Expedição Brasil Uruguai de Costa a Costa

Diogo Martins conta sua expedição de 8300 Km com seu irmão Hugo, saindo de BH rumo à Colônia.

Por Roberto Brandão

Diogo Martins Duarte de Lima

Depois de descansar e passar o ano novo ao lado da minha namorada e de meus amigos, chegou a hora de dar início ao projeto Expedição Brasil – Uruguai de Costa a Costa. A saída estava marcada para domingo, dia quatro de janeiro de 2009 e saímos antes dos primeiros raios de sol. Assumo que neste momento a ficha começou a cair e a ansiedade começava a aparecer em forma de frio na barriga, nervosismo e etc. Foi uma longa e prazerosa jornada até aqui e acredito no sucesso desta aventura.

Seriam percorridos 8300 km que durante 8 meses foram planilhados, estudados e tão esperados por mim e pelo meu irmão Hugo. Deixamos para trás o conforto de nossas casas, familiares e amigos e rumamos ao desconhecido, novas culturas e novas pessoas. Logo na saída pegamos chuva e neblina de Belo Horizonte (MG) até Ilha Bela (SP) e até mesmo as roupas impermeáveis ficaram molhadas. Acho que choveu durante a viagem o suficiente para o ano todo e minha bagagem inteira molhou e fiquei sem nenhuma roupa seca (apelei para a lavanderia do hotel). A viagem demorou 14 horas, o que foi um absurdo se tratando de apenas 780 km, mas a chuva e os contra tempos nos fizeram atrasar, e muito. Chegamos na cidade por volta das 22hs30min e ainda tivemos que rodar bastante na cidade para achar um hotel.

No segundo dia, pra variar, o tempo estava completamente nublado e armando uma chuva. Demoramos um pouco mais para sair e quando nos demos conta começou a trovejar anunciando que a chuva seria pra valer. Saímos mesmo assim rumo a Joinvile e a chuva nos acompanhou até Curitiba molhando mais ainda as nossas roupas que estavam nas bagagens. A estrada de Santos até Joinvile está excelente e a nossa viagem só rendeu graças as suas condições e o pedágio para moto é de apenas R$ 0,75.

Saímos de Joinville muito atrasados, mas o sol nos fez companhia e com ele uma temperatura média de 35º. A estrada está em perfeitas condições somente até Florianópolis e depois se instala o caos da 101 até próximo a Porto Alegre. Tivemos um tempo de visitar algumas praias e uma das que chamou bastante nossa atenção foi Garopaba (excelente estrutura e praias maravilhosas). O nosso destino seria Pelotas, mas infelizmente não conseguimos concluir por vários motivos, atrasamos no cronograma, estrada perigosa por se tratar de rota portuária e com grande movimentação de caminhões e também pelo nosso esgotamento físico, sendo assim dormimos em Camaquã a uma distância de 110 km de nosso destino. Não conseguimos dormir direito, pois no único hotel da cidade não havia ar condicionado nos quartos e resolvemos dormir com a janela aberta. Fomos surpreendidos por um batalhão de pernilongos sedentos de sangue e dá-lhe repelente para conseguirmos dormir novamente.

