Todos os anúncios Catálogo Digital Revista Digital Chat

Off-Road

DE VOLTA ĀS PISTAS

05 de May de 2006

Vencer uma corrida significa muito mais do que a conquista de pontos, prêmios ou prestígio. Para Paulo Stedile, paranaense bicampeão brasileiro de motocross, o topo do pódio representa uma superação de limites, uma proeza da vida e exemplo de determinação.

Afastado das pistas há um ano e meio após sofrer um grave acidente que o tirou os movimentos da cintura para baixo, o competidor de 26 anos voltou a competir e, logo de cara, em grande estilo. Ele venceu a terceira etapa do Campeonato Paranaense de Veloterra, na cidade de Campo Tenente, no mês passado, mostrando que o gosto pela vitória permanece circulando em suas veias.

A fatalidade aconteceu em Marilândia, no Paraná, na abertura do Brasileiro de Arena Cross de 2004. Em uma disputa com o mineiro Jorge Balbi, Paulinho cometeu um erro num salto e acabou caindo. O acidente provocou uma lesão muito grave na sua coluna. Durante dois meses e oito dias, Stedile ficou sem os movimentos da parte inferior do corpo. Mas nem por isso abandonou o sonho de voltar a andar de moto.

Nesta entrevista, o atual coordenador técnico da equipe Pro Tork conta como foi a recuperação e o retorno às pistas, além de anunciar que planeja para 2007 a volta oficial aos campeonatos, brigando pelo título do Arena Cross e pelo tricampeonato brasileiro.


Moto: Como foi a fase de recuperação após o acidente?

Stedile: Depois do acidente, tudo em minha vida ficou em função da recuperação. Apesar de ser um processo lento, sempre acreditei que iria me recuperar. Para acelerar o processo, eu fazia duas ou três vezes mais os exercícios da fisioterapia. Se o tempo estipulado fosse de uma hora e meia, eu fazia quase três. Sempre disse que ia dar certo e, agora, está acontecendo.

Moto: Você lesionou uma vértebra e a medula, ficando mais de dois meses sem andar. Conte um pouco sobre sua luta.

Stedile: Fiquei exatamente dois meses e oito dias sem andar. Foi complicado e, apesar de nunca ter desistido de voltar a andar de moto, o primeiro objetivo naquela fase era voltar a andar. Gradualmente fui recuperando os movimentos e força das pernas. A esperança de voltar a correr aumentou a cada evolução.

Moto: E a cabeça, como foi administrar esta batalha?

Stedile: Em momento nenhum eu desisti de voltar a andar de moto. O objetivo sempre foi este na minha cabeça. Eu sempre me imaginava andando de moto, mesmo antes de voltar a andar. Em alguns momentos eu até “construía” treinamentos e tomadas de tempo na minha cabeça. Corria só na imaginação, como se fosse uma coisa muito real.

Moto: E depois que já estava quase recuperado? Quando você subiu em uma moto?

Stedile: Ainda no início da recuperação, mesmo de muleta, eu já estava começando a andar de moto. A Pro Tork me deu uma TR50F (mini-moto exclusiva da Tork) e eu ficava brincando com minha sobrinha no sítio, com um pouco de dificuldade. Com o tempo, ainda na TR50F, fui vendo que estava melhorando. Tinha mais força e consegui ficar de pé. A partir daí eu senti que dava e que logo iria voltar a andar de moto.

Moto: Após esta certeza, como foi o caminho até o Paranaense de Veloterra?

Stedile: Claro que não foi de cara, pelo contrário. Há três semanas vi uma Tornado de trilha e competição na fábrica da Pro Tork e pedi para andar, fazer umas trilhas. No começo, o pessoal ficou meio reticente e não queria deixar, mas dei um jeito. Nas semanas seguintes fiz algumas trilhas e andei na minha pista de motocross. Dei algumas voltas bem devagar, sem saltar, apenas para sentir como eu estava. Neste momento vi que poderia tentar algo mais.

Moto: E como veio a decisão de encarar o Veloterra?

