Motoboys são retratados em filme nacional

Longa-metragem Os 12 Trabalhos é uma boa opção para se conferir nas telonas.

Por Leandro Alvares

A classe dos motoboys ganhará destaque no cinema brasileiro. No dia 9 de março, estréia nas salas de projeções da capital paulista o filme “Os 12 Trabalhos”, segundo longa-metragem do diretor Ricardo Elias. Na semana seguinte, a película será exibida nas demais cidades do Estado e no Rio de Janeiro.

Ganhador de importantes prêmios como de Melhor Filme e Melhor Diretor no Festival Internacional de Gramado, com a produção intitulada “De Passagem”, Elias buscou na nova criação humanizar a figura dos também chamados motofretistas, utilizando para isso o protagonista da história, Heracles, interpretado pelo ator Sidney Santiago.

“As pessoas adoram dizer que odeiam motoboys. Por isso, eu queria mostrá-los para além do trânsito caótico de São Paulo, ao mesmo tempo em que queria propor um retrato da cidade”, disse o diretor.

Heracles é um jovem negro da periferia paulistana. Ele não conheceu o pai; sua mãe faz faxina em “casa de família”. Nas horas vagas, ele gosta de desenhar. Uma folha em branco e um lápis são suficientes para ele dar vida a uma história um tanto surreal de três crianças que brigam entre si por causa de um disco voador. Da mesma maneira, ele encanta uma garota depois de um ligeiro desenho que lhe dá vida.

Mas Heracles não tem trabalho. E também não tem muitas perspectivas. Talvez se tivesse nascido em outra classe social poderia estudar e ainda se dedicar à pintura; mas, não é o caso. Dois meses depois de ter saído da Febem, ele procura por uma ocupação.

Jonas, seu primo, com quem tem uma forte ligação de amizade, lhe oferece ajuda. E os dois seguem para a empresa de entregas rápidas em que ele trabalha.  Heracles tem, então, uma oportunidade: trabalhar como motoboy. E, em seu período de experiência é designado a realizar 12 tarefas pela cidade de São Paulo.

Nessa jornada, o jovem se depara com a burocracia, o preconceito, a grosseria e a desconfiança. A falta de malícia vai sendo substituída pouco a pouco. Afinal, quem solicita o serviço de um motoqueiro está precisando de uma entrega quase que imediata. As condições externas pouco importam para os clientes. Numa metrópole como São Paulo, documentos e materiais trafegam de um ponto a outro da cidade graças a esses prestadores de serviço.

Pela moto de Heracles circulamos, então, pela cidade. Passamos por largas e movimentadas avenidas, como a Juscelino Kubitschek, Paulista e 23 de Maio; passeamos pelo centro velho, onde está o Teatro Municipal, o Pátio do Colégio, hoje sede da Secretaria Municipal de Justiça e local em que há uma enorme concentração de motoqueiros.

Heracles começa uma vida nova. Não só pelo trabalho, mas também por passar por uma série de situações díspares e complexas ao longo de um dia. Um senhor paga sua hora de serviço para que o acompanhe a um laboratório para fazer exame, já que ele não tem família e pode passar mal. Uma mulher pede a ele que leve seu gato até a casa da filha; ela, por sua vez, o contrata para levá-la ao aeroporto.

E mesmo em meio a tanta novidade e dureza da cidade, Heracles encontra docilidade, como de uma garotinha que o ajuda a desarmar uma pequena confusão. A união entre os motoboys da cidade é outra questão que lhe é apresentada. Quando um é acidentado, por exemplo, todos os que passam pelo local se mobilizam — seja para esperar pelo socorro, seja para ir atrás do causador do acidente.  Por essa razão (e também por eles andarem entre as faixas de carro e, de vez em quando, quebrarem alguns espelhos retrovisores), a classe é vista com certa antipatia pelos motoristas.

Grande parte do longa foi filmada externamente entre os meses de junho e julho de 2005. Algumas cenas foram captadas com o recurso da câmera na mão, utilizado para poder retratar o “espírito” da rua, da corrida frenética dos motoqueiros pela cidade. Da mesma maneira, a montagem foi cuidadosamente feita, de maneira a enfatizar esse ritmo acelerado.

Uma releitura contemporânea do mito de Hércules, que traça um panorama da vida nas grandes cidades e ressalta o esforço e a luta de uma juventude sem muitas perspectivas. Esta é uma das definições do diretor Ricardo Elias sobre “Os 12 Trabalhos”, que poderá ser assistido pelo público antes mesmo da estréia nas telonas.

Em comemoração ao aniversário da cidade de São Paulo, a película será exibida na mostra “São Paulo, Imagem e Multiplicidade”, no próximo dia 24, às 19h, na Cinemateca Brasileira. Após o filme, haverá um debate com o diretor e alguns intelectuais convidados.

A Cinemateca fica localizada no Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino, zona sul.

Para conferir o trailer da obra, basta entrar no site oficial da produção.

Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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