Saímos de Camaquã rumo ao Uruguai, estradas perfeitas (pedágios motos não pagam) e retas intermináveis com um vento lateral fora do normal que algumas vezes praticamente nos tiravam praticamente da estrada. O quarto dia foi mais complicado que os outros, para começar erramos em um item importantíssimo que estudamos a fio e deixamos passar sem perceber, “somente” a  falta de gasolina. Ao passar por Pelotas sabíamos da dificuldade de se achar gasolina, por se tratar de uma longa e extensa estrada com poucas e às vezes quase nenhuma cidade ao redor, não existem postos de combustível. Adiantei muito em relação ao Hugo e acabei abrindo uma frente considerável e ele por sua vez acelerou bastante para me alcançar e por ter uma moto com um tanque menor, rapidamente entrou na reserva. Ao me alcançar me avisou a falta de combustível e lembramos que estávamos na zona morta e que dificilmente teríamos um posto próximo para abastecermos, não demorou e também entrei na reserva e a preocupação aumentou. Paramos e estudamos novamente o mapa e vimos que existia uma cidade a 6 km de distância de onde estávamos e seguimos em frente, mas para nossa surpresa a cidade não existia e não tínhamos como abastecer. Passado uns 10 Km avistei um grupo de motociclistas de Santana do Livramento que também estavam viajando, parei e perguntei onde seria o próximo posto de abastecimento e me deram uma notícia péssima, estávamos a 90 km do próximo posto, mas logo se prontificaram em nos ajudar cedendo assim um pouco de gasolina que levavam como reserva. Graças a gasolina cedida conseguimos chegar ao posto. O outro problema foi que meu irmão esqueceu o passaporte e documento de identidade (RG). Não se entra em países consignatários do Mercosul sem um passaporte ou o RG. Documentos como habilitação e carteiras como OAB, CREA, etc, não tem validade como documentos de identificação fora do Brasil. Resumindo: Ficamos parados em uma cidade próxima ao Chuí que tem 15 mil habitantes.

Retornamos no dia seguinte para Porto Alegre para recebermos o passaporte que seria enviado via Sedex 10, na verdade acompanhei o Hugo até Rio Grande onde fiquei para fazer a revisão da minha moto na Concessionária Yamaha e ele seguiu até Porto Alegre para buscar o documento.

Neste período que fiquei em Rio Grande aproveitei e fiz um tour pela cidade, conheci vários lugares históricos e a parte portuária. Acordei sem muita pressa e combinei com o Hugo que sairia de Rio Grande por volta das 11hs da manhã, visto que ele só sairia de Porto Alegre por volta das 10hs (tínhamos 4 horas de distância um do outro). Aproveitei a parte livre da manhã e fui conhecer a praia que é intitulada a maior praia do mundo com 250 km de extensão (Praia Cassino) em Rio Grande. Saí de Cassino rumo ao Chuí, esta parte da estrada praticamente é uma reta de 250 km até o Chuí, mas dificilmente verei uma estrada como esta em outro lugar, pois à margem da estrada está a reserva ambiental do TAIM com suas capivaras, jacarés, pássaros diversos e uma planície de se perder de vista. Os animais geralmente atravessam a estrada e acabam atropelados e tem que se prestar muita atenção, pois uma batida em uma capivara dessas deve estragar e muito a frente do carro e nem digo em relação a uma moto.

Bom, chegando ao Chuí fui providenciar a contratação do seguro Carta Verde e cambiar Real por Pesos Uruguaios (R$ 1,00 = 10,30 Pesos) (U$ 1.00 = 24,00 Pesos) e fui para o ponto de encontro aguardar o Hugo. Ele estava demorando muito a chegar e comecei a ficar preocupado, para espantar a preocupação fui a fronteira do Brasil/Uruguai no Chuí. O trânsito por ali é caótico. Não fui a nenhum free shop, mas todos estavam lotados e a brasileirada fazendo a festa. O interessante é ver como realmente a cultura muda radicalmente separada apenas por um canteiro central, um lado é do Brasil e outro do Uruguai em uma mesma avenida.

Assim que o Hugo chegou atravessamos a fronteira e passamos pela aduana para carimbar os passaportes com os vistos de entrada. Aproximadamente 50 km depois existe o forte de Santa  Teresa, um lugar maravilhoso e muito bem preservado, fiquei impressionado com o lugar. Depois da visita que custa 150 pesos (R$ 1,50) seguimos rumo a La Paloma onde ficaríamos hospedados. La Paloma é uma praia não tão badalada mas com uma excelente infra-estrutura. Uma coisa muito estranha é o fato de existir uma pista de pouso para aviões no meio da estrada entre o Chuí e a cidade de Rocha. Simplesmente aparece uma pista com extensão de 2 km e de repente a estrada se alarga e vira um aeroporto.

