Panela velha é que faz comida boa

Yamaha Ténéré, moto de alma nascida no deserto, desperta até hoje paixões entre os motociclistas.

Por Leandro Alvares

S. Correa

O ano era 1988. Nas ruas, das motos nacionais 4 tempos de maior cilindrada só se viam as “novas” CBX 750, as CBS 400/450 e as XLS 250/350, da Honda.

De repente, eis que vejo uma motocicleta grandalhona, com um tanque azul que mais parecia uma corcova de dromedário, com os dizeres Ténéré 600. Pronto, nascia uma longa relação com esta máquina, que até hoje desperta paixões entre os motociclistas.

Sim, atualmente tenho uma Ténéré — já é a minha terceira —, cujo motor agüentou mais de 200 mil quilômetros rodados até pedir uma retífica.

Colocado este pequeno pano de fundo, pode-se dizer que a Ténéré 600 foi um modelo que deixou saudades entre seus possuidores. Com um motor de 595cc de forte torque, mecânica simples e confiável, autonomia de fazer inveja à quase todas as motos nacionais (22 litros ou mais), posição de dirigir confortável, ela foi a primeira grande moto nacional 4 tempos da Yamaha.

É versátil tanto para um trail leve ou estradas de terra, como para encarar longas viagens em estradas asfaltadas, atingindo velocidades de cruzeiro razoáveis a 120/130 km/h. Em velocidades maiores, não chega a “abanar” como algumas XT 600 e até algumas 660 mais modernas. Não me perguntem o porquê, talvez seja uma questão de cáster, trail, suspensões, etc.

Com as primeiras Ténérés, tinha-se a certeza de que o proprietário raramente ficaria parado na rodovia ou em um atoleiro, pois elas não perdem o centelhamento da vela. Contam com pedal de partida auxiliar (modelo com um farol), caso a bateria ou a partida elétrica resolva “morrer” de vez.

Com média de 18 km/l, você pode abastecê-la 400 e tantos km depois do primeiro posto em que parou inicialmente. Na cidade, passa tranqüilamente entre os carros, tomando-se apenas o cuidado com os espelhos dos veículos mais altos. Passa incólume por buracos, lombadas e guias de calçada.

É claro que nem tudo é perfeito. Como pontos fracos, pode-se citar que é uma moto barulhenta e “vibrante”. Quem está acostumado com a docilidade de motores dois/quatro cilindros em linha, vai odiá-la.

O sistema de partida sofre com a grande compressão que o motor produz, ocasionando desgastes/quebras, cujos custos tornam quase inviáveis o conserto. Os freios são insuficientes para se parar como se deve. É pesada e alta. Atualmente, com a Internet, encontram-se soluções no exterior para se fugir da facada das autorizadas Yamaha.

Aliás, esse é outro grande defeito dela. A própria Yamaha, que pena, uma das primeiras indústrias nacionais de motos, ainda não deu o devido valor ao mercado brasileiro. Parece que está mais focada em vender instrumentos musicais.

A relação custo x benefício está se tornando relativa, pois as mais conservadas estão com preço inflacionado e, como já dito, para “levantar” uma Ténéré hoje como se deve, em termos de mecânica, pode-se chegar a 50% ou mais do custo de aquisição.

Mas alguém podem falar: “A Ténéré é moto de museu, hoje tem a XT 660 mais moderna, com comando de válvulas roletado, refrigerada a água, injetada, etc”. Realmente, ela é uma velhinha, mas colegas, eu já tive a 660 e posso dizer: ela anda muito, mas muito mesmo. É bonita e moderna, mas não tem a mesma alma nascida no deserto, simples e robusta, como é a da Ténéré.

O “motonauta” S. Correa participou do Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br. Para mandar sua notícia, clique aqui.


Fonte:
Moto Repórter

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