A piloto de rally Helena Deyama é uma das pioneiras na história do Off Road brasileiro, acumulando títulos de campeã e vitórias importantes em algumas das principais competições do calendário esportivo. Nascida e criada na urbana cidade de São Paulo, ela revela que a paixão pelo universo fora de estrada despertou com as aventureiras motos trail e cresceu ainda mais quando experimentou as primeiras trilhas no comando de um bravo jipe Engesa, marcando o seu batismo em uma carreira de sucesso com 20 anos de experiência em competições. Um histórico que lhe rendeu troféus de campeã brasileira de Rally e 14 participações no Rally dos Sertões, registrando 10 pódios. Sempre em busca de novos desafios, Helena Deyama vem disputando as últimas competições com UTV, veículo também conhecido por gaiola e side by side, que oferece uma pilotagem cheia de emoção e adrenalina, que mescla o estilo de condução dos quadriciclos com a leveza das motos.
Com uma agenda sempre cheia, Helena Deyama está sempre em busca de novas aventuras, dividindo o tempo com seus compromissos profissionais, na área de design gráfico, participando de ações promocionais e compartilhando o conhecimento adquirido ao longo dos anos em cursos, treinamentos e palestras. Aproveitando uma brecha entre tantos compromissos, MOTO.com.br conseguiu programar um bate-papo com a piloto, que conta detalhes marcantes de sua trajetória no cenário Off Road e que espera realizar o sonho de disputar uma edição do desafiador Rally Dakar. (Aladim Lopes Gonçalves)
MOTO.com.br: Como você iniciou nas competições? Conte um pouco da sua relação com o UTV, um veículo que vem ganhando cada vez mais espaço no mundo Off Road.
Helena Deyama: A história começou com meu sonho de ter uma moto trail desde a adolescência. Conheci alguns amigos que tinham moto. Pedi para me ensinarem a pilotar e me apaixonei. Queria ter a minha moto pra fazer umas trilhas, viajar e também andar na cidade. Não tive apoio nem influência da família. Meus pais além de não terem condições financeiras, achavam perigoso para uma garota andar de moto. Então aos 17 anos de idade, após concluir meu curso técnico de Desenho de Comunicação, comecei a trabalhar com o objetivo de comprar minha moto, que consegui realizar dois anos depois, quando comprei minha Yamaha DT 125, uma moto importada, e de segunda mão, mas muito bem conservada. Só então ingressei na Faculdade de Belas Artes, onde eu já ia de moto e aos fins de semana curtia uns passeios Off Road com os amigos, realizada da vida!
As competições só entraram na minha vida muitos anos depois, quando eu já tinha conquistado uma estabilidade financeira com meu trabalho de Designer Gráfica, e comprei um jipe Engesa 4, também usado, já que este jipe não era mais fabricado. Foi com este jipe que participei de minhas primeiras competições, que eram Raids (rallys de regularidade com obstáculos para jipes) e conquistei minhas primeiras vitórias neste meio dominado pelos homens. Mas com o passar do tempo e a experiência adquirida nos Raids, percebi que eu gostava de velocidade, e comecei a sonhar em participar de Rallys Cross Coutry, como o Sertões e o Dakar. Em 1999 consegui meus primeiros patrocinadores e o carro para correr o Rally dos Sertões. Aí não parei mais. Já participei de 14 edições dos Sertões até hoje e conquistei dois Campeonatos Brasileiros, além de diversas vitórias e pódios. Uma curiosidade bem legal é que ainda tenho até hoje minha primeira moto, a DT 125, ano 1976, e o meu primeiro jipe, o Engesa 1992. Eles têm um valor sentimental muito grande para mim!
O meu primeiro contato com os UTVs foi no início de 2014, quando a Polaris me convidou para participar da primeira etapa da Polaris Cup. Foi a primeira vez que pilotei este tipo de veículo, mas adorei e fiquei muito impressionada com a performance dos UTVs. Embora a técnica de pilotagem seja muito diferente de tudo o que eu já havia pilotado, até então, eu me entusiasmei com o desafio de acelerar e dominar o veículo! Então a Polaris me deu a oportunidade de correr o ano inteiro com o RZR 800, com o qual me dei muito bem e venci o Campeonato Brasileiro de Rally Baja na categoria. Logo no meu ano de estreia!
MOTO.com.br: Para encarar o trânsito em grandes cidades você prefere andar de carro ou de moto e para pegar estrada e viajar é melhor duas ou quatro rodas?
