A minha ida ao Atacama

Moto viagem desbravando terras chilenas a bordo de uma Suzuki Bandit N 600

Por Usuário Motoreporter

Giovani Nicoletti

Depois de várias leituras de relatos de grandes viagens de moto (Emilio Scotto - Policarpo - Rauen - Albuquerque- Chinaf - Gugu - Viajante Solitário (RIP) e muitos outros...), havia chegado a minha vez de viajar e poder relatar, encorajando outros futuros viajantes a fazerem o mesmo. A viagem : Sozinho, desde Rio do Sul-SC até San Pedro de Atacama - II Região (Antofagasta)-Norte do Chile.

O autor: 47 anos, professor universitário e sommelier. Até então, com 3 viagens de moto e 4000 km somados nas três.Tempo com motos > 12 anos.

A moto: Suzuki Bandit N 600 2004 - revisada e em ótimo estado, comigo há 6.5 anos.(Odômetro na saída 30.070 km - pastilhas de freio e relação originais).Reforcei a espuma do banco original e há pequena carenagem de farol Givi desde 0 km.

A bagagem: Bauleto Givi Simply de 45 litros e uma mochila.Não levei GPS, nem notebook, nem máquina fotográfica (fotos com um bom celular).Um bom mapa da Argentina, boas botas, capacete, calça, jaqueta e segunda pele completa, com luvas e balaclava de acordo.Levei spray para a corrente, lâmpadas de pisca, um pedaço de arame, adesivo, fita isolante, barbante e o jogo de chaves originais da moto.Não precisei usar nada.Só o spray, pois lubrificava a corrente, em média a cada 400 km. Importante: spray limpa viseira é essencial, pois fora estando no altiplano, grandes insetos se chocam em tudo, sujando geral. A moto se comportou muito bem. O que aconteceu foi perder a lenta na descida do altiplano, na volta....girei muitas vezes o botão de regulagem da mistura e isto deve ter desregulado o sistema.Rodei os últimos 3 dias sem marcha lenta, com o motor morrendo em neutro ou mesmo em primeira, se não acelerava.Sofri, mas cheguei. Foram 11 dias de viagem, sendo 8 dias rodando direto, das 08-09 horas da manhã até as 18-19 horas da tarde.Do dia 16 ao dia 26.10.2012. Eis o relato, contando como foi esta aventura:

1 Dia. De Rio do Sul-SC até São Borja-RS (já na fronteira com a Argentina).831 Km. Média de consumo do dia: 1 litro a cada 19,47 km. Saí de casa as 07.30, com o dia nublado e cinzento, com leves chuviscos na subida para a BR-116. Costumo tocar na boa, entre 90 e 120 km-h, sendo este intervalo, a média de cruzeiro de toda a viagem. Na primeira abastecida, em Vacaria-RS, a segunda gasolina mais cara da viagem - R$ 3.04 o litro. Na BR-285, a paisagem abre, com grandes extensões de campos de trigo e outras culturas e bom asfalto. Moto não paga pedágio. Após o fim da concessão (Ijuí), o asfalto piora (lamentável), mas ainda assim flui bem, pois há pouco movimento. O disco brilhante do sol estava se pondo no horizonte quando cheguei no trevo de São Borja. Consultei preço no Hotel Executivo (no trevo a esquerda) e toquei até o centro onde conferi o preço de mais um hotel (R$ 99) e voltei ao Executivo. Diária com café a R$ 80. A moto fica em frente a recepção, aberta, porém coberta. Não costumo fazer reservas adiantado, pois gosto de ver o hotel na hora, conferindo seu estado e localização. Jantei um X calota (típico da região) acompanhado de um vinho tinto.Não costumo almoçar quando em viagem de moto. Somente água, barra de cereal e café com leite, por ocasião dos abastecimentos.

