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Reinaldo Baptistucci

Duas asas, duas rodas e quatro velas

03 de December de 2008

Meu celular tocou, parei a moto em plena Marginal Tietê e atendi. Era o Vander avisando que já estava marcada a data da nossa saída de São Paulo para o sul da Bahia.

Eu em particular não estava muito interessado em viajar de avião para Barra Grande, lógico que eu dava preferência em ir de moto, mas fazer o quê? Não era uma opção de lazer, mas sim de trabalho.

Teria que passar em Cajaiba e rever a Escuna Anabel I, que estava sofrendo uma transformação em seu layout interno. “Bom dia”, respondi. E logo saí perguntando: “Como é, você verificou o óleo e o nível de gasolina azul, calibrou os pneus, as pastilhas de freio estão OK? Veja bem, afinal lá de cima nós não temos postos de atendimento ao público”.

A responsabilidade de se ter um equipamento perfeito é obrigatória, pois caso contrário um parafuso mal apertado pode ser determinante para um eventual pouso forçado, e eu estou acostumado a viajar sem emoção.

Logo de cara acompanhei o Vander na inspeção do monomotor Skylane, que possui um propulsor de 275 cv, giro de cruzeiro a 2.500 rpm com velocidade média de 275 km/h. Um avião miúdo, porém com fama confirmada de muito valente.

Motor acionado, o painel todo se acende e se movimenta, a torre confirma o pedido de levantar vôo com rota traçada, saindo de São Paulo com destino a Porto Seguro (BA). Seriam seis horas e meia de viagem em altitude média de 7.000 pés.

A meteorologia avisava que o tempo para aquelas bandas não estava muito bom e que a rota alternativa seria fazer a primeira perna até próximo a Belo Horizonte e aí sim colocar a proa para o mar baiano.

O giro sobe rápido e os freios são soltos, em poucos segundos já estamos acima dos 130 km/h, exatamente igual a qualquer moto speed puro sangue. Aliás, por falar em velocidade, seria fácil colocar uma asa na Yamaha R1 e vê-la decolando na Marginal Pinheiros.

Vander ao comando olha para mim e torce o nariz. As coisas não iam muito bem, o teto estava colando nas montanhas, com chuva ameaçadora a nos rodear. O GPS indicava a cidade de Caxambu a 4 minutos na proa, local ideal para pousar, pois estávamos cercados por nuvens negras. Mas por incrível que pareça tivemos que voltar, procurando uma nova opção, no caso Pouso Alegre (MG).

Nossa viagem no primeiro dia acabou ali e por precaução, após o pouso para lá de turbulento devido a fortes rajadas laterais, resolvemos amarrar o avião no chão.

Esse primeiro trecho lembrou muito uma viagem que fiz para o Chuí (RS), com tempo fechado, chuva e ventos fortíssimos que me obrigavam a ficar o tempo todo brigando com a moto para se manter na estrada.

Em breve, o segundo capítulo desta aventura.

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