Não foi por acaso que Reinaldo Baptistucci ficou algumas semanas sem escrever sobre as suas viagens e experiências adquiridas a bordo de uma motocicleta. O estradeiro do MOTO.com.br estava numa aventura com destino à Península de Maraú, na Bahia, a qual teve duração de 23 dias.
De volta a São Paulo, o paulista de 56 anos preparou a primeira parte desta recente jornada, relatada aqui com exclusividade:
Finalmente deu meia noite do dia 22 de janeiro, liguei a HD que já estava pronta e equipada para mais uma viajem. Chovia fraco e a minha maior alegria era saber que passaria a madrugada na estrada.
Saí mais uma vez, como sempre faço, lentamente rumo ao Rio de Janeiro, via BR 116, fazendo conta para chegar logo pela manhã à avenida Brasil. No caminho a chuva apertou muito e o spray dos caminhões, que passavam roncando ao meu lado a 90 km/h, transformou o trecho em um túnel obscuro, varado pelo farol da moto.
Amanheceu e eu já estava próximo do meu primeiro objetivo, passar a ponte Rio-Niterói. A placa indicava Rio Bonito e Campos a 250 km. Trocando marcha e andando com cuidado, fui levando a minha gata que, obediente, respondia aos meus comandos.
Fim do trecho duplicado, entro finalmente na BR 101, que no Estado do Rio está um tapete Persa: lisa e com o visual verdejante das encostas e montanhas. O povo das quatro rodas anda a milhão, fazendo coisas que até Deus duvida e o diabo adora, ultrapassagens alucinadas e muita gente dormindo ao volante.
Os motoristas transformam essa rodovia em uma roleta russa perigosa, mas eu não sabia da maior. A chegada a Campos (RJ), que sempre foi tranqüila, dessa vez me pregou uma peça, com a ponte caída e sem sinalização adequada. Gastei um tempo precioso, fiquei perdido, quase fui parar na praia e só consegui sair do apuro graças à ajuda de um motoboy.
Adeus, Rio! Já estou em terras capixabas com a BR 101 em bom estado e trânsito carregado. Meu destino era Linhares e a divisa da Bahia. Andando a 90 km/h e de olho nas transversais, segui tranqüilo apreciando a paisagem extremamente bela nesta região, com um visual único da Pedra do Frade e da Freira, já bem próximo de Cachoeiro de Itapemirim.
Enfim, esse primeiro dia rendeu e fui parar, já à noite, bem próximo de Pedro Canário, com o hodômetro da HD computando 1256 km rodados.
Quatro da manhã do dia seguinte. Entrei na agora incrivelmente esburacada BR 101, e andando com muito cuidado fui desviando de todas as crateras que apareciam pela frente. Para preservar a moto, não colava na traseira dos caminhões, pois um simples vacilo poderia fazer a máquina estourar facilmente. No trecho de Itamaraju até Eunápolis, em particular, as coisas pioraram muito, ficando quase impraticável olhar a bela paisagem.
Bem antes de chegar a Porto Seguro, passei e parei na reserva indígena da tribo dos Pataxós, localizada no sopé da montanha do Monte Pascoal. O acesso é feito inicialmente por um trecho asfaltado, seguido de uma estradinha no meio da mata fechada — com milhares de espécies de flores e pássaros — e, após 10 km, mais uns 2 km a pé.
Cheguei à aldeia acompanhado do conselheiro da tribo, um índio de nome Tupumuju (madeira boa para construção de canoas), e por incrível que pareça ele lembrou que em 2003, com uma Falcon 400, eu tinha passado por lá para comprar colares de semente de Pau Brasil. E vai aí uma dica: vale a pena conhecer o local.
Saí de Porto Seguro, estou indo para Camamu e à Península de Maraú, com um trecho variado entre retões e os já habituais e perigosos buracos. No caminho, vacas e cavalos atropelados, fontes de água e o visual de mata densa, além de muito cacau plantado.
A chegada a Camamu foi tranqüila. De lá peguei uma linha para Cajaiba, que de barco fica a uma hora e meia de viagem, marcada por manguezais preservados e ilhas cravejadas de dendê e coqueiros.
O relato da aventura continua na próxima semana.
Reinaldo Baptistucci viaja com apoio do MOTO.com.br e da EBC BRAKES.