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Viagens

"Causos" da estrada: Ferrões abelhudos

10 de July de 2008

Mário Sérgio Figueredo

Antes, devido à nossa indústria pouco desenvolvida, as coisas eram mais difíceis de se comprar no Brasil, e o pouco que se fabricava era de qualidade tecnologicamente deficiente e produtos de qualidade superior tinham como destino certo a exportação.

Um exemplo típico disso eram as calças Lee. O tecido era fabricado aqui em Santa Catarina, mas por força de contrato o fabricante não podia vendê-lo no mercado nacional. Toda a produção embarcava diretamente para os EUA e voltava ao Brasil já em forma das conhecidas e desejadas calças, a um preço aviltante.

Calça Lee era coisa de bacana e custava mais que um salário-mínimo. Não era diferente com as roupas específicas para motociclistas, cujo objeto do desejo era a jaqueta de couro com zíper na transversal, bem ao estilo dos motociclistas mostrados nos filmes americanos.

Seguindo essa tendência, depois de economizar um monte, consegui ir numa loja e comprar a tão sonhada jaqueta de couro da marca Honda. Putz, que jaquetão! Fazia o maior sucesso, principalmente com as garotas e eu me sentia o último biscoito do pacotinho.

Mas como nem tudo é perfeito, entre a parte superior da jaqueta e o queixo do capacete ficava uma parte do pescoço exposta e também as mãos, pois eu não tinha conseguido economizar o suficiente para comprar as luvas também. Levava cada "bezourada" e cada pedrada nas mãos que chegava a quase gemer de dor. Mas até aí, tudo bem, suportável.

O pior aconteceu numa viagem para assistir a uma corrida de motocross e encontro de motoqueiros na cidade de Rio Negro (SC), 100 km de Curitiba pela BR-116. Não deu tempo para desviar de um enxame de abelhas. Caraca meu, que sufoco, paramos na hora e para minha sorte estávamos em grupo e pude contar com ajuda dos amigos para retirar ferrões das abelhas que ficaram encravados na minha pele, no pescoço e nas mãos.

Foram retirados uns dez ferrões, mas a dor continuou por um bom tempo. Isso fez com que eu mudasse meus hábitos e daí para frente a galera ficava me caçoando por usar cachecol ou lenço mesmo nos dias quentes — e também nunca mais viajei sem luvas.

Lembro que naquela época o capacete era opcional e muitos amigos não usavam. Eu, depois de duas experiências anteriores nada agradáveis (uma delas foi contada no texto “Até hoje me arrepio”), não saia de moto sem ele.

Como sempre, naquela viagem eu estava de capacete com viseira, mas alguns companheiros não usavam e por isso levaram um monte de ferroadas no rosto. Incha na hora e o cara fica parecendo o Frankstein. Pode até transformar-se num caso fatal caso o sujeito tenha alergia às substâncias contidas no veneno que é injetado pela picada.

Esse negócio de andar sem capacete sempre foi uma furada. Teve colega que chegou a levar tombo com uma "passarinhada" na testa e ser praticamente nocauteado em cima da moto. E vejo um enxame de abelhas como um acontecimento até sem importância, mas imagine um enxame de marimbondos, vespas ou até mesmo aquele abelhão preto que eu conheço como mamangava. Só de pensar dá um calafrio na espinha.

E agora a coisa está ainda pior por causa dos vários acidentes com cerol que vemos diariamente nos noticiários. Vi num site especializado no tema algumas feridas e cicatrizes no rosto e pescoço provocadas por cerol! Dá medo só de olhar. Qualquer experiência dolorosa a gente jamais esquece. É aprendizado pro resto da vida. Abraços e até o próximo "causo".
 
O “motonauta” Mário Sérgio Figueredo participou do Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br. Para mandar sua notícia, clique aqui.

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