Diego Pierluigi: uma crônica de um campeão!

Colunista faz uma análise afiada sobre os pilotos e suas máquinas em mais uma rodada de motovelocidade

Por Aladim Lopes Gonçalves

Giglio Val

Tive a oportunidade de acompanhar no último fim de semana a 3º etapa do Moto 1000 GP, em Brasília (DF), e entre muitas coisas boas, a primeira é má... Vi um circuito abandonado pelas autoridades, que recebe um sopro de vida apenas quando a iniciativa privada dá seu ar da graça... Nada mais.

Aliás, nesta etapa tivemos o deleite de ter Alex Barros todo o fim de semana, e na corrida... Sua tocada de nível MotoGP é de encher os olhos! Valeu Alex!

Com a dinheirama que se arrecada de impostos, nada vai para este circuito que tinha tudo para ser de classe internacional.

Paradoxalmente, ao lado do circuito, está um estádio construído por bilhões para alguns jogos da copa, e ninguém sabe o que será do seu futuro.

Sem comentários...

Conversei exclusivamente com o vencedor da etapa, Diego Pierluigi, argentino, fera e muito boa gente. O bom e velho Giglio foi muito bem recebido pela equipe JC, equipe do Diego, e pude acompanhar o trabalho de nível internacional desta equipe, que também é representante oficial da Ohlims.

A primeira impressão ao chegar nas instalações da JC  foi  de “deja-vu”. Estou na Europa pensei? Minha saudosa Europa, diga-se de passagem. Uma estrutura de competição, Truck, hospitality, boxes etc. coisas que só havia visto em circuitos como Estoril, Mugello, Misano etc.

Colegas amantes da motovelocidade! Estamos evoluindo e crescendo a passos largos! Apenas da colaboração das entidades que deveriam fazê-lo não dá, é a paixão da iniciativa privada que dá conta do recado.

E o piloto? Sim lá está ele no hospitality, relaxando com seus óculos amarelos de homem mosca, e sempre com um sorriso na cara! (bom, dominando todo o fim de semana, pole, vitória em cima de gigantes, recorde da pista... até a minha avó estaria de sorriso aberto!).

O Diego correu pela JC no ano passado, apesar de ter chegado apenas na 3º etapa, foi vice-campeão com várias vitórias... com a desse fim de semana, Diego soma 8 vitórias na categoria, e já é o recordista de vitórias da história do Moto 1000 GP (...história curta, mas intensa).

Estava tudo acertado para que o Diego corresse este ano para a JC, a grade de patrocinadores estava composta, entre outros, a Steck Materiais Elétricos, forte opoio para a permanência do Diego na equipe, como me comentou Daniel Fabbri, chefe de equipe.

Mas eis que há 10 dias do início da temporada deste ano, o Diego recebe convite de patrocinadores e uma equipe do CEV espanhol para correr algumas etapas do Moto2  CEV e depois seguir ao mundial! Barrabás... o sonho de qualquer jovem piloto!

Mas na perseguição deste sonho, outro sonho foi ameaçado... O da equipe da JC em ganhar o campeonato.

Mas ao fim, a equipe entendeu a busca do sonho e foi atrás de alternativas... Substituir Diego Pierluigi de última hora não é nada fácil.

Nesta ocasião o Diego me escreveu sobre o tema e eu lhe disse para seguir seu instinto, mas para ter cuidado, pois neste mundo de promessas da motovelocidade, as carruagens viram abóbora mais rápido que qualquer ZX-10 na reta de Brasília...

Para Diego que pôde testar, andar e correr na Moto2, grande experiência, correu em Valência, Aragon e algumas outras pistas de nível internacional.

Chegou a andar nos top 10 do CEV em algumas corridas!

Me comentou o Diego que o Moto2 é muito complexo... Muitas variantes de ajuste, chegando ao ponto de uma simples mudança de pneus exigir muitas vezes novos ajustes. Diego caminhava para se consolidar no CEV e seguir ao mundial!

Mas o relógio soou! Deu meia-noite, e o encanto começou a se desfazer... Foi dado a ele um chassis 2011 ao passo que seu companheiro tinha um novo. A atenção da equipe igual não era a mesma.

Como o Moto2 evolui de ano para ano em grande velocidade, um chassis 2011 é quase um “calhambeque”! Não era o que haviam prometido...

O dinheiro do patrocinador começou a desaparecer na rapidez que os belos alazões negros se transformavam em ratinhos... Nem o hotel mais estavam pagando para o Diego.  Nosso campeão se viu em uma situação muito difícil e não teve outra alternativa que a não ser fazer as malas.

Ele precisava correr... está em seu sangue. Vale aqui mencionar que o motociclismo da Argentina que já esteve em grandes níveis, e hoje mesmo com a passagem do mundial por lá, está mais por baixo que barriga de cobra! ...poucas etapas e falta dinheiro.

Restava para o Diego o Moto 1000 GP... A princípio ele não se sentiu confortável em procurar a JC sua antiga equipe, companheiros de tantas vitórias... ele sabia que os havia deixado na mão. Mas como disse antes, apesar da dor de ver o Diego partir, a equipe sabia que o sonho não poderia ser abandonado, e as portas nunca se fecharam.

O patrocinador também apoiou seu retorno.

O bom filho a casa retorna! E em grande estilo. Hat Trick em Brasília!

Apesar de ter perdido 2 etapas o Diego já esta em 4º no campeonato e vai pra cima!

Meus agradecimentos a toda equipe pela acolhida, em especial a Daniel Fabbri, Jaime Cristóbal, André (Tomate), Chola, Tiozinho e todos!

Diego, do seu bom e velho amigo Giglio, lhe desejo muita sorte, acelera rapaz!

Giglio Val é engenheiro e administrador de empresas. Fundou o Blog do Giglio (gigliof1.blogspot.com), que trata do mundo das competições. Foi patrocinador principal e manager do piloto brasileiro Danilo Lewis, que correu o Italiano de Stock 600cc Michelin Power Cup em 2011 e o SuperBike no Brasil 2011 e 2012, assim como o WSBK Superstock 1000 em duas etapas em 2012. Destemido, segue em busca de outro talento, e trabalha intensamente no projeto “Brasil no pódio da MotoGP 2015”.


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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