Helena Deyama: Eu acho que a moto tem muito mais agilidade e praticidade para encarar o trânsito em grandes cidades, mas eu acho que São Paulo tem um movimento de motos muito perigoso, onde não existe disciplina, respeito e segurança por parte dos condutores de moto. Viajar é minha atividade predileta. Eu adoro pegar uma estrada com qualquer veículo. Mas cada veículo te proporciona experiências e prazeres diferentes. Os carros 4x4 têm mais autonomia e conforto para viagens longas, mas o prazer de pegar uma estrada com uma moto é único.
MOTO.com.br: Como você encara essas provas de rally e enduro que ao mesmo são extremamente competitivas e também oferecem cenários e paisagens deslumbrantes?
Helena Deyama: É justamente este detalhe que me encanta nos Rallys, acelerar por diversos tipos de terreno, areia, serra, pedras, barro, Trial, fazendas, cerrado etc. Mas realmente não dá para ficar apreciando a paisagem enquanto estou acelerando num trecho de especial no Rally, a concentração é total no trecho. O que tenho feito é voltar depois para passear no local, como já fiz no Jalapão, Lençóis Maranhenses, Serra da Canastra, entre outros lugares incríveis onde já passei num Rally.
MOTO.com.br: Como é sua preparação física para aguentar vários dias de prova?
Helena Deyama: Eu venho me dedicando cada vez mais na minha preparação física, desde que comecei a competir, e hoje tenho o importante apoio da Academia Bio Ritmo, onde pratico natação, musculação e treinos funcionais. Além disso, pedalo e conto também com acompanhamento nutricional. Tudo isso para compensar meu pequeno porte físico, com 1,54 m de altura e peso de 47 kg. Hoje tenho resistência e força muito boas para encarar provas pesadas, e de longa duração.
MOTO.com.br: Como você ganhou o apelido de japonesa voadora nas competições? Como é feita a preparação do veículo nas provas, e você gosta de mecânica?
Helena Deyama: Há mais de 10 anos atrás, eu comecei a surpreender todos com os saltos que eu dava com minha camionete em Super Primes e Prólogos. Então os locutores começaram a destacar minhas manobras e me anunciar como a Japonesa Voadora, todos esperavam para ver meus saltos e o apelido acabou pegando. Eu gosto muito de mecânica, desde que tinha minha primeira moto Yamaha com motor dois tempos, eu acompanhava a manutenção dela na oficina, e o mecânico, o Peixotinho, que era meu amigo, me ensinou a fazer quase tudo nela. E quando comecei a andar de jipe, e depois correr Rally, sempre fiz questão de acompanhar toda a manutenção dos carros e aprendi muita coisa sobre mecânica. Hoje quem faz a preparação do meu UTV é a Equipe Brasil OffRoad comandada pelo preparador Erley Ayala, que também é um amigo e está comigo nos Rallys há mais de 12 anos.
MOTO.com.br: Como você vê a presença das mulheres em competições Off Road?
Helena Deyama: Eu tenho muito orgulho de ser uma das pioneiras entre as mulheres no mundo Off Road, e sempre incentivo as mulheres que têm vontade de ingressar no meio, mas geralmente tem algum tipo de receio, mesmo tendo a facilidade de ter a família já participando das competições, como o pai, marido, irmão etc. Eu entrei sozinha nessa e enfrento tudo até hoje sem a ajuda da família. Então, sou o exemplo de que tudo é possível com muita vontade e determinação. É com muita satisfação que vejo o numero de mulheres crescendo no meio e deixando muitos homens pra trás, para desespero deles! Rsrsrs... Eu sempre disputei as provas lado a lado com os homens, e por muitas vezes era a única mulher pilotando na categoria carros ou UTVs, mas acho que seria interessante a criação de categorias femininas pelo fato de ser um incentivo para aumentar a participação das mulheres no meio.
MOTO.com.br: Quais seus planos para o futuro no mundo Off Road?
Helena Deyama: Bom, eu já participei de algumas provas internacionais de Rally de Velocidade, etapas do Campeonato Sulamericano de Rally eu Punta Del Leste no Uruguai, etapas no Paraguai e em Erechim. Mas meu grande sonho ainda é participar do Rally Dakar, mas também tenho planos de conseguir participar de provas do Mundial de Cross Coutry, principalmente nos Emirados Árabes. O maior desafio e dificuldade que tenho enfrentado para realizar estes sonhos é conseguir patrocínio para isso. O custo é muito maior do que correr no Brasileiro. Mas não vou desistir, um dia chego lá!