Segurança no trânsito, educação necessária

O internauta Luís Carlos Dantas questiona as causas e efeitos dos acidentes com motos.

Por Roberto Brandão

Luís Carlos Dantas de Carvalho

Muitos abordam o tema Segurança no Trânsito tendo como viés os dados estatísticos fornecidos por instituições públicas que apontam números e efeitos, entretanto, tais estatísticas não abordam as causas.

A perícia in loco, engenharia da pista, engenharia do trânsito, a psicologia experimental e a psicologia racional, são fatores decisivos para a redução sistemática do número de acidentes com motocicletas. Cessando a causa, cessa o efeito.

Esses números e efeitos são os responsáveis pelas contemporâneas e alardeadoras manchetes dos jornais “Aumenta o número de acidentes com Motocicletas”, sendo essa a principal justificativa da majoração do seguro obrigatório (DPVAT).

Ora, se cresce o número de veículos transitando, consequentemente aumentam os riscos, por conseguinte, aumenta o número de acidentes. Mas isso não é a causa, é o efeito. Como minimizar o efeito sem tratar da causa?

Comecemos a tratar a causa lá no seio da família, passando posteriormente pelo ensino fundamental, onde Trânsito deveria ser matéria curricular. Posteriormente viria um abalizado curso para condutores. Mas não iremos aqui abordar aspectos diretamente ligados à preparação de condutores de veículos motorizados, em que pese o assunto ser, ao meu ver, um dos caminhos concretos.

Ao longo da minha vida de “habilitado a conduzir veículos motorizados” me deparei com inúmeras situações que me fizeram refletir. Se por um lado as imprudências da adolescência me proporcionaram determinadas habilidades ao volante de um carro e ao guidon de uma Motocicleta, por outro, me ensinaram a distinguir fielmente o que se deve e o que não se deve fazer. Uma das coisas que a “escola da vida” me ensinou quando pilotar uma motocicleta é sempre esperar o inesperado, isso nada mais é do que agir defensivamente, pilotar a moto de forma defensiva.

Mas alguém já se deu conta do que vem a ser Direção Defensiva? Será que os cursos exigidos pela nossa legislação de trânsito atendem de forma eficiente? Particularmente entendo que não, haja vista que o candidato a condutor ali está meramente para cumprir uma condição legal. A importância da Direção Defensiva será compreendida se atingir o psíquico, se atingir o espírito, se incorporar à alma do condutor. Enfim, assimilada pela consciência do condutor a ponto de fazê-lo distinguir cautela e prudência de medo, sendo ele, o medo, um dos fatores preponderantes que concorrem diretamente para os acidentes. Sempre ter cautela, mas jamais ter medo.

O medo se traduz pelo forte sentimento de inquietação ante a noção de um perigo real ou imaginação de que ele existe. O medo transmite insegurança e libera endorfina que, por sua vez, é capaz de produzir ação antálgica, semelhante a um anestésico, com isso reduz o estado de alerta. Já a insegurança é o medo externado de forma velada. Fobia é medo; fobia resulta instabilidade emocional descontrolada, que é o pânico; o pânico induz reação evasiva inconsequente ou inércia motora. Resultado: acidente.

A regra basilar é estar sempre alerta; esperar o inesperado; não imaginar em cair ou sofrer acidente; ser cauteloso; ser prudente. O bom piloto conduz sua moto de forma sempre defensiva, mas, por vezes, tem que pilotar de forma agressiva, arrojada (não confundir com radical). É como uma curva: se frear nela, você cai; se entrar com velocidade acima do ela permite, você cai; se não acelerar na saída da curva, você cai. Da mesma forma, se ultrapassar e não mantiver a velocidade de ultrapassagem o carro ultrapassado colide em você. Se os carros estão trafegando a 60km, você trafega a 65km/h. Se os carros trafegam a 100km/h, você trafega a 110km/h. Se os carros estão a 150km/h, você deixa eles irem embora. Ou seja, evite pilotar à frente, ao lado e atrás dos carros, fique longe deles. E assim vai, mas tudo isso só funciona com a moto, se o piloto tiver agilidade e destreza, e dominar suas emoções.

Um outro fator contribuinte é a ausência de inteligência, ou falta de exercício mental, ou mediocridade mesmo, mas que também é uma deseducação e desrespeito. Exemplo disso são os “esquerdinhas”, aquele ignóbil que só anda à esquerda da pista por ser a faixa de velocidade, mas trafega à menos da metade da velocidade permitida; é o maldito celular, pior é quando dirige, fala ao celular, fuma ou passa baton, pura insanidade.

Equivoco pensar que nada mais importa a não ser dirigir um carro ou pilotar uma motocicleta e sair pelas estradas, ou ruas. O que vemos no nosso dia a dia no trânsito é uma série de asneiras, um amontoado de imprudências, um dicionário de agressões verbais (e gestos também), uma mútua falta de respeito. Tudo isso reflexo da falta de educação doméstica, da crescente escassez de civilidade, da ausência de equilíbrio emocional, do despreparo do sistema ora voltado à punição (indústria das multas).

Punir é bom, arrecada mais. Educar é ruim, gasta mais. Enquanto as autoridades permanecerem com a esdrúxula mentalidade de que ônus com a Segurança é gasto, a tendência, e os números apontam isso, é o aumento do número de acidentes e o Estado, aí sim é gastar, será onerado pelas despesas médicas, indenizações, aposentadorias precoces e pensões. É preciso entender, mais do que nunca, que ônus com Segurança é um investimento que reduz gasto a curto, médio e longo prazo.

O Rotas da Liberdade MC de Salvador, na Bahia, já promoveu palestra e aula prática sobre pilotagem de Motocicletas. Enfim, é uma gota d’água, mas faz a sua parte. E você, o que está fazendo a respeito?

O “motonauta”  Luís Carlos Dantas de Carvalho participou do Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br. Para mandar sua notícia, clique aqui.


Fonte:
Moto Repórter

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