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Testes

Teste: Harley-Davidson Iron 883 e Triumph Bonneville T100

08 de August de 2014

Arthur Caldeira

A moda de objetos novos com visual antigo está em toda a parte, de aparelhos de som a geladeiras e torradeiras, do estilo de se vestir a carros e motos. A tal onda retrô atrai jovens fãs de décadas passadas e também senhores nostálgicos em busca de um retorno ao passado, um tempo bom que não volta nunca mais. Nas motos, ainda mais. Em busca da simplicidade de outros tempos, muitos motociclistas procuram uma máquina sem tanta eletrônica como as atuais ou ainda com um visual mais básico, sem “cara de motos de filme de ficção”, afirmam muitos.

Em todo o mundo, praticamente toda fábrica de motos tem um modelo que segue a receita de clássica moderna: visual antigo, mas tecnologia embutida – desde que não comprometa o estilo, é claro. No Brasil, duas motos também seguem esse estilo: a Harley-Davidson Iron 883 e a Triumph Bonneville T100.

Embora busquem inspirações em épocas e estilos diferentes, a Iron e a Bonneville têm essa mesma proposta, preços próximos e miram o mesmo público, descolado e nostálgico. Portanto, esse comparativo tem como objetivo mais mostrar as qualidades – e limitações – de cada uma delas do que decretar qual é a melhor.

EUA x Inglaterra
A Harley-Davidson Iron 883 é integrante da família Sportster, que surgiu em 1957. Mas seu motor é mais “moderno”: o V2, chamado de Evolution, equipa a linha desde 1984. Com refrigeração a ar e 883 cm³ de capacidade, na Iron ele é totalmente pintado na cor preta, exceto os cabeçotes e as duas curtas ponteiras de escapamento que são cromadas. A fábrica não divulga a potência, mas o torque, um dos pontos fortes de qualquer V2, é de 6,7 kgf.m a 4.500 rpm. A Iron ainda traz injeção eletrônica de combustível como um toque de modernidade ao motor.

O visual da Iron é inspirado nas motos Bobber da década de 1950, que tinham pneus largos e paralamas cortados (chopped). As sanfonas do garfo telescópico dianteiro conferem um ar ainda mais retrô ao modelo. Assim como a pintura fosca com uma tonalidade areia e somente a inscrição “Harley-Davidson” no tanque. O painel, de apenas um mostrador redondo, tem velocímetro analógico com uma pequena tela de cristal líquido que indica até mesmo a marcha engatada e a rotação do motor, mesclando o antigo e o novo.

Já a Bonneville encarna a clássica naked inglesa dos anos de 1950, de quando o termo naked nem era utilizado, afinal todas as motos eram “peladas”, sem carenagem. Aliás, o próprio nome Bonneville faz uma menção ao modelo surgido em 1959 que homenageava o sucesso das motos da marca britânica nas corridas do famoso deserto de sal americano.

Seu motor também é de uma arquitetura clássica: bicilíndrico paralelo com os pistões detonando alternadamente. Uma antiga receita que fez a fama das motos inglesas. Com refrigeração a ar, DOHC (duplo comando no cabeçote), e 865 cm³ de capacidade, é capaz de gerar 68 cavalos de potência a 7.500 rpm.

Para dar um toque ainda mais retrô, a Triumph manteve os corpos dos carburadores para esconder a injeção eletrônica multiponto. Existe até mesmo um afogador para auxiliar as partidas a frio, tudo para levar o piloto a reviver a época das motos carburadas.

Viagem no tempo
Dar a partida nessas motos é quase fazer uma viagem no tempo. Com a “Bonnie”, carinhoso apelido da linhagem inglesa, ainda mais. O contato é do lado esquerdo do farol, exatamente como nas motos de décadas passadas. Só se percebe que está numa moto atual quando, em vez de ligar o motor no pedal, aperta-se o botão de ignição e pronto. Um ronco compassado e agradável sai pelas duas ponteiras de escapamento. Seu funcionamento é muito linear e os giros crescem de forma suave, sem assustar. Seu desempenho não é empolgante se comparado às motos atuais, mas satisfatório para sua proposta retrô.

Na Iron, a partida é mais moderna. O modelo 2014 conta com o sistema “keyless”, ou seja, para dar partida não precisa utilizar a chave, apenas ter o chaveiro no bolso e apertar o botão. O V2 acorda mais áspero e ruidoso, com aquele barulho de metal que agrada a tantos harleiros há muito tempo.

Com câmbio de cinco marchas, o gostoso da Iron é aproveitar o bom torque do motor em baixos giros e curtir o ronco do V2. Já que empolgação demais no acelerador com giros lá em cima causa vibrações incômodas.

A Bonnie também tem só cinco marchas, mas os engates são mais suaves do que na H-D. Há bastante torque (6,9 kgf.m) também, mas em rotações mais altas, na casa das 5.800 rpm. Até é possível rodar de forma mais “esportiva”, esticando as marchas. A vibração é menor e a Bonnie chega aos 160 km/h, enquanto a Iron fica em 150 km/h. Porém, em ambas, a falta de proteção aerodinâmica incomoda bastante acima dos 120 km/h. E, afinal, por que ter pressa em motos feitas para desfilar?

