Bons tempos e bons ventos - Parte 1

Colunista viaja para Chapada Diamantina (BA) e Chapada dos Veadeiros (GO), um roteiro incrível de moto

Por Leandro Lodo

Reinaldo Baptistucci

Em 2001 fiz uma viagem até Natal (RN) com uma XT 600, naquela época eu estava testando não só a moto, mas também o Pneu Pirelli (MT 60) para a revista Moto e Técnica, lembro que rodei 10.000 km, numa tacada só, não era lazer, era isso sim, trabalho e somado a ele a responsabilidade de trazer a moto intacta até São Paulo. Isso aconteceu, cheguei feliz da viagem e a Yamaha XT 600 Imunda.

O tempo passou e daquela viagem de 2001 dois locais ficaram guardados na parede da minha memória, a Chapada Diamantina (BA) e dos Veadeiros (GO). Quem já foi sabe do que estou falando, lugares incríveis e com um astral fora do comum. Foi daí que incluí as Chapadas no meu roteiro básico para o fim do ano de 2011, que já se aproximava e eu entraria de férias, aliás, merecida.

Boa tarde Reinaldo, do outro lado da linha Claudio Bessa, da Garage Code, me passa a informação: a GUZZI ta pronta, pode vir buscar! Foi uma tremenda correria, meu tempo em Sampa estava acabando e eu ainda nem mala tinha feito. Faltava juntar toda a tralha que estava espalhada pelo chão do meu pequeno AP, tinha sido um ano difícil, muito trabalho e pouquíssima diversão, exceto as costumeiras viagens com a Guzzi para Santa Fé do Sul (SP), Bahia, MS e GO.

Ai..Ai, porém antes da partida teria que pensar com calma e refletir sobre uma proposta que havia recebido dias antes, era para mim um abacaxi que teria que descascar sem faca. Seria bom, quem sabe, mas por outro lado eu poderia estar amarrando meu jégue no coqueiro errado e o assunto em questão estava atrelado a mais uma moto que subiria para o Nordeste comigo, e quando se trata de viajar com mais alguém, principalmente se esse alguém vai de moto também. Nunca se sabe o que pode rolar nas BR’S da vida, a responsabilidade, querendo ou não sempre aparece.

Eu estava “encucado”, depois de 39 anos viajando sem a preocupação de ter que ficar olhando para o espelhinho pra ver se lá atrás vai tudo bem. Senti que se a resposta fosse sim, a viagem iria ser totalmente diferente. Passei um dia pensando no assunto e não cheguei à conclusão nenhuma, mas de alguma forma eu já sabia que viajar com parceiro é as vezes um problemão e fica simples entender esse fato, pois sozinho, você não tem que dar satisfação a ninguém e melhor você roda na sua velocidade, para onde quiser, come e dorme aonde quer e principalmente, viaja a noite sem se preocupar com quem vem atrás ou pior quem vai à frente e não vê no breu da noite um tremendo boi parado no meio da pista, confesso que demorei pra dar a resposta.

Toca o celular, do outro lado da linha meu futuro parceiro pergunta: E aí vamos nessa? Que dia saímos de Sampa? E já vai informando....A minha GS 650 ta pronta , to levando ferramenta e graxa pra corrente. Olha, deixa eu te avisar Reinaldo, comprei um mapa rodoviário novinho, mas tô pensando em colocar um GPS, o que você acha? Eu do outro lado da linha só escutando, mapa, GPS, mas o quê me interessava mesmo não chegava aos meus ouvidos... Autonomia e RPM de Cruzeiro, e pensei, vai saber se o tal parceiro não anda a milhão na pista barbarizando os caminhoneiros, transformando a viagem que deve ser tranquila numa tremenda roleta russa.

Ainda ao telefone...

Parceiro: Você vai levar abrigo de chuva?

Eu: Não! Mas já aviso, eu não passo dos 110 km/h, ok? Tudo bem nos 100 km/h?

Parceiro: Mas duvido que você já esta com a Rota traçada?????

Eu:Mais ou menos, vai depender das estradas, chuvas , ventos e buracos, nessa época do ano o trecho é meio complicado.

Parceiro: Quantos dias nos vamos ficar batendo lata? Eu tenho uns 35 livres.

Eu: No mínimo 30 e sem a menor pressa.

Parceiro: Diz aí, vamos subir até que cidade? Sabe quantos KMS de ida e volta vai rolar?

Eu: Tô pensando em ir ate Aracaju e depois despencar pras Chapadas, isso vai dar no mínimo 5500 km, essa é a ideia inicial, porém o trajeto poderá ser alterado conforme você quiser também, não to preocupado com destino, o que quero mesmo, só pra variar, é rodar muito de moto, entendeu?

Parceiro: Ok! tá dito, podemos partir então na madrugada do dia 23 para o dia 24 de dezembro.

Eu: Ótimo respodi, passaremos o Natal na estrada, um belo e merecido
presente, gostei, tá fechado!

Desliguei o celular com o coração apertado, depois de tanto tempo vou rodar com um parceiro, na verdade seria muito mais que uma simples viagem, seria compartilhar tudo, motos, estradas, ultrapassagens, curvas, buracos, chuva, graxa, poeira, botecos, muitos kms e retões sem fim. Senti um nó na garganta, nessa noite juntei toda a tralha e fui dormir, sonhei com o Marinho e sua SUZY GT 550 dois tempos, e já sabia que faltava pouco, pra GUZZI se encontrar com a GS e partir.

É Madrugada, ligo a GUZZI e o motor ronca nervoso vibrando mais que um guizo de cascavel embaixo das minhas pernas, o V2 é poderoso e treme mesmo. Já a GS mais parece uma bomba d’água (um verdadeiro monocilindro). Em rotação reduzida, dá prá sentir a vibração das duas motos no piso de concreto, uma sinfonia que é pura música aos meus ouvidos... tum tum tum tum .... tam tam tam tam ...clam clam clam clam ... clak clak clak clak.

Espeto primeira e saio devagar, a GS me acompanha com suavidade, teríamos um dia todo para acertar e ajustar as arestas. Era só o começo, dou pisca e entro na pista com destino a Sergipe e um Everest de pedágios, finalmente vamos rever as estradas.

Reinaldo Baptistucci, mais que um motociclista, contador de histórias e profundo conhecedor do mundo das duas rodas, é um verdadeiro apaixonado por viagens e aventuras pelas rodovias do país e nações vizinhas.


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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