Stedile: Isso foi coisa do Marlon Bonilha (diretor de marketing da Pro Tork). Ele falou que havia arrumado a moto para mim e que agora eu teria que correr na pista. Ele falou brincando, mas eu topei o desafio. No início disse que apenas treinaria na sexta-feira da semana do evento e ele concordou. Então fomos para Campo Tenente. Na sexta treinei como havia combinado e cheguei ao final todo dolorido, com o braço duro. Para ter uma idéia, passei a noite fazendo gelo, mas não senti nada relativo ao acidente. Só voltei a andar no domingo no warm up.

Moto: Você falou de emoção.  E no gate, como foi?

Stedile: Vivi um sonho ali. Só de estar no gate já era uma vitória para mim. Meu objetivo era andar e ficar entre os cinco para estar no pódio, mas no decorrer da prova, senti que dava para ganhar. Coloquei na cabeça que precisava fazer algumas voltas rápidas para vencer e aconteceu. Senti o cansaço e tive muita dor no braço, mas no final foi muito bom. Nem acreditei na bandeirada e segui acelerando. Foi muito bom. Pude voltar a fazer o que gosto, o meu trabalho.

Moto: Esta foi uma volta definitiva?

Stedile: Estou voltando ao poucos. Ainda faço o trabalho de fisioterapia pela manhã e quero voltar a treinar devagar. Daqui um mês começo a treinar com uma moto de competição da Pro Tork e meu objetivo é poder reestrear no motocross na primeira etapa do Brasileiro de 2007. Ainda não posso garantir 100%, mas é isso que quero.
 
Moto: Você falou que ainda falta evoluir na parte física. O que é preciso melhorar?

Stedile: Ainda preciso de força na perna. Já recuperei todos os movimentos da perna sem carga, mas ainda preciso fazer um trabalho específico para esforço, principalmente no joelho esquerdo. Como perdi um pouco dos movimentos do pé esquerdo, ainda uso muito o joelho para compensar na hora da troca de marchas e isso desgasta demais. Acho que neste segundo semestre consigo adquirir esta condição para vislumbrar o Arena Cross, que será prioridade em 2007, e o Brasileiro.

Moto: Dá para pensar em títulos?

Stedile: Eu quero estar no gate. O resultado será conseqüência do meu trabalho, mas quem sabe não belisco alguma coisa? Às vezes me empolgo com a possibilidade de vitória, mas só de participar já é uma grande vitória.

Moto: E neste período, quem esteve ao seu lado e que você gostaria de agradecer ou lembrar?

Stedile: Primeiramente a Pro Tork, que sempre esteve ao meu lado, não somente com o incentivo financeiro, mas com o apoio emocional, me incentivando na recuperação. Também tive o apoio da Surpass (confecção de roupas) e a Mitas (pneus), que continuaram ao meu lado mesmo depois do acidente. Também não posso deixar de lembrar da minha irmã Silmara, amigos, minha fisioterapeuta Dra. Ana, que sempre falou que eu iria voltar a andar de moto, e todos que mandaram cartas e torceram por mim. Muito obrigado!


Confira alguns detalhes da carreira do piloto:

1994
- Eleito o Piloto Revelação do Ano
- Campeão Sul Paulista de Motocross 80cc
- Campeão Paulista de Motocross 80cc
- 3º Lugar Winter Olimpic Motocross USA 80cc

1995
- Vice-campeão Paranaense de motocross 125cc

1996
- 3º Lugar Camp. Brasileiro de motocross 125cc
- 6º Lugar Latino-Americano

1997
- Campeão Brasileiro Motocross 125cc
- 3º Lugar Latino Americano

1998
- 3º Lugar Camp. Brasileiro Supercross 125cc
- 5º Lugar Camp. Brasileiro Motocross 125cc
- Vice-campeão Copa Honda de Motocross 125cc

1999
- Vice-campeão da Copa Honda de Motocross

2000
- Campeão Italiano Triveneto 125cc
- Campeão Copa Federação Individual

2001
- Campeão Brasileiro Supercross 250cc
- Campeão Copa Rede Globo Motocross 250cc
- Vice-Campeão Brasileiro Motocross 250cc
- Campeão 1ª Etapa Latino Americano Colômbia 250cc

2002
- 3º Lugar Camp. Brasileiro Motocross e Supercross 250cc
- Campeão da Final do Camp. Anual da Florida de Motocross


Compartilhe esse anúncio