Não é novidade para ninguém que diferentes produtos de origem chinesa estão invadindo os mais variados mercados. No caso do setor do motociclístico brasileiro, está ocorrendo este mesmo processo, pois já existem por aqui mais de dez marcas sendo vendidas.
No último Salão de Motos, realizado em junho em Porto Alegre (RS), já foi possível observar de perto vários estandes exibindo produtos fabricados na China, de capacetes até motocicletas.
Dentre os expositores de equipamentos asiáticos, destacava-se o estande da Traxx, ou Moto Traxx da Amazônia Ltda., com sede em Fortaleza (CE), que é a importadora das motos e peças oriundas da China Jialing Industrial Corp., uma das maiores fabricantes de motocicletas do país emergente.
A Traxx já conta com algo próximo de cem revendas espalhadas por todo o Brasil, sendo cinco no Rio Grande do Sul, e está construindo uma fábrica na Amazônia. Atualmente, comercializa cinco modelos de motos, todas de baixa cilindrada, de 50cc a 125cc.
Com o apoio da Traxx e da Sulmotor, revendedora exclusiva da marca, localizada na região metropolitana de Porto Alegre, pegamos uma Fly 125cc para uma avaliação dinâmica e de campo.
A primeira questão que se pôs à nossa frente foi como categorizá-la e como caracterizar seu público-alvo, a fim de melhor adequarmos nosso ponto de vista sobre a moto. Embora tenha um aspecto nitidamente “trail”, seu pequeno motor que gera 9,26 cv a 8.500 rpm com torque de 0,8 Kgf.m a 8.000 RPM não suportaria uma aventura sequer medianamente radical.
No entanto, os consagrados motores de 125cc são muito econômicos e resistentes, fator que poderia sugerir que ela fosse boa para o uso urbano. Algumas publicações classificam esta moto, assim como suas concorrentes, como “trail-urbana”, mas acreditamos que para trail nem pensar.
Ela é uma moto que enfrenta todo tipo de terreno urbano, com resistência. Para ficar mais claro o conceito, seria a moto ideal, por exemplo, para um motoboy cruzar os buracos das nossas ruas, paralelepípedos, subir em calçadas e rampas, andar em ruas de chão batido, passar com mais facilidade por ruas alagadas, entre outros tantos tipos de obstáculos, inerentes a uma cidade.
O público-alvo desta máquina se caracterizaria por ser jovem, masculino e também feminino, dado o estilo jovial e fora de estrada, seu baixo custo, desempenho e por ser voltada para quem quer utilizá-la como instrumento de trabalho ou meio de condução entre casa, trabalho, escola, etc. Uma pessoa jovem que procuraria nesta moto um pouco mais de flexibilidade no andar do que numa tradicional 125cc street e que também gostaria de se diferenciar um pouco, ou pelo menos em alguns momentos, do tradicional motoboy.
Com base nestas premissas é que fizemos a análise do desempenho e do comportamento da Fly no dia-a-dia, sob vários aspectos. Primeiramente, o desempenho de seu motor é compatível com sua cilindrada, nada deixando a desejar para qualquer outra 125cc, nem surpreendendo.
No dia-a-dia, numa rua ou numa estrada, não perdeu, nem levou vantagem em relação às outras 125cc. Um bom item sobre seu propulsor foi a colocação de uma “janela espia” para verificação do nível de óleo. Nos Estados Unidos, a Jialing USA fabrica dois modelos desta moto, um com 125cc, mas também um com 150cc, o que pode representar uma “carta na manga” para a Traxx apresentar em 2008. Aliás, lá ela fabrica motos com mais cilindradas como 200cc, 250cc e até 600cc.
Na estrada, fizemos a Fly chegar até 115 Km/h pelo seu velocímetro, o qual, no entanto, não é muito confiável. Andando por algum tempo em torno de 100 Km/h ele simplesmente “pirou”, perdeu a capacidade de marcar a velocidade e o hodômetro parcial também, em um dado momento, resolveu virar quilômetros por sua própria conta.
O painel de instrumentos é simples, mas funcional. A iluminação do velocímetro, bem como suas cores de ponteiro e mostrador, não oferece boa visibilidade para condução noturna.
Sua ciclística é boa, pois é uma moto leve, com apenas 110 Kg de peso seco, uma vez que tem vários componentes em material plástico, entre eles o tanque de combustível. Não é tão ágil para manobrar quanto uma 125 street por ser mais alta, com 1.170 mm de altura e 270 mm de distância do solo.
Em contrapartida, sua altura, seu garfo e paralama dianteiros elevados e pneu da frente com aro 21 a habilitam a chegar com facilidade onde uma 125 street teria de ser carregada. As pessoas com menos de 1,60 m de altura é que sentirão um pouco de dificuldade para montar nela.
Para ligar, outra novidade. Ela só liga com o “pezinho” levantado e apertando a embreagem. Quanto a apertar a embreagem tudo bem, mas levantar o “pezinho”, embora ofereça uma suposta segurança adicional, dificulta situações em que se deseja ligá-la para aquecer um pouco o motor enquanto se veste luvas e capacetes, por exemplo, em um dia frio.
