Duas asas, duas rodas e quatro velas II
Confira a segunda parte da mais recente aventura do veterano estradeiro pelo Brasil.
Por Leandro Alvares
Por Leandro Alvares
O tempo estava péssimo, sem dúvida um verdadeiro lixo, perigoso e arriscado para continuar voando. Seria loucura tentar varar as nuvens baixas, por isso Pouso Alegre (MG) foi a melhor opção encontrada naquele momento e para lá fomos e pousamos o pequeno aeroplano.
Nessa mesma noite fomos consultar o Metar, que dava a situação do tempo para o dia seguinte. Estava claro que seria impossível ir direto para Porto Seguro (BA), a solução era irmos para Belo Horizonte e esperar o tempo melhorar — foi o que fizemos. Após três dias, finalmente avistamos a costa baiana, com um sol forte e mar azul anil.
O GPS indicava o caminho e dava a distância que faltava para finalmente pousarmos em Barra Grande, numa pista de terra com 1.500 metros de distância, um pouco acidentada e com muitos coqueiros na cabeceira, para apimentar um pouco mais.
O vento era de través, e o Skylane vinha caranguejando. Lembrou muito uma curva de alta que fiz de moto, vinha forte e quando entrei percebi a tremenda burrada, pois a motocicleta começou a escorregar e sair da trajetória. Para piorar, na outra mão vinha uma carreta carregada.
“Boa tarde, Zezinho, como vai você e a princesa Anabel I? Posso entrar a bordo”, indaguei logo na chegada. A escuna boiada era um primor, nem parecia que tempos atrás eu tinha perdido muitas noites de sono preocupado com uma lista infinita de itens, todos importantíssimos e indispensáveis, mas essa historia já pertencia ao passado.
Nosso objetivo agora era velejar com a escuna e tentar melhorar o máximo possível o içamento das quatro velas. Para isso foram instalados mordedores potentes e uma parafernália de roldanas para dar conta do recado.
Com uma Honda NXR Bros 150, fui por estradinha de terra e areia solta com destino ao Arraial da Aldeia Velha. Confesso que estava me sentindo nas nuvens, que delícia poder navegar com a motinha no meio de tanto verde e uma verdadeira floresta de pés de cajueiros que em novembro estavam no ponto de colheita.
Acostumado com a pesada Suzy 1500, a Bros parecia mais uma bicicleta, fácil de tocar e com uma agilidade surpreendente. Lembrou também o monomotor, que arisco respondia na hora a toda e qualquer manobra solicitada.
Sábado, 14h, as canoas já estavam enfileiradas para a regata e procissão até Ponta de Caieira, muita agitação em Cajaiba do Sul, os mestres davam os últimos ajustes nas velas, as tripulações já estavam prontas e um certo nervosismo pairava no ar.
As canoas preparadas representavam os povoados de Tanque e Barcelos, a disputa ia ser acirrada, ninguém queria chegar atrás. Ali bem na minha frente o tempo mais uma vez voltou aos primórdios e eu em particular estava assistindo de camarote a um evento que no mínimo tinha 100 anos de tradição, uma autêntica regata de canoas.
No mar, asas brancas enfeitavam a paisagem. A uma velocidade estonteante, elas passavam por mim, que de bote inflável mal conseguia acompanhá-las. Verdadeiras “speed” feitas em tupumuju e jataipeba, inesquecível e emocionante ver e poder registrar um momento histórico em pleno ano de 2008.
Ao vencedor foi dado um troféu, uma réplica perfeita de um Saveiro de Pena. Para a canoa vencedora, um banho de cachaça do Porto do Campo, e tome cerveja até anoitecer. Festa simples, mas regada de tradição Sul Baiana. Foi o que vivemos e aprendemos com os velhos marinheiros dessa região, que dão aula de graça de sabedoria e humildade.
Voar, pilotar e navegar é um prazer que está ligado por uma só corrente, a da emoção. Impossível explicar, muito mais fácil vivenciar.
Clique aqui para ver a primeira parte desta coluna.
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