2. Dia. De São Borja-RS a Pres. Roque Saenz Peña-Prov. de Chaco- Argentina.607 Km.Média de consumo do dia 1 litro a cada 19,42 km. Acordei as 05.30, com o ronco dos bugios num mato nos fundos do hotel.Estava frio mas já era dia claro, aproveitei e dei umas duas voltas ao redor do trevo do hotel e da BR. As 08 horas, estava já com a moto abastecida e indo em direção a ponte internacional sobre o rio Uruguai . No complexo da aduana Brasil- Argentina, tudo de bom. Vazia e rápida,documentos em dia, num só lugar, comprei a carta verde por R$ 30 (válida para 15 dias) e troquei reais por pesos argentinos a 1 R$ por PS 2,75 , paguei o pedágio da ponte - R$ 5 e segui pela Argentina -Província de Corrientes, subindo a Ruta 14, com destino a Ituzaingó, já na Ruta 12.A gasolina na Argentina está entre R$ 2,50 e R$ 2,76 o litro, pura.Não teve problema de falta em nenhum posto ao longo de toda a viagem e até dava prá escolher entre a Super e a Premium (pelo visto, a canetada da CK na YPF surtiu efeito nas bombas...).Abastecia sempre com a Premium.Pilotar na Argentina é tranqüilo, a média de velocidade geral é alta (limite de 110 km-h), mas o trânsito não é agressivo.As estradas são bem abertas,de bom asfalto e há poucos caminhões.A Polícia está sempre na estrada, conferindo veículos e documentos. Confesso que tinha certo receio, por outros relatos lidos. Por conta disso,levei cópia do formulário do Viajante Solitário. Pararam vários carros na minha frente, mas não fui parado em nenhum posto de controle ao longo de toda a viagem ! Quando os via olhando para a moto (talvez pensando em parar-me), já levantava a mão em saudação, era saudado de volta e tocava em frente. Os postos da Polícia estão sinalizados, é só cuidar, reduzir a velocidade quando informado e atenção nas entradas e saídas das cidades e vilarejos. Ao entrar no acesso a ponte sobre o rio Paraná em Corrientes, atenção. Motos devem seguir pela avenida paralela a autopista (colectora) e entrar no acesso a ponte só no final. É proibido andar na via principal e há um posto policial para fiscalizar e multar os desatentos. Cheguei em P.R.Saenz Peña ao cair da tarde. Hospedagem no Hotel Aconcágua a R$ 66-apto. luxo .Parece ser um dos melhores da cidade, com garagem coberta, café e internet.A duas quadras da praça, voltando pela rua paralela, a esquerda.Há sinalização indicando o caminho.Jantar no restaurante Bien Jose a R$ 29,salada, frango de forno com verduras e purê, arrematado depois por uma Quilmes stout bem gelada.

