Em São Paulo, Márquez elogia rivais e exalta motocross: 'minha paixão'

Atual campeão da MotoGP concedeu tradicional coletiva em passagem pelo Brasil e vê Dovizioso como principal rival na briga pelo título da temporada 2019

Por Gabriel Carvalho

Nesta terça-feira (2), em São Paulo, Marc Márquez conversou com a imprensa especializada em evento promovido por um dos patrocinadores pessoais – encontro que já se tornou tradição após o GP da Argentina. 

Se na edição do ano passado o clima era um pouco tenso devido às polêmicas da prova de 2018, com as punições e o incidente com Valentino Rossi, neste ano o ambiente estava descontraído. No último domingo, Márquez dominou a prova em Termas de Rio Hondo e venceu com larga vantagem. 

Durante a coletiva, alguns temas foram abordados: rivais na briga pelo título, a trégua com Rossi, comentários sobre o desempenho abaixo do esperado de Maverick Viñales e Jorge Lorenzo e a paixão por motocross, base do treinamento, segundo o próprio espanhol. 

“Motocross é minha paixão, é onde comecei. É minha diversão e parte principal do meu treinamento – motocross e flat track, é onde você realmente precisa ter habilidade”, disse Márquez, que explicou em seguida os benefícios de andar na terra. 

“Isso te dá um ‘feeling’ especial com a moto, te dá a capacidade de improvisar em cima da moto – o que é necessário às vezes na MotoGP. Há riscos, claro. No entanto, o que eu sempre digo é que no sofá de casa você está mais seguro, mas não vai evoluir”, afirmou. 

Trégua com Rossi 

Antes da cerimônia do pódio na Argentina, Rossi estendeu a mão a Márquez e a dupla se cumprimentou publicamente, o que não acontecia há meses. O atual campeão minimizou o que aconteceu no passado e não se vê tendo amizade com o italiano enquanto eles forem rivais na pista, mas elogiou o gesto realizado em Termas. 

“Bom, aconteceu o que aconteceu (entre nós no passado). O que eu aprendi é que com um rival com o qual você joga o campeonato é muito difícil ter uma relação de amizade, porque é o rival. Se você tem uma relação de amizade, conta tudo para alguém. E para um rival você não quer contar nada.” 

“O importante é ter uma relação de respeito. Acontecem coisas na pista? Sim. Cometemos erros, fazemos coisas com a cabeça quente. Mas todos podemos nos respeitar. Nunca tive problema em estender a mão para ele.”  

E na Argentina ele me felicitou e deu a mão, e acho que isso é o melhor para o esporte em geral. Na pista sempre teremos uma rivalidade, mas o correto é sempre sermos profissionais.” 

Dovizioso é rival mais forte, mas Rossi pode andar bem 

Questionado quem seriam os adversários na briga pelo título, Márquez vê Dovizioso e Rossi como os principais adversários na disputa, embora coloque o piloto da Ducati um pouco acima na batalha. 

“Estamos muito no início, temos muitas corridas pela frente. A vitória na Argentina foi muito fácil, mas durante o ano não vai ser assim. Quem eu vejo mais forte é o Dovizioso. Ele já vem de dois anos nos quais acumulou muita experiência e foi muito rápido.”  

“Acho que Dovizioso está melhorando nos pontos ruins que tinha. Existiam três ou quatro pistas ruins para ele, o que o fazia perder muitos pontos. Ele trabalhou nisso e melhorou muito. Isso faz dele um cara perigoso durante o campeonato, pois nessas pistas que ele sofria – como Argentina – conseguiu um terceiro lugar. Isso é muito valioso e o fará ser perigoso este ano.”  

“Isso foi o que fiz nos últimos anos. Tinha que saber sofrer em pistas difíceis e atacar quando precisava atacar. Acho que este ano vai ser assim. Você tem que ter velocidade mas também o sangue frio e não falhar em nenhum circuito.” 

“A Yamaha com Valentino não está tão constante, mas pode andar bem. O curioso é que a cada ano os nomes são os mesmos: no ano passado terminamos o ano com Valentino, Dovi e eu no top-3 e agora começamos da mesma forma.” 

Lorenzo e Viñales abaixo do esperado 

Contratado a peso de ouro pela Honda, Jorge Lorenzo chegou para formar o time dos sonhos com Márquez. Nas duas primeiras etapas, porém, Lorenzo enfrentou uma série de dificuldades e sequer terminou entre os dez primeiros. Para Márquez, o companheiro de equipe ainda está sofrendo para se adaptar à RC213V – mais do que a equipe esperava, nas palavras dele. 

“A verdade é que Jorge é um piloto bastante peculiar. Ele é um piloto muito meticuloso, muito detalhista. Ele gosta de ter todas as coisas em seu devido lugar, e quando isso acontece ele é rápido.”  

“Ele já demonstrou que é veloz. Se ele vai conseguir ser veloz em todos os circuitos para lutar por um campeonato é outra história, mas tenho certeza que ele será rápido. Quando isso vai acontecer eu não sei, acho que fisicamente ele já está muito bem.” 

“Você não precisa estar 100% para guiar uma moto a 100%. Entretanto, o aprendizado dele está custando mais do que a Honda esperava neste momento.” 

Já Maverick Viñales, companheiro de Rossi na Yamaha, começou com tudo no início de 2017 e dava indícios de que poderia ser o principal adversário de Márquez na briga por títulos a partir daquele momento. 

Desde então, porém, Viñales vive altos e baixos e, apesar de ter sido muito veloz na pré-temporada e em classificações, foi derrotado por Rossi nas duas primeiras etapas de 2019. Questionado pelo MOTO.com.br sobre o que pode acontecer com o compatriota, Márquez destacou que testes e finais de semana de corrida têm condições muito diferentes. 

“Muito pilotos, não só o Viñales, vão rápido em treinos e nas corridas acabam sofrendo mais. É como um jogador de futebol: quando treina é uma coisa, mas no dia do jogo, quando todos estão vendo e a pressão é maior, não conseguem o mesmo desempenho.” 

“Isso acontece com todos, é claro, mas com a experiência você acaba gerenciando isso melhor. É que em um teste, como são três dias na maioria das vezes - você anda bastante e tem muita borracha na pista – é um pouco mais ‘fácil’ ser rápido. Em um final de semana de corridas onde acontecem muitas coisas, é mais complicado. Não é só velocidade, você tem que pensar em cima da moto.” 

2015 como pior momento na MotoGP 

Em seguida, Márquez respondeu outro questionamento do MOTO.com.br, aproveitando o tema. Perguntado sobre qual teria sido o momento mais difícil da carreira dele na MotoGP até então, o espanhol não titubeou e elegeu o início de 2015 como a época de maior dificuldade na categoria. 

“2015 foi o momento mais difícil, no início daquela temporada. Vinha de título na Moto2, a estreia na MotoGP com título, em 2014 venci 13 corridas. Ali você se sente invencível, e eu tinha 22 anos.” 

“Aí começa 2015 e as coisas não saem como o esperado, você cai uma, duas, três vezes e fica fora da disputa pelo título. É nessas horas que você se fortalece e realmente aprende algo. Foi quando adquiri experiência”, finalizou. 


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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