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Conheci o meu velho amigo Ruy num restaurante em Foz do Iguaçu, em 2011.
Ele viu aquele bando de motociclistas se divertindo e veio falar comigo . Contou que estava com a mulher de férias, que também tinha uma moto e ficou impressionado com a animação do pessoal. Dei o endereço do fórum do grupo na internet e cada um foi para o seu canto. O motociclismo tem dessas coisas : unir pessoas que em outro meio nunca se entrosariam, sequer se conheceriam.
Meses depois, eu e os camaradas estávamos quase saindo do ponto de encontro às seis da manhã para uma viagem até Brasília para o Moto Capital e eis que me chega o Ruy e sua mulher numa GS 650 , sei lá que ano era a moto. “To atrasado?” e caiu na risada. Bem, ele nos acompanhou até o DF e depois acabou entrando para o clube.
Está fazendo três anos que o meu velho amigo Ruy morreu .
Não que fôssemos velhos amigos. Ele só era bem mais velho que eu. Desde que o conheci , há oito anos naquele restaurante em Foz, tinha certeza de que ele morreria de câncer de pulmão, de tanto que fumava. Aliás, ele fumava como contava histórias: acendia um causo após o outro .
Numa dessas histórias, quando já estávamos bêbados, comemorando a nossa chegada na Argentina depois de uma longa viagem de moto, ele me contou sobre o filho que não via nem falava há anos. Então o meu velho amigo Ruy começou a chorar . Eu o abracei e ficamos em silêncio. O que um moleque de trinta anos como eu poderia falar para um senhor de sessenta sobre rompimentos, família, ressentimentos?
Ali, naquele instante, conheci o Ruy um pouco melhor .
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Não sei por qual motivo, mas decidi que assim que voltasse para casa venderia a moto, sairia do clube de que fazia parte, ficaria mais com a família e beberia menos . Óbvio que continuei bebendo mais que a minha moto e aquele papo com o velho Ruy nunca mais me passou pela cabeça. Até aquela manhã de 2015 quando o meu amigo Ruy morreu.
Um ano depois dessa viagem para a Argentina , o Ruy, que morava em Balneário Camboriú, recebeu quase uma centena de pessoas do clube em sua cidade e fez o possível e o impossível para nos sentirmos em casa, comprando bebidas e cigarros, indicando mecânicos, resolvendo pepinos de última hora, sempre com bom humor e o enorme sorriso de dentes amarelados pelo tempo e pelos dois maços por dia.
Eu sempre tive certeza de que o Ruy morreria por males causados pelo fumo. Às vezes alguém pedia um cigarro e ele dizia: ô meu, não tenho filho desse tamanho não, e caía na risada . Uma risada grande, entrecortada por alguma tosse, mas sempre alegre e debochada.
Então o meu velho amigo Ruy morreu de câncer . Não no pulmão, não na laringe, não no esôfago. Na medula , sem chance. Mandamos coroas de flores , escrevemos para ele no Facebook e, para a nossa surpresa, o filho que não falava há anos com o Ruy respondeu cada um de nós, agradecendo o carinho que tínhamos com o pai dele.
Meu velho amigo Ruy, você e a sua alegria fazem muita falta . Espero que você continue sorrindo onde quer que esteja na sua jornada.
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Fotos: Arquivo Pessoal