3. Dia. De Pres. R. Saenz Peña-Chaco a Tilcara-Jujuy. 777 Km.Consumo médio do dia 1 litro a cada 17,80 km. Neste dia, a pilotagem começa na vastidão e solidão das grandes retas da Ruta 16 e termina a 2.461 m.s.n.m. em Tilcara,na Quebrada de Humahuaca, patrimônio da humanidade (Unesco), na província de Jujuy. Ao estar nublado, amortizou o forte calor usual na Ruta 16. Após Monte Quemado, até choveu por uns 10 minutos, refrescando um pouco mais. O asfalto não está bom após esta cidade, por uns 30 km. Requer cuidados, pois há grandes buracos na pista, assim como com animais soltos pelo caminho. Destaco a fauna do Chaco, grandes gaviões de penacho e milhares de pombas.Ali no posto YPF, encontrei os primeiros motoviajantes , em regresso de SPA. Um senhor de Porto Alegre, em viagem solo, com uma G 650 GS e logo chegou um casal de SP (Santo André) de F 800GS. Felizes pela oportunidade, trocamos idéias da viagem e seguimos em frente. No final da Ruta 16, inicia-se a subida aos vales temperados de Salta e Jujuy, já com montanhas, curvas e descidas, pelas Rutas 9-34, em autopista e com mais movimento. Muitas obras e desvios ao cruzar por S.S. de Jujuy e em seguida, a transição na subida ao entrar na Quebrada, do verde dos campos para as montanhas de pedra multicoloridas, somente com os grandes cáctus (cardones) nas encostas, que vivem entre os 1800 e os 3000 m.s.n.m. No posto YPF de Tilcara, encontrei os motoviajantes do 4 RidersAtacama, de SP,em ida a SPA. Aqui, a moto sendo carburada, já acusou a altitude, morrendo em neutro. Já havia decidido ficar 1 dia em Tilcara, para aclimatar e conhecer as atrações da cidade.Fiquei uma noite no Hotel Tilcara Turismo, bem no centro a R$ 66 - diária com café e garagem coberta. Á noite, jantar no La Peña de Carlitos, na esquina da praça principal. Restaurante muito bom, com música típica ao vivo após as 21.30 horas e preços honestos. Ótimo churrasco de lhama, salada, purê e cerveja Salta negra no ponto, tudo por R$ 31.Ambiente é multicultural, os músicos fazem todos os presentes dizerem de onde vem.Vários países representados, sendo eu o único brasileiro. Aqui um detalhe. Tenho o idioma espanhol fluente, por conta de muitas viagens e atividades de comércio exterior realizadas. Para quem não é fluente, recomendo levar um dicionário de viagem, pois irá facilitar muito o dia-a-dia e contatos. Na segunda noite, me mudei para o Hostal Waira,a duas quadras morro acima da rua principal. R$ 29 a diária em quarto com banheiro e pátio aberto nos fundos, em ambiente mais informal. O dono tem moto GSA, andou muito pela Argentina e batemos bons papos sobre motos e geral, regados a uma Salta pilsen, tortilla e empanadas de queijo. Neste dia, conheci o Pukará,com seu jardim botânico de altura, o Museu Arqueológico de Tilcara (muito interessante, com 8 salas e peças demonstrando o passado pré-colombiano de toda a região noroeste da Argentina, Chile, Bolívia e Peru).Fiz um mini-trekking para a garganta do diabo, mas voltei antes de chegar, pois não estava com calçado apropriado (chinelos) e deu um ventão de dar medo, estando sozinho e a trilha subia muito em um caminho estreito e entre paredões de pedras. Nota: já conhecia as cidades de Salta e Purmamarca de outra viagem (não em moto). Por isto, passei batido nesta. Para quem não conhece, recomendo fortemente as duas. Para aclimatar na ida, Purmamarca a 2.192 m.s.n.m é também ideal. E Salta, na volta é excelente opção de parada vindo desde SPA. É linda cidade, com sua praça principal, de entorno em estilo colonial e muito bem conservado, com boa comida,bons vinhos, segura e de povo hospitaleiro.

