A famosa Trilha dos Índios

Nossos anjos da guarda, sem dúvida, viajavam nas nossas garupas durante a aventura.

Por Leandro Alvares

Maurício

Éramos uma turma bem unida, a turma do Brooklin, e sempre procurávamos trilhas interessantes para viajar. Até hoje, alguns de nós nos encontramos para lembrar as aventuras de 30 anos atrás.

Como sempre, íamos à Boracéia e ficávamos na casa-camping de um dos amigos.  Conversando com caiçaras, ficamos sabendo de uma tal de “Trilha dos Índios”. Pronto! Ficou todo mundo louco para conhecer o caminho.

A primeira vez, depois de encontrar o local onde ela começava (ou terminava), subimos da praia para o planalto. Foi uma loucura total! Mas éramos moleques de 18, 19 anos... bons de moto.

Subimos durante a madrugada, as motos naquela época mal acendiam os faróis, era uma XL 250 (das importadas, aquelas de cor prata), CGs (sem pára-lama dianteiro para não entupir de barro), RDs, RXs e FBMs (que iam desmanchando pelo caminho).

Enfim, rodávamos com o que existia naquela época de mercado fechado. E vocês ainda reclamam do mercado hoje; nem imaginam quanto sofremos a falta de motos! A XL, maior, puxava o trem trilha acima, a escuridão era total, então, como não enxergávamos nada, acelerávamos tudo e mantínhamos o ritmo atrás da lanterna que ia à frente.

Parecia, no escuro, uma trilha tranqüila cercada de mato. O trecho mais estranho foi uma tábua cheia de lama pela qual passamos a toda e em fila. Parecia que ela estava sobre um riacho, pois escutávamos barulho de água.

Cerca de uma hora e meia depois, às 4h da manhã, chegamos a Mogi das Cruzes e paramos em frente de uma padaria. O cheiro de pão nos deixou loucos de fome. Batemos até que o padeiro abriu a porta de serviço e negociamos a venda de pãezinhos e manteiga. Na verdade, impressionado com nossa história da trilha, não nos cobrou nada.

Comemos pãozinho quente com manteiga até estufar. Depois, já com dia claro, resolvemos descer novamente para ver por onde havíamos andado na madrugada. Durante a descida não acreditávamos que ainda estávamos vivos. A trilha quase toda beirava enormes precipícios e pedras pontudas.

Havia trechos onde a largura não era maior que meio metro entre o paredão e o precipício! Imagine se alguém tivesse caído à noite. Fomos descendo com arrepios correndo pela espinha e demoramos umas seis horas para chegar à praia; quatro horas e meia a mais do que o gasto à noite.

Só naquela tábua demoramos uns 40 minutos para passar todas as motos. Ela estava uns 30 metros acima de um riacho que provinha de uma cachoeira e o tínhamos cruzado por ela sem parar. Nossos anjos da guarda, sem dúvida, viajavam nas nossas garupas.

Essa foi uma de nossas trilhas prediletas, descemos e subimos por ela dezenas de vezes. Foi lá que estreamos nossas DTs 180 zerinho. A bendita Yamaha finalmente pôs no mercado algo que podíamos chamar de moto trail.

Compramos umas 11 DTs ao mesmo tempo. Era uma alegria indescritível a molecada toda de DT. Para quem não conheceu essa trilha, hoje há uma estrada construída exatamente por onde ela passava, a rodovia Mogi-Bertioga. Quem conhece a estrada, já passou pela ponte em curva onde há uma cachoeira. Era lá que estava a tábua...

O “motonauta” Maurício participou do Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br. Para mandar sua notícia, clique aqui.


Fonte:
Moto Repórter

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