Sertões: Ricardo Martins diz que ganhou nova vida

Piloto catarinense da equipe Yamaha Grupo Geração bateu em um cavalo a 120 km/h durante a disputa da terceira etapa da competição

Por Aladim Lopes Gonçalves

O piloto catarinense Ricardo Martins, da equipe Yamaha Grupo Geração, sofreu um grave acidente durante a disputa da terceira etapa do Rally dos Sertões 2016. A 120 Km/h em sua moto, o piloto bateu em um cavalo que saiu repentinamente da mata. Após rolar por cerca de 50 metros, Martins se levantou e viu sua moto pegar fogo até sobrar só destroços. "Não tinha o que fazer. Tentei desviar, mas foi tudo muito rápido. Agradeço por estar vivo. Ganhei outra vida." 

Ricardo Martins foi obrigado a abandonar a competição na terça-feira, 6/09, por causa do acidente. No momento da queda, ele ocupava a segunda colocação na classificação geral e tinha grandes chances de conquistar o título inédito em sua carreira. 

Consciente de que saiu ileso de um acidente que poderia ter lhe custado lesões sérias, ele concedeu entrevista no acampamento da Etapa 4 nesta quarta-feira, 7, após acompanhar os pilotos Daniel Crema e Jovânio Frutuoso - colegas de equipe na Yamaha Grupo Geração - na continuidade do Sertões 2016. 

Confira o que o piloto Ricardo Martins disse sobre o acidente: 

Como você está? Já se recuperou?

Ricardo Martins: Estou bem. Muito bem se você pensar que o cavalo, infelizmente, morreu e a moto pegou fogo. Estou dolorido, mas não machuquei nada. 

Você poderia relatar como foi o acidente?

Ricardo Martins: Foi um susto muito grande. É difícil descrever o tamanho da pancada. Era uma estrada de três metros de largura com mato dos dois lados. O cavalo saiu correndo do mato, de repente. Eu vinha a 120 km/h. Tentei desviar dele, mas ainda bati na parte da frente dele e saí rolando pra dentro da mata uns 50 metros. Só rezava pra não pegar em uma árvore. E a moto pegou fogo. O maior susto foi que senti um líquido nas minhas costas, senti que estava molhado, e achei que era gasolina e estava pegando fogo em mim. Saí correndo, tirando o capacete, e graças a Deus era água da mochila, que estourou na queda. Aí puxei a moto pra fora da mata e tentei apagar o fogo jogando areia, mas era impossível apagar, estava muito forte. Fiquei olhando a moto pegar fogo, só agradecendo a Deus por estar vivo. 

Outros pilotos pararam para ajudar?

Ricardo Martins: Sim, mas demorou para aparecer alguém, então chamei o resgate. O helicóptero veio, me deu água, gravou algumas imagens. Depois veio um piloto e me levou na carona até o próximo ponto de apoio, a 18 Km dali. Nesta carona, perdi meu celular e não consegui me comunicar com os familiares, equipe e amigos. Quando terminou a especial, fui com o pessoal do apoio para encontrar minha equipe, que estava me esperando. Cheguei no acampamento por volta das 23h (de terça-feira). 

Está abalado por sair prematuramente do Rally dos Sertões?

Ricardo Martins: Passa um filme na cabeça. Toda preparação e investimento, todo foco estava neste Rally dos Sertões. Treinava todos os dias. Cheguei aqui e estava cumprindo a minha estratégia de estar sempre entre os 3 ou 5 primeiros. Estava em segundo na classificação geral, a 3min do primeiro, quando aconteceu o acidente. Tinha chances de ganhar. Estava dando tudo certo. Então, passa esse filme, mas ao mesmo tempo vem a mensagem de que está tudo bem, que tenho minha família, tenho minha vida. Além disso, eu, patrocinadores, amigos, família, todos sabemos que fizemos o melhor. Dei meu máximo e o acidente foi uma fatalidade. Não foi um erro de estratégia, não foi erro de pilotagem nem problema mecânico. Então, lamento que estou fora da competição, mas estou tranquilo porque estou bem e o trabalho foi bem feito.  

O fato de ter um animal solto dentro de uma área de Especial é uma falha?

Ricardo Martins: Eu era o segundo piloto a passar por ali. Passou o Gregório (Caselani, primeiro colocado) e eu vinha atrás. Acho que o cavalo estava na região, ficou assustado e disparou na minha frente, naquele momento. Poderia ter acontecido com qualquer um. A organização não tem como prever isso em uma competição tão longa. Passamos por dentro de muitas fazendas. A organização tenta afastar tudo, evitar perigos, mas às vezes acontece de encontrarmos animais pelo caminho. É um dos riscos do rally. Já aconteceu com outros pilotos também. Problema que ele saiu do nada e eu estava rápido. Não tinha o que fazer. Foi um acidente. 

Naquele momento você já sabia que o Rally dos Sertões terminava para você?

Ricardo Martins: Sim, porque a moto pegou fogo e no rally não é permitido utilizar moto reserva. O regulamento diz que tem que começar e terminar com a mesma moto. E, além da moto, queimou todos os equipamentos. 

Mesmo assim você fica até o fim da competição?

Ricardo Martins: Fico para ajudar os outros pilotos da equipe. Vou com eles até o fim. Vou ajudando a equipe do jeito que eu conseguir, nos bastidores. 

Quer fazer algum agradecimento? Quer dizer algo mais?

Ricardo Martins: Quero agradecer todo apoio que recebi. Os pilotos foram muito solidários. Todos pararam para ver se eu estava bem. Hoje, no acampamento, muitos vieram conversar, mostraram um carinho enorme. E também agradecer a todos que me ajudaram na preparação durante o ano todo. E, principalmente, agradecer a Deus.


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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