4. Dia. Desde Tilcara-Jujuy até San Pedro de Atacama-Chile.445 Km. Média de consumo do dia 1 lt a cada 16,86 km. Hoje, o gran finale da ida, com grandes atrações . A saída da multicolorida Quebrada, a subida ao altiplano, a Cuesta de Lipán e suas belas curvas a 4.170 m.s.n.m., o salar de Salinas Grandes, as grandes retas na solidão e aridez das grandes alturas, a serrinha antes do povoado de Susques, a subida ao Paso de Jama a 4.320 m.s.n.m. e depois já no Chile, picos nevados, o Vulcão Licancabur, salares e lagunas verdes, num cenário de encanto e magia, que inundavam a visão desde o capacete com muita beleza. Há dois pontos para abastecimento no trajeto. Em Susques, gasolina no pequeno YPF e havia também em Pastos Chicos, posto e parador com restaurante e hotel a 3 km da cidade.Ali fiz pausa para um café e encontrei o pessoal do Rota X de Porto Alegre, em caminho de ida a SPA, em 3 motos e um carro de apoio. Atenção na serrinha após o retão de Salinas Grandes, pois havia muitas lhamas pela estrada. O asfalto em todo o trajeto está excelente, com exceção de algumas curvas na Cuesta de Lipán, que estão em ripio e antes de Jama, há um desvio de uns 800 metros com muita areia fofa perigosa (a moto rabeou, meti os pés no chão e passei). Após Susques, segui em comboio com o pessoal Rota X. Em Jama, abastece-se no YPF que há e logo na Aduana, a coisa fluiu rápido e sem burocracia. A seguir, a ruta 52 sobe até um máximo de 4.880 m.s.n.m. Se vêem muitos animais pelo caminho (vicunhas, burros selvagens, lhamas, alguns pássaros), mas neste dia, se roda os 445 km sem estalar nenhum inseto na viseira! No Chile, a ruta se chama 23, passa a 5 km da fronteira com a Bolívia (acesso em rípio), o frio aperta e há que se estar bem protegido. Depois de um bom trecho em grande altitude, inicia-se a vertiginosa descida a SPA, cidade a 2.500 m.s.n.m., na depressão do Salar de Atacama, em pleno deserto. Na aduana (entrada da cidade), o processo de entrada no Chile flui rápido, há uma breve revista nas bagagens e listo. A partir daí, na cidade é estrada de chão, com muita poeira, gente de todos os lugares do mundo, arquitetura típica dos vilarejos andinos, lojinhas, muitas agências de viagem, restaurantes, a pequena igreja e muitos cachorros pelas ruas, a maioria enormes e bem cuidados. No Chile, a placa PARE é para parar mesmo! Atenção. Após parada para ver preços de umas 3 ou 4 pousadas e hotéis (média de R$ 162- hotel bom e R$ 100 pousada mal apanhada sem café), tive sorte e encontrei o Hostal Portal Andino, a uma quadra da rua principal, com um corredor e aberto a um pátio no interior.Os donos são peruanos, a mulher sendo ótima cozinheira e o melhor, R$ 48 a diária, mas sem café . O quarto era para ser compartido, mas passei as 3 noites sozinho, com minhas coisas espalhadas pelas camas numa boa. Ambiente limpo e tranqüilo, banheiro pequeno porém OK. Há café,o qual tomei, por extras R$ 9.50 (boa vitamina feita na hora, sanduíche de queijo e presunto e café com leite). Fiz câmbio a 1 R$ por 210 pesos chilenos, o que está muito bom dadas as condições. Em Santiago, se procura muito para ter câmbio a 220 pesos, a regra é menos.Depois de instalado, ao passear pela cidade, encontrei de novo o pessoal do Rota X e tomamos cervejas Cristal no bar Chela Cabur, pelo visto o único da cidade a servir cerveja de litro a R$ 11,90 (que é o preço cobrado por long necks nos restaurantes...) O jantar foi com todos no Blanco, bom ambiente e com entrada, prato principal de merluza e boa sobremesa a R$ 34. Outro jantar tive na pousada, um espaguete oriental de primeira, com carne macia e vegetais por R$ 11,90, onde tomei o final da garrafa de vinho Malbec que tinha comprado em Tilcara. Fiz dois passeios com agência, aos Geisers del Tatio e ao Valle de La Luna, os quais recomendo.Nas vans, pessoal da Espanha, Brasil,Itália,Canadá, França, Alemanha, Argentina e Suiça, todos curtindo a paisagem surreal de desertos, montanhas com picos nevados, vales de pedras, dunas, vulcões, quebradas e morros de sal. Ainda fui de moto ao Pozo 3, parque aquático com piscina de água fria, a qual encarei, a uns 3 km da cidade, com entrada a R$ 9.50 . Total rodado na ida > 2.677 km.