Acordamos e logo pegamos a estrada novamente, pois nosso destino seria Punta Del´este, mas iríamos parar em Maldonado para ver se conseguiríamos um hotel com um preço mais razoável. Chegando em Maldonado vimos que era uma cidade maior e que não teríamos problema para achar hotel, mas pela ironia do destino todos os hotéis estavam lotados. Decidimos então arriscar para Punta e ver se conseguíamos um hotel mais barato. Paramos assim em um centro de informações turísticas na Rambla de Punta (Rambla é a avenida beira mar) e nos foi dada a informação de um Camping em Punta Ballena que teria uma excelente estrutura. Fomos verificar. Chegando lá eu já queria voltar, a coisa toda era uma bagunça e a não senti nenhuma segurança em deixar minhas coisas por lá e sem contar que o preço estava beirando U$ 80 a cabana. Voltamos ao centro de informações e depois de alguns minutos conseguimos um hotel bem no centro de Punta e fomos para lá.

Chegando ao hotel fiquei muito nervoso, pois o atendente que havia feito a reserva a 10 minutos tinha acabado de passar o nosso quarto a outra pessoa. Ficamos sem saber o que fazer e foi quando o Hugo decidiu atravessar a rua e perguntar em um outro hotel se havia vagas. Também não tinha, mas este nos indicou um albergue em uma área de mansões em Punta que era excelente. Chegamos ao albergue escolhemos nosso quarto e aportamos, tomamos um banho e fomos para a praia. A noite fomos conhecer o agito de Punta e ficamos assustados com a movimentação da cidade. Aquilo ali estava lotado e realmente só se via gente bonita.

Acordamos mais cedo para adiantar o resto da viagem rumo a Montevidéu e assumo que fiquei estranhando um pouco a cidade, me deu um ar meio que de abandono em algumas partes e uma maior preocupação da administração da cidade na Rambla, pois por ali as coisas estavam mais arrumadas. Montevidéu é uma cidade com muitos lugares para se visitar, do estádio em que o Uruguai derrotou o Brasil até monumentos históricos. A cidade toda respira cultura e isso se vê refletido na população. Seguimos viagem rumo a Colônia nosso destino final. Saindo de Montevidéu vimos uma coisa bem familiar para nós brasileiros (várias favelas) e descobrimos um lado que ainda não tínhamos conhecíamos no Uruguai, a pobreza.

De Montevidéu a Colônia passamos por várias cidades típicas de interior e por várias viaturas da polícia Camineira com seus radares em punho, mas não tivemos problemas e mantínhamos sempre a velocidade informada nas placas. Quando estávamos na estrada e vimos a placa “Colônia Del Sacramento” paramos e nos abraçamos, enfim tínhamos chegado ao nosso destino mesmo passando por várias coisas boas e ruins, afinal esse é o gosto que nos dá de efetuarmos viagens desta forma.

A cidade de Colônia é um misto de Ouro Preto com Itabirito, pois mantém uma parte preservada e outra totalmente atual. Lá se encontra todo o tipo de carros antigos e se vê alguns carros da década de 20 ainda em funcionamento e usados como carros do dia a dia, coisa incrível. Chegando a cidade ficamos no primeiro hotel que olhamos, um excelente hotel na avenida principal da cidade (o melhor Hotel de toda a viagem). Uma coisa que não é boa no Uruguai é a Internet. Em Colônia não é obrigatório o uso de capacetes, estranhamos no início nem mesmo a polícia usa o acessório, mas fomos nos acostumando com o tempo. Percorremos toda a cidade e viramos atração, não se vê motos grandes na cidade e todos ficavam curiosos com as nossas motos. Muitos jovens ficaram ao lado das motos filmando e tirando fotos, uma situação muito engraçada. Curtimos bastante a cidade e conhecemos vários lugares interessantes.

Hora de Voltar

Saímos de Colônia por volta das 9hs da manhã com a intenção de rodar até Caxias do Sul, daria mais ou menos uns 1200 km, puxado mas iríamos tentar. Passamos pelo Uruguai sem maiores problemas e atravessamos a fronteira, nada como estarmos no Brasil. Este dia em especial estava quente demais e juntando ao cansaço foi fazendo com que o trecho só ficasse mais difícil.

