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Reinaldo Baptistucci

Juntos & Separados

24 de September de 2012

Reinaldo Baptistucci

Inverno de 1967, sexta-feira fim de tarde, eu ainda lembro, encosta no portão de casa uma pick-up com um caixote de madeira lambuzado de graxa na caçamba, junto com ele um quadro enferrujado. Saio no portão e em minutos o conjunto está no fundo do quintal ... Finalmente.

No dia seguinte, bem cedo minha mãe vem bater na porta do meu quarto, e não me acha, eu já estava entretido na garagem vendo se não faltava nada. Motor, Tanque, Rodas, Para-Lamas, Coroa, Corrente, Pinhão ... Mas e o Escape?

Nesse momento entra meu pai:

- Reinaldo, o que é isso ?!?!

EU: - Uma JLO.

Meu pai: - Hummm ... Interessante ... Mas e esse cano de alumínio?

EU: - É do aspirador de pó da mãe ... ele vai virar um escape.

Meu pai: - Eu acho que ela não vai gostar !!!!

EU: - De ter comprado uma moto ??? Ou de usar o cano de alumínio ???

Ele: - Dos dois ...

EU: - E você ???

Antes que ele respondesse a minha pergunta, entra minha mãe na garagem com um copo de Toddy na mão, e olha para os dois e pergunta ???

- Você já escolheu a cor ???

EU: - Não.

Ela: - Vinho ........ Não, não vai lembrar a JAVA ... Melhor preta.

Demorou um Ano para eu dar a Partida na JLO e eu não tenho se quer uma foto dela.

 

Karin Birgit Stoecker

Mais uma vez:  JUNTOS & SEPARADOS

Chego em casa e meus dois filhos Antonio & Walter dizem:  “mãe precisamos conversar” – “claro, o que foi?” sentamos ao redor da mesa da sala de jantar e eles me comunicam: “Compramos uma Moto.” –  “sério? Que legal!” – eles: “Mãe presta atenção quando agente fala com você!” –  “Sim estou prestando atenção! Eu entendi, vocês compraram uma Moto - Legal. Agora..... PEEELO AMOR DE DEUS, tomem muito cuidado com esse trânsito de São Paulo.  As pessoas não costumam olhar nos espelhos, na dúvida nunca ultrapassem, nas curvas cuidado com areia, buracos, bueiros e óleo na pista. Andem sempre com muito cuidado!”

Eles: “Mas Mãe! Você nunca andou de moto, como é que você pode saber disso tudo?!”

 “Quem disse que eu nunca andei de Moto?” e ri!!! “Vocês sabiam que comecei a andar de moto aos 16 anos numa Harley 125 que era do pai de vocês? Lá em Jacareí. Em ruas de terra? Andei de moto até aos 25 anos quando levei o Antonio para passear, ainda pequeno na minha NX 150 Preta da Honda e a Vovó nos pegou no flagra ao sair do portão de casa na Rua Florida. Ela teve um treco e me fez vender a Moto. Choreiiiiii ao vender minha menina com a qual trabalhava todos os dias. Mas era pela Família, por vocês. De lá pra cá nunca mais subi numa moto.”

Filhos: “sério?” –  Agora curiosidade de mãe: “e onde é que vocês aprenderam a andar de moto? Eu não ensinei e nem incentivei vocês.”  A resposta foi: “O Walter em Jacareí e depois ele me ensinou a andar na XLX 350 de madrugada pelo bairro!” – “Com a aquela XLX 350, partida no pedal, cara – vc foi aprender a andar justo com aquela moto pesada? Meus parabéns!!!!!”

Percebi que a Paixão estava realmente no SANGUE! Meu Pai andava de moto na Alemanha, quando garoto e também voltou a andar no Brasil depois da 2º Guerra Mundial. Eu aprendi escondida dele, a pilotar.  Aprendizado esse com direito a tombos, raladas, sustos, mas sem quebradeira. SORTE!!!

Passou um tempinho e eu apareço depois de 22 anos com uma Tornado, toda Branquinha, Lindíssima. Um Brinco! Feliz da vida eu comunico aos meus filhos: “Meus amores, mamãe comprou uma moto!”

Eles: “O que? Você ficou maluca? É muito perigoso, você não tem mais experiência e tem um lance... Você já tem certa idade, e velho quando se quebra não remenda tão rápido! – Eu: “O que? velha? Que falta de respeito!!!!” rindo do comentário. “Não sou Velha, sou madura. E tem uma coisa importante que preciso falar: Eu sempre fui apaixonada por moto. Vocês estão crescidos, encaminhados, dois adultos e podem muito bem viver sem a mãe, por isso eu me darei de presente à volta. Vou voltar a andar de moto!”

Passei a encarar São Paulo, mas de madrugada, (igual do Antonio) pois precisava me sentir segura e automatizar paradas em cruzamentos, freadas bruscas e muito equilíbrio na moto andando bem devagarzinho. Ou seja. Para andar nessa Carnificina em São Paulo no mínimo preciso dominar a minha menina de olho fechado! Deixar fluir: Instinto com bom senso e muito, mas MUITO alto controle!

Já se passaram cinco anos. Meus filhos, indo de moto todos os dias, fizeram suas faculdades. Um até o Pacaembu e outro até o centro de Sampa. Todo dia! E eu agradeço a Deus por poder ouvir a campainha e o tão desejado: “OI MÃE!!! Cheguei!!!” Palavras doces,  pois eu sei o que eles enfrentam.  Quando levo uma fechada, um susto e até chingamentos no trânsito, por fazer as coisas mais devagar ou com cautela, penso no que meus filhos estão passando! Penso nesses jovens que também andam de moto, cujas mães em casa se preocupam, mas que verdadeiramente não imaginam o que eles passam. E é bom não saber.  Dá arrepio na espinha!  Nós viajamos juntos quando dá! A união e parceria são indescritíveis, guardo cenas em minha memória dos meus filhos me protegendo, rindo pra mim no meio da neblina da madrugada em plena Rodovia Ayrton Senna, chuva e nós felizes! Guarda Rodoviário parando a Falcon do Walter e controlando os documentos a caminho de Leme. Foi engraçado, pois imediatamente Reinaldo e eu paramos juntos com o Garoto sem desligar as motos e sem tirar o Capacete. O guarda pergunta ao meu filho:  “quem são eles?” - Walter: “É minha mãe com o namorado...marido dela!” Guarda: “Ohh garoto, namorado ou marido?” Walter: “sei lá, hoje em dia tá tudo confuso!” O Guarda sorriu e deixou meu filho seguir viagem com a condição de trocar o pneu traseiro.

É assim que funciona uma Família completamente apaixonada por motos. Estamos JUNTOS, mas SEPARADOS.

Abraços aos Irmão Estradeiros.

Reinaldo Baptistucci, mais que um motociclista, contador de histórias e profundo conhecedor do mundo das duas rodas, é um verdadeiro apaixonado por viagens e aventuras pelas rodovias do país e nações vizinhas.

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