A Volta. Após 3 noites e 2 dias em SPA, era hora de voltar, pelo mesmo caminha da ida. Na aduana chilena,foi super rápido e ainda encontrei um ônibus de turismo de SC, voltando de Machu-Pichu com um casal conhecido de minha cidade, que se ofereceu para levar alguma bagagem, aliviando o volume e me deixando espaço para trazer algumas coisas que comprei na Argentina depois. A volta fiz toda em solitário, não encontrando nenhum motoviajante no mesmo sentido. Agora em subida, sentido Jama, fortes ventos açoitaram e pelo dia inteiro, as vezes as rajadas fazendo a moto dar umas chicoteadas pelo asfalto. O negócio era reduzir e se segurar. Como não tem árvores de orientação, não dá prá prever quando o vento vai bater mais forte. Sentia-se o mesmo ao entrar e sair dos espaços protegidos pelas montanhas, nas grandes retas de altura e ao sentir uma perna mais gelada (vento) do que a outra no sol (sem vento). E pelo assobio das rajadas na moto. Na aduana para entrar na Argentina outra vez, tudo fácil e rápido. Com o vento batendo forte lá fora, o gendarme só me perguntou de onde era, nem revistou a bagagem e logo se recolheu ao abrigo outra vez. Soube que ao pessoal do ônibus, a revista foi geral. No desvio logo a frente, um tremendo susto. Bem no meio, do nada, uma forte rajada de vento escureceu tudo de poeira e quase levou a moto para o lado da pista, onde por certo iria cair na areia fofa. Naquele ventão, seria um desastre... leve, mas não iria nem conseguir levantar do chão...A rajada passou, endireitei e segui em frente.Detalhe: para conseguir melhor identificar os bancos de areia no desvio, estava de viseira aberta. Comi poeira literalmente...agora é risos, mas na hora é pavor mesmo...Abasteci no YPF de Jama, tomei um bom café com medialunas e toquei para Susques (Pastos Chicos) onde só abasteci. Aqui, ao vacilar para botar o troco no bolso, caíram as duas notas no chão e o vento as levou longe. Sai correndo e quase não as pego de volta, foi cômico, batendo com os pés no chão, tentando parar as notas voando...Toquei direto sem parar 272 km até Guemes, na província de Salta, rodando no dia 551 km, com média de 1 lt. a cada 20,50 km. Já na Ruta 9, a altitude e o dia nublado, com grossas nuvens cinzentas no céu e vento, trouxeram garoa e frio considerável. O ritmo após a descida do altiplano aumenta e o 4 cilindros ronca forte. Em Guemes, fiquei no Hotel Roman, bem localizado, a beira da rodovia, a esquerda. Por R$ 48 a diária, garagem coberta e com café, simples como todos os cafés da maioria dos hotéis na Argentina, mas limpo e com bom atendimento. Recomendo. Jantei ali ao lado, no Hotel Avenida, um lomito em pão francês, no capricho, com salada, meio litro de vinho e sobremesa de pêssego em calda com doce de leite por R$ 23 tudo. Também liguei para casa, dando notícias da viagem a esposa.

2. Dia Volta. De Guemes a Pres. R. Saenz Peña.627 km. Média de comsumo de 1 lt. a cada 20,27 km. Aqui a tocada foi direto até J. Gonzalez, onde parei para abastecer e tomar água com bolachas. O vento continuava, ora forte, ora diminuía um pouco e estando nublado na maior parte, amenizou o calor de cruzar a Ruta 16 Transchaco. Desta vez, o vento espantou a maioria dos animais que costumam estar pela pista e arredores ! Após uma parada em Monte Quemado para abastecer, cheguei algo cansado ao destino do dia. Decidi trocar de hotel para ver como seria e peguei o Hotel Orel,ao lado da rua principal por R$ 52 a diária, com garagem coberta, mas feia.Café ainda pior do que a média,sem internet e pouca estrutura. Não recomendo. Melhor mesmo o Aconcágua da ida. Ainda deu tempo para ir as Termas antes da janta. Por R$ 4.50, um banho termal em banheira, com água cor de guaraná, quente e salgada, mas que relaxou bem da tocada do dia. Jantei outra vez no Bien Jose, lomito de cuadril, salada e 1 garrafa de vinho por R$ 38, incluindo a gorjeta. Em Saenz Peña também há uma via marginal a rodovia, na qual motos devem seguir de forma obrigatória, mas aparentemente é menos fiscalizada.Na dúvida, obedeci.

