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Viagens

Aventura de um casal e o fim da relação

15 de January de 2009

José Carlos Santos

Tudo começou com a idéia de que para rodar mais de 10 mil km em cima de uma moto não é preciso ser homem ou ser um grupo de homens. Por que não apenas um casal? Desde que o planejamento seja bem detalhado, priorizando a segurança, não há problema. Pelo menos, eu acho.

Partimos de São Paulo às 6h da manhã com destino a Pato Branco, no Paraná. Depois de 12h e 875 km rodados, chegamos à cidade dos boleiros Rogério Ceni e Alexandre Pato.

Uma merecida noite de sono e seguimos para Corrientes, na Argentina. No caminho, alguns passarinhos e muitas borboletas “atropeladas”, além de uma contribuição compulsória a um policial argentino.

Ao chegarmos, o primeiro sinal de desgaste na relação. Procurar hotel é sempre estressante. Acordamos no dia seguinte rumo a Salta, mais 845 km de chuva, sol, e muito calor, um pouco de tudo, mas no fim da tarde estávamos na bela cidade de Salta.

Dia seguinte, após um merecido descanso, partimos às 11h30 rumo a San Pedro do Atacama, no Chile. Tudo muito bonito, muito bacana, até as 18h, quando percebi o segundo sinal de que nossa relação já não ia bem.

Com o sol se pondo e nós ainda sobre as montanhas, a mais de 4.500 metros de altitude, o frio nos pegou pra valer e com ele um fortíssimo vento lateral. Vencido com muito custo, chegamos a S. Pedro quase 8h da noite, tremendo de frio, querendo só um banho quente e um prato de sopa. Mas antes disso ainda tivemos que cuidar da relação, afinal quando se viaja com uma mulher junto tem que se pensar nisso também.

De San Pedro seguimos para a cidade chilena de Tocopilla. Depois de rodar quase 300 km sobre montanhas, você desce beirando a precipícios e dá de cara com a imensidão azul do pacífico, incrível.

O Chile é realmente um país surpreendente, uma amostra do planeta. Tem um pouco de tudo, desertos, vulcões, praias, cordilheiras, neve. Antes de seguirmos para Tocopilla, fomos visitar a maior mina de cobre do mundo, em Chuquicamata. Impressiona pela grandiosidade não só da mina e dos caminhões, mas dos números também. Cada caminhão transporta 400 toneladas, tem um tanque de diesel de 4.000 litros que dura 24h, e cada pneu, que dura um ano, custa U$ 30.000.

Dormimos em Tocopilla, ou melhor, eu dormi, porque a minha garupa quase morreu do coração, quando uma funcionária do hotel onde estávamos hospedados bateu à porta para nos avisar que “a moto havia sido roubada”. Era brincadeirinha! Assim não há relação que aguente.

Mais 557 km e chegamos agora a Arica, um visual lindíssimo, à direita montanhas gigantescas, à esquerda o gelado pacifico. Apesar do mar ao lado esquerdo, o cenário ainda é de deserto, com exceção de algumas figuras que de repente surgem do nada, no meio da estrada, como um cara de bermuda, camiseta polo que caminha com seu cãozinho. De onde ele veio e pra onde ele ia só Deus sabia.

Rompemos mais uma aduana, depois de um festival de carimbos, chegamos ao Peru. Arequipa no começo assusta, o trânsito é caótico, todo mundo buzina o tempo todo, ninguém respeita nada, uma loucura. Mas com o tempo a gente se acostuma e até acha divertido.

Percorremos outros 325 km e chegamos a Puno, a 3.820 metros de altitude, o que significa falta de ar e dor de cabeça. A paisagem até lá é fantástica, você roda o tempo todo sobre as montanhas ao lado das nuvens, o frio é intenso, é preciso estar bem equipado. Mas vale muito a pena.

Em Puno fomos visitar o lago Titicaca e as ilhas flutuantes, morada da comunidade indígena Uros. De lá seguimos para Cusco, nosso destino. Depois de 5.158 km chegamos. Agora é só voltar. Não sem antes discutir um pouco sobre a relação, afinal nesse dia a moto ameaçou não pegar, culpa da altitude e da gasolina peruana.

Cusco é uma cidade muito grande e o centro histórico lembra um pouco Paraty. Chegamos com chuva, torcendo para que o Deus Sol nos presenteasse com sua presença na manhã seguinte. E ele apareceu, o Deus Inte (Sol), nos acompanhou o dia todo na visita ao Vale Sagrado. Para mim um lugar inesquecível, que além da beleza me despertou a emoção de toda a história da civilização Inca.

Machu Picchu, missão cumprida. O passeio até lá é puxado, o guia nos pegou no hotel às 6h10 para embarcarmos no trem rumo a Águas Calientes. Às 7h, depois de 4h chacoalhando, pegamos um ônibus e em mais 30 minutos estávamos no portal da “Velha Montanha”. Nós e mais um batalhão de turistas do mundo inteiro, afinal, é um patrimônio da humanidade.

No início ficamos um pouco assustados com a quantidade de gente. Mas, fomos seguindo o guia, atentos a todas as explicações, e depois que a maioria das pessoas desceu, ficamos com a montanha quase que só para nós.

Concluída a Expedição Machu Picchu, iniciamos no outro dia o retorno a São Paulo. No total seriam mais de 10 mil km rodados em 20 dias, muita gasolina e pneu queimados pelo caminho.

Infelizmente, mesmo depois de muita atenção e todo o cuidado, chegou ao fim nossa relação. Também não foi pra menos. Depois de duas viagens internacionais, está na hora de trocar a coroa, corrente e o pinhão, porque de namorada eu não troco não. Até a próxima!

Débora e José Carlos realizaram a Expedição Machu Picchu entre 18/12/2008 e 6/1/2009. Para saber mais dessa e de outras viagens de moto, entre no site www.motoa2.com.br.

O “motonauta” José Carlos Santos participou do Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br. Para mandar sua notícia, clique aqui.

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