Arthur Caldeira
No próximo sábado, na aridez do deserto do Catar, será dada a largada para a temporada 2007 da mais importante categoria mundial de motovelocidade, a MotoGP. Eternizada como 500cc, ganhou esse nome após a adoção dos motores quatro tempos de 990 cm³.
A grande novidade deste ano, além da disputa entre os melhores pilotos do planeta, está justamente na limitação da capacidade dos propulsores em 800 cm³, o que acarreta outras mudanças técnicas. A começar pelo porte das motos, menores, com entre-eixos mais curtos e, conseqüentemente, mais ágeis nas curvas.
Na prática, a limitação dos motores aumentou a segurança dos pilotos, pois a velocidade final diminuiu. Enquanto as máquinas de 990cc beiravam os 350 km/h, as de agora, como a Honda RC 212V, Suzuki GSV-R 800, Ninja ZX-RR, chegam a 330 km/h.
Perderam velocidade final e também potência máxima. A Suzuki, que chegou a ser uma das sensações da pré-temporada e uma das únicas marcas a divulgar os números de desempenho, anunciou uma perda de 20 cv. Passou de 240 cv a 16.000 rpm para 220 cv a 17.500 rpm.
Vencendo o cronômetro
Se a capacidade diminuiu, bem como a potência e a velocidade final, como explicar o fato de Valentino Rossi ter feito uma volta 0s670 abaixo do recorde do circuito espanhol de Jerez de La Frontera, nos testes oficiais da categoria realizados entre 23 e 25 de fevereiro?
A agilidade das motos, de menor porte, explica em parte o fenômeno. Com o equipamento de 800cc, o atual vice-campeão do certame, assim como os outros pilotos, podem entrar mais rapidamente e mais agressivamente nas curvas. Em uma pista travada como Jerez, as novas máquinas saem ganhando.
Além disso, o desenvolvimento dos pneus também ajuda. A Michelin, por exemplo, projetou compostos dianteiros de 16 polegadas — antes eram utilizados os de 16,5’’. Não por acaso, os quatro corredores mais rápidos nos ensaios oficiais usavam os novos pneumáticos da marca francesa: Rossi (Fiat Yamaha), Dani Pedrosa (Repsol Honda), Colin Edwards (Fiat Yamaha) e o atual campeão, o norte-americano Nicky Hayden (Repsol Honda).
Para Jean-Philippe Weber, diretor da divisão de motos de competição da Michelin, 2007 traz um novo desafio para os pneus. “Nas novas 800cc a velocidade final não é tão alta, mas as voltas são mais rápidas. Os pneus dianteiros são mais exigidos porque os pilotos entram mais tarde e de forma mais agressiva nas curvas, exagerando nos freios. Por isso optamos por 16 polegadas, que são menores, mais leves e permitem aos pilotos mudarem de direção com mais facilidade” explicou. Até o momento parece que a Michelin está no caminho certo.
Lista de favoritos
Claro que não só apenas os novos pneus e dimensões das motos vão apontar os favoritos para esse ano. Há ainda de se ver o desempenho dos novos motores em ritmo de prova, as novas regras para escolha de pneus, etc.
Entretanto, a disputa entre Rossi e o espanhol Pedrosa pelo melhor tempo nos treinos oficiais em Jerez pode ser, na visão de muitos, uma prévia entre os dois protagonistas da briga pelo título.
O “Doutor” dispensa apresentações: foi campeão das 125cc, 250cc, 500cc e tetracampeão da MotoGP. Dani também teve uma carreira vitoriosa: levou o título das 125cc em 2003 e faturou o bicampeonato das 250cc nos anos seguintes. Em 2006 chegou à equipe oficial de fábrica da Honda na classe máxima do motociclismo como aposta da marca para bater Rossi. Terminou o campeonato em quinto. É jovem, talentoso, mas ainda ansioso demais.
Se não levou o título, Pedrosa ao menos incomodou o americano Nicky Hayden na Repsol Honda. Incomodou tanto que Hayden fez uma temporada regular e sagrou-se campeão na última etapa, tendo seus méritos, mas também beneficiado por uma queda de Rossi.
Por falar no defensor do título, ele também entra na lista de favoritos pela experiência que tem na categoria e a moto que tem em mãos. Quem também aparece com chances é a Ducati, com a veloz Desmosedici GP07 guiada por Loris Capirossi e Casey Stoner.
Barros, a velha raposa
Falando em experiência e da “Ferrari das duas rodas”, não podemos nos esquecer de Alexandre Barros, que pilotará uma Ducati GP7 da equipe satélite Pramac d’Antin. O brasileiro de 36 anos competiu de 1990 até 2005 na principal categoria da motovelocidade, acumulando sete vitórias e o quarto lugar no campeonato por diversas vezes. No ano passado, correu na Superbike, conseguindo uma vitória. Certamente, é um nome respeitado no grid.
Estréia no deserto
As atividades da primeira das 18 etapas do Mundial terão início amanhã, com a realização dos treinos livres e da primeira sessão classificatória. A corrida, no sábado, será transmitida ao vivo pelo canal por assinatura “Sportv”, a partir das 8h50 (de Brasília).
Mas quem realmente gosta do esporte a motor sobre duas rodas, pode acordar mais cedo para assistir aos pegas das categorias de acesso à MotoGP, cujas provas também serão mostradas pela emissora — 6h (125cc) e 7h10 (250cc)