Por falar em dias frios, o afogador também não funcionou direito e, às vezes, como enfrentamos dias e noites que registraram entre 5º e 10º C, ela teve alguma dificuldade para pegar. Ainda bem que, se a partida elétrica não funcionar, ela pode pegar com pedal de partida de motor que também a equipa.
No andar, a Fly se mostra bem em baixas e médias rotações, mas em altas seu nível de vibração aumenta muito, causando um certo desconforto. A troca de marcha é suave e entra com muita facilidade. Mas irritante mesmo foi o sinal sonoro ativado quando se liga um indicador de direção. Bom que dá para pedir para a revenda desativar este sinal sem nenhum problema.
Este foi mais um item que demonstrou a preocupação com segurança por parte da Traxx, o que é muito louvável. Aliás, o comprador de uma moto Traxx ganha um livro muito bom de brinde chamado “Sobrevivência no Trânsito para Motociclistas”, que traz uma série de dicas muito úteis sobre manutenção e pilotagem defensiva. Excelente iniciativa.
O ponto alto da moto são seus freios. Equipada com freio a disco com pistão duplo na dianteira e disco simples na traseira, ambos com bom diâmetro, sobra capacidade de frenagem, considerando seu peso e desempenho de motor. Ela pára mesmo quando necessário. É só apertar o manete ou pisar no freio que os dois se apresentam muito bem; e considere-se que nos a forçamos mesmo.
Outra característica que chamou muito a atenção foi seu estilo e grafismo. Ela parece maior do que realmente é, seus desenhos são muito bonitos e os vários cromados que possui, até nos retrovisores, lhe dão um toque bem atraente.
Mas foi no andar com garupa que ela literalmente arriou. Seu amortecedor não agüenta bem carregar duas pessoas e aparecem sons de “arrasto” que não conseguimos identificar. Além disso, seu banco muito curto faz com que a garupa fique com o bumbum batendo na armação de ferro do bagageiro traseiro. Muito desconfortável.
No quesito economia, ela se saiu bem, fazendo uma média em torno de 27 a 28 Km/l, apesar de termos forçado bem o seu uso com “punho fechado” na estrada e esticando marchas na cidade.
Por fim, um de seus maiores atributos é o preço, que fica em torno de 20% até 30% mais barato que suas concorrentes diretas, dependendo da região em que seja comercializada. Uma moto de preço acessível, bonita, de boa economia e que pode enfrentar quase todas as dificuldades de tráfego em uma cidade, até aquelas mais inusitadas, esta é a Fly 125cc da Traxx.
Quadro de Avaliação:
Desempenho de Motor (Nota 8): Tem performance compatível com qualquer 125, mas vibra bastante em altas rotações. A “janela-espia” para óleo é um bom acessório.
Painel de Instrumentos (Nota 6): Simples, mas funcional, com deficiência de iluminação. O velocímetro e os hodômetros não se mostraram confiáveis.
Ciclística (Nota 6): Boa por ser leve. Com garupa, apresenta problemas por ter banco curto e o amortecedor traseiro não agüenta muito peso. As vibrações geradas pelo motor em altas rotações causam desconforto.
Freios (Nota 10): É o ponto alto da moto. Com freios a disco com pistão duplo na dianteira e disco simples na traseira, ambos com bom diâmetro, a Fly pára mesmo quando necessário. É super dimensionado, considerando a potência do motor e o peso total da máquina.
Economia (Nota 8): Como o velocímetro e os hodômetros não foram confiáveis, estimamos que ela fez algo em torno de 27 a 28 Km/l, o que é uma boa marca para uma moto tipo “trail” com motor de 125cc.
Preço (Nota 8): Outro ponto de destaque é o seu preço, menor do que o das concorrentes diretas, mas que pode ser ainda mais baixo.
Estilo (Nota 9): Seu estilo agrada bastante, pois tem bonitos grafismos e muitos cromados para uma “trail”, o que a faz parecer maior. Chama atenção por onde passa.
Aspectos gerais (Nota 7): Ela tem bons pontos positivos e vários itens direcionados para a segurança do piloto, mas peca em alguns detalhes, principalmente de acabamento.
Ficha Técnica
Motor: 4 tempos, um cilindro, 2 válvulas, comando OHC e refrigeração a ar
Capacidade cúbica: 124 cm³
Potência máxima: 9,26 cv a 8500 rpm
Torque máximo: 0,8 kgf.m a 8000 rpm
Câmbio: 5 velocidades
Transmissão final: corrente
Alimentação: carburador com válvula de pistão
Partida: Elétrica ou Pedal
Suspensão dianteira: Garfo telescópico com 160 mm de curso
Suspensão traseira: Pró-link com 213 mm de curso
Freio dianteiro: Hidráulico a disco com pinça de pistão duplo
Freio traseiro: Hidráulico a disco
Pneu dianteiro: 2.75 - 21
Pneu traseiro: 4.10 - 18
Comprimento total: 2.100 mm
Largura total: 855 mm
Altura total: 1.170 mm
Distância do solo: 270 mm
Peso seco: 110 kg
Tanque de combustível: 8,3 litros (incluindo 1,3 L de reserva)
Cores: Preta e vermelha
Preço: R$ 6.498,00 (preço sugerido)
Equipe MOTO.com.br
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