa até à BR 101, tomando o rumo de São Paulo. Viagem tranqüila até Embu, SP, onde começam os engarrafamentos, que duraram 2h30min, até Guarulhos, isto por estar de moto.

A chuva colaborou bastante. Parei pra abastecer e comer em Pindamonhangaba SP, onde a chuva deu uma trégua, mas quando retomei o trecho, aí, sim, choveu de verdade, a ponto de passar água na roupa. Mas cheguei a Penedo (RJ), às 22h, com muito sono, mas, graças a Deus, sem chuva. Foram 660km rodados.

Dia 21, quinta-feira, quando fui ligar a moto, ela não quis pegar, tendo que insistir bastante. Depois de comprar o Bolo Húngaro (típico de penedo), tomei a estrada com a moto travada em 3 mil giros, ou 80 km. Pensei ser algum cisco no carburador, um problema simples, e que poderia sair rápido, indo assim até Barra Mansa, RJ, onde resolvi parar pra ver um grande amigo e saber de uma boa oficina.

Indicaram-me uma oficina, mas, no caminho, acabei parando em outra, a oficina do IRMÃO MOTOS, que me atendeu com um respeito e carinho com a moto, que me impressionaram profundamente. Precisando de um mecânico de motos na região, pode procurar o IRMÃO, sem medo.
Honesto, justo e amigo. Agora tenho dois amigos em Barra Mansa.

Peguei a estrada às 17h30min, cortei o Rio de Janeiro e fui parar em Casimiro de Abreu, RJ, rodando, neste dia, 330 km. Na sexta, dia 22, segui meu caminho rumo à Vila Velha (ES) por mais 400 km, chegando em casa às13h30min. Concluindo assim minha empreitada com um total de 13.841 km rodados.

Essa foi a maior viagem de moto que já fiz, ficando, contudo, um enorme desejo de fazer outra ainda maior. Deixo aqui meu convite, para os “irmãos” que desejarem fazer um percurso como este, que, se Deus permitir, em 2010 será executado outro projeto deste porte. Que poderá ser nas Cordilheiras dos Andes, entre Peru e Chile, com direito a Deserto do Atacama, com muita responsabilidade e prazer.

Clique aqui para conferir a primeira parte da aventura.

O “motonauta” José Ary participou do Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br. Para mandar sua notícia, clique aqui.

Fonte:
Moto Repórter

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