Murillo Ghigonetto
É fato! Nunca a motocicleta foi alvo de tantas discussões como atualmente. Um dos motivos é que em meio às polêmicas que vão e voltam ao tema “segurança”, nos últimos meses o que se viu foi uma verdadeira enxurrada de propostas do governo que mais pareceram querer dificultar a vida dos motociclistas ao invés de facilitá-la.
Com a desculpa de trazer maior segurança à categoria, regulamentações e mais regulamentações do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) tornaram a vida de muitos uma verdadeira loucura nos últimos meses.
No entanto, ao mesmo tempo em que essas medidas surgiram, pouco se investiu na formação correta de novos condutores, esta sim, a principal causa de acidentes de motos ocorridos no Brasil, segundo levantamento dos órgãos públicos.
“Hoje o curso para se tirar a habilitação de moto não prepara ninguém hábil o suficiente para enfrentar o trânsito dos grandes centros urbanos, e este é um dos principais problemas”, diz Lucas Pimentel, presidente da Abram (Associação Brasileira de Motociclistas).
Para ele, o investimento nessa área poderia trazer muitos benefícios para a classe, e, claro, mais segurança. “Vejo que é necessário criar algo mais específico para o aprendizado correto de motociclistas. Já até se discute o aprimoramento desse processo no Contran”, informa Pimentel.
Na contramão de toda essa polêmica estão as montadoras, que nos últimos anos passaram a investir cada vez mais na segurança com cursos de aperfeiçoamento de pilotagem com o objetivo de conter acidentes.
“Todas essas novas propostas surgiram com a desculpa de dar mais segurança ao motociclista. No entanto, a moto não é uma arma, ela não mata ninguém sozinha”, diz Marcello Torres, responsável pelo novo centro de pilotagem da Honda, o CETH (Cento Educacional de Trânsito Honda), em Recife (PE).
Investindo no futuro
Atualmente, a Honda mantém dois centros de pilotagem, um em Indaiatuba, que responde por toda região sul, sudeste e centro-oeste do país, e uma outra unidade em Recife, inaugurada em 2006 e responsável por atender as regiões norte e nordeste do Brasil.
Com investimento de R$ 25 milhões, esta nova unidade é a prova de que as grandes marcas vêm investindo cada vez mais em prol da segurança do motociclista. Com uma área total de mais de 100.000 m², o CETH de Recife está dividido em três partes distintas, no que se refere aos cursos de pilotagem: a primeira de 700 m2, direcionada, entre outras funções, para a realização das aulas teóricas; a segunda, uma área externa de 30 mil m2 para a aplicação da parte prática do curso; e a terceira, com 90 mil m2, onde está localizada a pista de terra, reservada à pilotagem em vias não pavimentadas, trilhas e motocross.
Por lá, os alunos aprendem técnicas de pilotagem em diferentes situações que simulam exatamente os tipos de problemas encontrados no dia-a-dia dos grandes centros urbanos, como pista escorregadia e até fechadas.
Os cursos estão focados para instrutores da Rede, órgãos governamentais, frotistas e o público final, este último através das redes de concessionárias. Nas aulas teóricas, são distribuídos materiais didáticos compostos por apostilas, fita de vídeo e folhetos com todas as informações necessárias, desde o funcionamento da motocicleta até instruções de como se fazer uma curva, por exemplo.
De acordo com a Honda, desde o inicio do CETH Recife, em novembro de 2006, até hoje, mais de 2.206 pessoas já se formaram. “Nosso trabalho dentro do CETH é fazer o motociclista ter consciência para utilizar a moto de forma correta, evitando acidentes”, completa Marcelo Torres.
Outra montadora que mantém um sistema parecido realizando cursos para o público final e para corporações há vários anos é a Yamaha, com o CPY (Centro de Pilotagem Yamaha).
Com grupos formados pelas redes de concessionárias, o curso da Yamaha funciona em dois módulos: básico, para pessoas que não têm habilitação de moto, e outro um pouco mais avançado, dirigido as pessoas que já têm a CNH, mas querem aperfeiçoar a pilotagem.
Ambos os cursos são ministrados em duas bases geridas em Guarulhos e Recife, e responsáveis por atender o Brasil inteiro. O objetivo principal é basicamente o mesmo, focar a utilização da moto de forma prudente e com segurança, seja no on-road ou no off-road.
“Tentamos passar toda nossa experiência com base na conscientização, na utilização da moto de forma racional, e não agressiva. Assim, procuramos mostrar o limite de cada um ao guidão de uma moto, ou seja, preparar cada aluno para sair com segurança de situações como uma freada repentina, pista desnivelada ou até mesmo um fechada”, informa José Roberto Favaro, instrutor de pilotagem do CPY.
Para as associações de motociclistas, estas iniciativas promovidas por grandes montadoras, poderiam ser a melhor forma de conter acidentes, ao contrário de novas leis e resoluções propostas por governantes.
“O investimento nesses cursos de pilotagem por parte do governo poderia ser uma forma muito mais eficaz na contenção de mortes envolvendo motociclistas, ao contrário de certas leis que estão sendo propostas, como a proibição da circulação em determinadas vias de São Paulo”, afirma Lucas Pimentel, presidente da Abram.
“A nosso ver, se fosse feito um trabalho mais sério de educação no trânsito por parte do governo entre motociclistas e motoristas, o número de acidentes diminuiria bastante. O que falta é mais educação”, finaliza.
Agência Infomoto
Envie está denúncia somente em caso de irregularidades no comentário