Foi fatal
Colunista comenta as imagens do dia a dia e faz um RAIO-X dos acontecimentos
Por Aladim Lopes Gonçalves
Por Aladim Lopes Gonçalves
Reinaldo Baptistucci
Quinta-feira, 7h da manhã, garoa forte, chego na padaria que está cheia pra variar, procurando um cantinho na rua e no meio de um mar de carros consigo estacionar a Suzy inclinada, desligo o motor, abro o zíper da jaqueta, tiro o capacete e entro no recinto procurando uma mesa, sou cliente antigo e o pessoal já me conhece, dou sorte, tem um canto vazio bem de frente pra Teve, que no Canal de sempre e já adiantado mostra o trânsito carregado nas Avenidas de São Paulo.
- Bom dia, pão na chapa e um pingado.
- Helena (ela anda de moto), a moça que serve, anota o pedido e comenta - Hoje está cruel, essa garoa é de matar!
O noticiário na TV é ágil, carregado de emoção, com muita informação e uma incrível agilidade de imagens que não param de desfilar na minha frente, mas a padaria é um lugar de passagem, gente que veio de carro, ônibus, metro, trem, e até mesmo a pé esta ali, para mais um dia de luta, mas noto que poucos percebem o que a reportagem esta mostrando.
Lá de cima, bem lá do Alto, muito além do topo dos prédios, uma imagem se define aos poucos na tela, e nela cabe o Brasil todo, um acidente, mais um acidente, parece que sim, a imagem esta um pouco distorcida, garoa forte, e o helicóptero muda de posição para um melhor ângulo dando ZUMMM na lente, sim ao que tudo indica um monte de ferros retorcidos bem no meio da pista, o transito esta parado, um minuto de indecisão, foi ou não foi um grave acidente, o piloto do rotativo confirma: SIM e COM VÍTIMAS.
A padaria nessa hora trepida de gente, passa cafezinho, suco de laranja, iogurte batido, e da chapa sai uma dezena de pãezinhos tostados. Na TV acaba de chegar por terra o Motolink que de perto, bem de perto, mostra a cena configurada e em detalhes não vistos. Lá do alto meu coração GELA, tem alguma coisa embaixo de um dos carros envolvidos na batida e um fluido escuro escorrendo pelo chão, identifico na hora, é uma Moto, e um espelhinho quebrado no canto da imagem confirma meu acerto, engasgo com o pão que está em minha boca.
Alguém passa do meu lado e vendo meu capacete em cima da mesa comenta a notícia e pergunta É MOTO, NÃO É? Viro o corpo para responder, nessa hora entra o comercial, e automático balanço a cabeça e respondo: FOI FATAL.
Sexta-feira, 7h15 da manhã, com tempo seco chego na padaria que está cheia pra variar, procurando um cantinho na rua e no meio de um mar de carros consigo estacionar a Suzy inclinada, desligo o motor, abro o zíper da jaqueta, tiro o capacete e entro no recinto procurando uma mesa, na TV e no Canal de sempre mais uma vez a cena se repete, mais um acidente, mais uma Moto envolvida e mais uma vez: FOI FATAL.
Sábado, 8h da manhã, hoje não tem padaria e nem TV, ligo a Suzy e vou pra estrada. No caminho o trânsito para. Desviando com cuidado passo ao lado de uma violenta batida. Tem um cara esticado no chão e uma moto retorcida. Não foi legal, na verdade FOI FATAL.
- DEDICADO A TODOS OS CICLISTAS/MOTOCICLISTAS, QUE PILOTAM DIARIAMENTE.
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