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O que fazer quando "levar um chão"?

04 de January de 2013

Leandro Lodo

 

Que piloto de motocicleta nunca caiu? Independente do mundo que ele pertence, Motocross, Supermoto ou Motovelocidade, “levar um chão” é quase inevitável. Principalmente em esportes como estes onde há uma busca incansável por melhores resultados, que quase sempre, se resumem em reduzir o tempo de volta do traçado.

Devido a grande experiência dos pilotos e a alta tecnologia e qualidade empregada nos equipamentos, na maioria das vezes, o piloto mal acaba de cair e já está se levantando para ver se a moto ainda está funcionando para voltar à pista. Porém, nem sempre é assim. Além disso, mesmo que aparentemente o piloto esteja bem, algumas medidas preventivas devem ser tomadas para assegurar a saúde do piloto.

O fato do piloto se levantar e andar pode ser interpretado pelo diretor de prova que ele está bem. Porém, é importante que o piloto passe algumas informações sobre seu estado para o resgate ou para a equipe de apoio, por exemplo, estou bem, preciso de ajuda ou não preciso de ajuda, pois o médico depende da autorização do diretor de prova para entrar em pista e iniciar os procedimentos.

Segundo o Dr. Marcos Korukian, médico responsável pelos primeiros socorros aos pilotos do Moto 1000 GP, pela alta frequência com que estes acidentes ocorrem, a prioridade no atendimento e nos cuidados com o piloto acidentado são com lesões de vias aéreas, lesões de cabeça e lesões de pescoço. “O atendimento inicia com a observação de cada movimento, a simples observação da cena do acidente traz ao médico informações úteis de possíveis traumas ou lesões adquiridas mesmo antes da queda”, afirma Dr. Korukian.

Diferentemente de outras modalidades esportivas, existem certas particularidades na abordagem do piloto de motovelocidade acidentado, especialmente relacionadas aos equipamentos de segurança que tornam o acesso às vias aéreas e a coluna vertebral mais difícil e ainda podem agravar ao quadro caso algumas medidas não sejam tomadas. Por exemplo, devido ao “cupim”, o pescoço deve ser aparado com a mão e posteriormente imobilizado, mas o procedimento não é tão simples assim.

Dr. Korukian explica que “após a retirada do capacete, coloca-se o colar cervical e os Head Block (suportes laterais), mas como tem o cupim, a cabeça não fica apoiada na prancha rígida. Então, colocamos  um bloco/travesseiro, para apoiar a cabeça. Já que a cabeça não chega à prancha, fazemos um calço para levar a prancha até a cabeça e  oriento sempre o meu assistente a manter a estabilização da cabeça e da coluna cervical com apoio das mãos para evitar a lateralidade (movimento de rotação do pescoço), já que  os tirantes que irão apoiar a testa e o queixo vão estar curtos porque levantamos a cabeça”.

Outro ponto importante é o bom atendimento, que pode exercer grande diferença na evolução clínica e evitar sequelas ao piloto acidentado. Dr. Korukian alerta que o atendimento deve seguir uma ordem de prioridade: (A) vias aéreas e controle da coluna cervical, (B) respiração e ventilação, (C) controle de hemorragia, (D) avaliação neurológica e por fim (E) exposição, despir o paciente para melhor avaliação. Além disso, por ser um esporte que gera acidentes com alta energia, o piloto deve sempre ser posteriormente avaliado por um médico de confiança para excluir lesões de baço e fígado, que podem apresentar sintomas até uma semana após o acidente.

Porém, o atendimento deve ser feito sempre por um médico ou socorrista. Dentro de um circuito fechado, há uma obrigatoriamente do apoio de uma ambulância e um médico. Mas, caso o acidente acontece fora desse ambiente, o ideal é que seja acionado o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o SAMU, através do número telefônico 192.

Dr. Korukian ainda complementa que, nesses casos, enquanto não há médicos ou socorristas, somente se deve mexer no acidentado quando este estiver em um local de risco iminente ou quando a sua postura estiver obstruindo as vias aéreas, pois o quadro pode ser agravado caso os procedimentos corretos não sejam tomados. Além disso, mesmo que após o acidente aparentemente esteja tudo bem, passar por uma avaliação médica é sempre recomendável.


Dr. Marcos Korukian

Mestre em Ortopedia e Traumatologia pela Universidade Federal de São Paulo

Doutor em Medicina pela Unifesp Universidade Federal de São Paulo

Coordenador Médico do Hipismo nos Jogos Pan Americanos Rio 2007

Diretor Médico da Confederação Brasileira de Hipismo (CBH)

Medico da Motovelocidade Moto 1000 GP


Fotos: Leandro Lodo/Divulgação

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