Respeitando os limites da rodovia, a Harley-Davidson mostrou-se mais econômica, tendo consumo entre 19 e 22 km/l – certamente porque seu V2 gira “menos”. Já a Triumph, que permite mais esportividade com rotações mais altas, fez entre 17 e 19 km/l. Isso acaba compensando o tanque de apenas 12,5 litros na Iron contra os 16 litros da Bonnie.

Já no quesito ciclística, a vantagem vai para a motocicleta inglesa. Apesar de usarem a mesma receita clássica, com garfo telescópico e sistema bichoque, a Bonneville é mais leve, 225 kg, que os 255 kg da Iron (em ordem de marcha). A Triumph ainda tem suspensões com curso mais longo - 120 mm, na dianteira, e 106 mm, na traseira. E a Iron apenas 92 mm, na frente, e 41 mm, atrás. O resultado é que a Iron bate fim de curso com mais freqüência e as costas do piloto sofre os impactos do pequeno curso da suspensão. Enquanto que na Bonnie a jornada é bem mais macia e confortável.

Por outro lado, a H-D conta com sistema de freios ABS, uma novidade do modelo 2014, item que não está disponível na Bonneville nem como opcional.

Cada uma com seu estilo
Nesse comparativo entre a clássica naked britânica e a tradicional custom americana não há exatamente uma vencedora. Cada uma tem seu charme baseado na onda retrô. Nenhuma das duas oferece muita praticidade no dia-a-dia, já que não são o que podemos chamar de motos ágeis e nem têm ganchos para fixar bagagem. A Iron não conta nem mesmo com assento da garupa. As duas até podem enfrentar longas viagens, mas não foram feitas para isso. Consomem demais, não têm quase nenhuma proteção aerodinâmica e o assento de ambas – bem fino na Bonneville e duro na Iron – não é dos mais confortáveis, principalmente se compararmos com as motos atuais.

Mas é justamente esse o charme de ambas: são diferentes das motocicletas fabricadas nos dias de hoje e destacam-se pelo seu estilo clássico, com toques de modernidade. Os dois modelos estão na mesma faixa de preço e miram o mesmo público. A Bonneville, na versão T 100, mais clássica com rodas raiadas e pintura em dois tons, está cotada em R$ 29.900. Enquanto a Harley-Davidson Iron 883 tem preço sugerido de R$ 32.900.

Foram feitas para o lazer do final de semana, uma escapada curta com os amigos para um almoço no interior ou um dia na praia. Cada uma com seu estilo. Resta descobrir qual combina mais com você.

FICHAS TÉCNICAS

Harley-Davidson XL 883N Iron
Motor Dois cilindros em “V”, Evolution, refrigerado a ar
Capacidade cúbica 883 cm³
Potência máxima não declarada (n.d.)
Torque máximo (declarado) 6,7 kgf.m a 4.500 rpm
Câmbio Cinco marchas
Transmissão final correia dentada
Alimentação Injeção eletrônica
Partida Elétrica
Quadro tubular em aço
Suspensão dianteira Garfos telescópicos com 92 mm de curso
Suspensão traseira Duplo amortecedor com ajuste na pré-carga da mola com 41 mm de curso
Freio dianteiro Disco simples de 300 mm de diâmetro, pinça de dois pistões e ABS
Freio traseiro Disco simples de 260 mm de diâmetro, pinça de dois pistões
Pneus 100/90-19 / 150/80-16
Comprimento 2.225 mm
Largura 855 mm
Altura 1.120 mm
Distância entre-eixos 1.510 mm
Distância do solo 120 mm
Altura do assento 735 mm
Peso em ordem de marcha 255 kg
Peso a seco 245 kg
Tanque de combustível 12,5 litros
Cores Sand Cammo Denim, Black Denim e Amber Whisky
Preço sugerido R$ 32.900

Triumph Bonneville T100
Motor DOHC, bicilíndrico, quatro tempos, arrefecido a ar
Capacidade cúbica 865 cm³
Potência máxima (declarada) 68 cv a 7.500 rpm
Torque máximo (declarado) 6,9 kgf.m a 5.800 rpm
Câmbio Cinco marchas
Transmissão final corrente
Alimentação Injeção eletrônica
Partida Elétrica
Quadro Berço de aço tubular
Suspensão dianteira Garfos telescópicos Kayaba com 120 mm de curso
Suspensão traseira Duplo amortecedor com molas Kayaba com 106 mm de curso e ajuste da pré-carga de mola
Freio dianteiro Disco simples de 310 mm de diâmetro, pinça flutuante de dois pistões
Freio traseiro Disco simples de 255 mm de diâmetro, pinça flutuante de dois pistões
Pneus 100/90-19 / 130/80-17
Comprimento 2.230 mm
Largura 740 mm
Altura 1.100 mm
Distância entre-eixos 1.500 mm
Distância do solo Não disponível
Altura do assento 775 mm
Peso em ordem de marcha 225 kg
Peso a seco Não Disponível
Tanque de combustível 16 litros
Cores Jet Black/Canberry Red, Fusion White/Aurum Gold
Preço sugerido R$ 29.900

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