3. Dia Volta.De Pres. R. Saenz Peña-Chaco a Santo Tomé-Corrientes.598 Km. Média de consumo do dia 1 lt. a cada 16,51 Km. A moto acusava a desregulagem da mistura. Cruzei a marginal de Corrientes bem no pico do meio-dia. Um trânsito infernal, sinaleiras, ônibus, motonetas e a Bandit morrendo a cada parada. Já na Ruta 12, abasteci e toquei para Ituzaingó, onde parei, abasteci e visitei a avenida costanera, margeando o rio Paraná. Desci até as margens do rio, toquei suas águas e fiz o sinal da cruz, em grande simbolismo, pedindo para realizar o final da viagem em segurança (iria precisar no dia seguinte...). No caminho, grandes campos e pastagem, com emas, garças e muito gado. Em Santo Tomé, no final do dia e já na fronteira com o Brasil,decidi ficar ali mesmo, para gastar mais pesos e fazer umas compras de supermercado (temperos e bolachas especiais, azeite,chocolate) Fiz a última abastecida na Argentina a R$ 2,68 o litro. Hospedagem no Hotel ACA (Automovil Club Argentino), a R$ 69 a diária, com café e garagem.Recomendo. Para jantar, uma minuta de lomito, com ovo, queijo, presunto, fritas e salada em separado, arrematada com 1 copo de vinho tinto, tudo a R$ 20. Nota: o bife enorme e suculento, no ponto. Por certo, o mais macio que já comi na vida até agora...Na Sociedade Italiana, na esquina da praça principal.Na volta ao hotel, terminei a garrafa de vinho que havia trazido de P.R.S.Peña.

4. Dia. A chegada em casa. De Santo Tomé a Rio do Sul-SC. 863 Km. Consumo médio do dia 1 lt. a cada 18,50 km. O caminho era o mesmo da ida. Eram 07.45 e estava já na aduana.Ali troquei os pesos sobrantes por reais e conferido os papéis do lado argentino, de nosso lado, eram 08.45 da manhã e de novo ninguém, nem ao menos para dar uma olhada em quem entra ou sai do Brasil...No trevo de Ijuí, a PRF estava com radar fiscalizando. Após Panambi, grossas nuvens trouxeram a chuva e o frio.Por 3 horas rodei assim, com uma parada em Passo Fundo. Por sorte, a chuva veio no trecho pedagiado, com bom asfalto. Havia deixado os forros da calça e jaqueta com o casal do ônibus, num segundo encontro em Joaquim Gonzalez...Após Lages-SC, na descida para o Alto Vale do Itajaí, na BR-470, veio forte neblina, uma garoa leve e depois a escuridão, trazendo condições de muito perigo na condução da moto. O trânsito estava infernal como sempre, numa sexta ?feira e com muitos caminhões. Para quem não conhece, o trecho que vai da BR-116 até a BR-101, estatisticamente é considerada a segunda mais perigosa e letal rodovia do pais. Não tem como parar, pois a primeira cidade, Pouso Redondo, está a 30 km de casa...As 21 horas, estava chegando ao portão de casa ! Concluída a viagem, ficou uma tremenda lição de pilotagem e de satisfação geral, que vai durar para sempre. Fiz tudo certo, pilotando sem erros, curtindo todos os momentos, na moto ou passeando, por 5.331 km. O estado de limpeza da moto e roupas ficou lastimável, pela chuva,insetos, terra, ventos de poeira e piche dos consertos de asfalto pelo caminho. Sem dúvida, me proporcionei um belo presente de aniversário pelos meus 48 anos (Novembro). Agradeço ao Senhor pela companhia ao longo do caminho e pelo apoio e compreensão da esposa Angelita. Foi muito bom passar pelos inúmeros locais de relatos de outros viajantes, ver seus adesivos colados nos postos e conversar com outros motoviajantes e pessoas pelo caminho. No total, considerando hotel, comidas, gasolina, passeios e algumas lembranças e compras de mercado, gastei por volta de R$ 2.300. É uma viagem acessível a todos que desejarem conhecer outros lugares, lindas paisagens, desafiantes estradas de montanha e também conhecer melhor a si mesmo.Andar de moto proporciona isto.

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Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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