No trecho Chuí/Rio Grande passamos novamente pela reserva do Taim e a quantidade de Jacarés era enorme na beira da estrada, me arrisquei para tirar uma foto, mas logo desisti, pois bicho ficou bem nervoso. Chegando em Rio Grande meu irmão e eu paramos em uma loja de motopeças que fica na saída da cidade, pois a moto dele havia queimado as luzes da lanterna. Fomos muito bem recebidos pelo dono que nos alertou para o perigo do trajeto que faríamos durante a noite que seria de Porto Alegre a Caxias do Sul, há uma grande quantidade de assaltos a motociclistas neste trajeto e com isso resolvemos pernoitar novamente em Camaquã, pois já conhecíamos o hotel e seria menos cansativo. Acordamos cedo e tocamos rumo a Registro (SP). Começamos a pegar muita chuva no Estado de Santa Catarina e a mesma nos acompanhou até Registro. Achei este trecho o mais perigoso de toda a viagem (já no Estado de SP). As carretas passavam ao nosso lado como se não estivesse chovendo e olha que estávamos a 120 km/h, uma loucura total.

Chegamos em Registro por volta das 22hs e depois de 1090 km ficamos no primeiro hotel no centro da cidade que achamos. Este trecho durou umas 14 horas. Acordamos no dia seguinte e pra variar perdemos o café da manhã, pois resolvemos dormir até mais tarde por sabermos que estaríamos a 820 km de Belo Horizonte e que o trecho renderia mais se estivéssemos bem descansados.

Pegamos a estrada e vimos que a coisa seria mais complicada. O trânsito de caminhões estava enorme e ainda teríamos que passar por dentro de São Paulo. Passado todo este perrengue seguimos para Belo Horizonte e pra variar começamos a pegar chuva assim que entramos em Minas, e que chuva. Meu pneu traseiro já estava bem liso e isso me fez ficar tenso em alguns momentos e em algumas curvas a traseira teimava em passar a frente. Já de noite, por volta das 20hs estávamos a 100 km de BH, mas tivemos que parar por motivos de segurança. As carretas passavam ao nosso lado em alta velocidade e a chuva estava muito forte. Esperamos por mais ou menos uma hora e só depois seguimos viagem rumo a BH. Continuamos debaixo de muita chuva, mas a vontade de chegar era maior.

Cheguei em casa com a certeza de ter completado todo o projeto e ter feito tudo com a maior segurança e planejamento. Não poderia deixar de agradecer aos nossos parceiros que nos apoiaram e nos ajudaram nesta aventura, e a todas as pessoas que nos deram forças para que o projeto tomasse corpo sendo assim concretizado:

Academia By Japão (www.byjapao.com.br);
Tritury (www.tritury.com.br)
Jabolac (www.jabolac.com.br);
Cidol (www.cidol.com.br);
Vídeo & Games Locadora (www.videoegameslocadora.com.br);
Revista Pro Moto (www.revistapro.com.br)
Jornal O Tempo (www.otempo.com.br)
Jornal Pampulha (www.jornalpampulha.com.br)


DICAS:
Procurar por hotéis nos sites oficiais de cada cidade (Várias opções);
Preços médios de hotéis/albergues no Uruguai: U$ 60.00 (Duplo);
Gasolina mais pura que a nossa e em média R$ 2,10;
Visitar a Fortaleza de Santa Teresa (50 km depois do Chuí );
Em Colônia Del Sacramento pegar um BUQUEBUS e atravessar o Rio da Prata rumo a Buenos Aires (R$ 110,00 em média por pessoa);
Tomar a cerveja Uruguaia de 1 Litro (Patrícia);
Experimentar a culinária local rica em variedades de frutos do mar (Muito barato); Conhecer a Barra do Chuí (Lugar maravilhoso);
Outras dicas é só enviar um e-mail para ([email protected]) ou acessar o blog (http://www.otempo.com.br/blogs/?IdBlog=1)


Um Grande Abraço à todos, e até a próxima.

O “motonauta”  Diogo Martins Duarte de Lima participou do Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br. Para mandar sua notícia, clique aqui.


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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