Issao Mizoguchi, primeiro presidente brasileiro da Honda

Em entrevista exclusiva, o principal executivo da marca japonesa no país fala dos desafios do novo cargo

Por Leandro Lodo

Aldo Tizzani

Issao Mizoguchi, primeiro presidente brasileiro da Moto Honda da Amazônia, foi educado dentro da tradicional cultura oriental. Com a mãe brasileira (nissei) falava português; já com o pai, que veio da pequena Província de Yamagushi, se comunicava em japonês.

Nascido e criado em São Bernardo do Campo (SP), o palmeirense Mizoguchi de 52 anos teve como principal combustível para seu crescimento profissional o desafio.

Recém-formado em engenharia mecânica, o jovem Issao desembarcou na fábrica da Moto Honda da Amazônia, em Manaus (AM) , em 1985. De cara foi incumbido de criar o departamento de engenharia de produto dentro da montadora, depois participou da criação do departamento de pesquisas. Na fábrica da Honda, Issao Mizoguchi trabalhou em praticamente todos os departamentos.

Conhece como poucos os processos produtivos e também a filosofia de trabalho imputada pelo fundador da marca, Shoichiro Honda, que pregava o respeito e a valorização do material humano.

Em 1º de abril, o primeiro presidente brasileiro da Honda assumiu o posto e já começava a escrever um novo capítulo de sua vida profissional que, em muitos momentos, se confunde com a própria história da Honda no meio da selva amazônica.

Issao Mizoguchi, que está muito empolgado com seus novos desafios, disse em sua primeira entrevista oficial que seu legado será o de preparar outros executivos brasileiros para seguir à frente da maior fabricante de motos do Brasil.

Confira abaixo os principais trechos dessa entrevista exclusiva que Issao Mizoguchi concedeu à Infomoto. O executivo falou da como se sente honrado em dirigir a Moto Honda da Amazônia, além da ampliação do mercado de duas rodas e de possíveis lançamentos.

– Como o Senhor se sente sendo o primeiro brasileiro a ocupar a presidência da Moto Honda da Amazônia?

Issao Mizoguchi – Minha missão será a de dar a oportunidade para uma nova fase de nacionalização dentro da Honda. Primeiro foi a dos componentes e agora uma gestão brasileira.

Me sinto muito honrado em ser o primeiro presidente brasileiro a assumir este cargo. Algum dia isso iria acontecer. Agora vou trabalhar fortemente para que os próximos gestores também sejam brasileiros. Este trabalho começa agora.

– Qual será seu principal desafio?

Mizoguchi – Contribuir para que o mercado de duas rodas cresça como um todo e que nosso market share se mantenha nos níveis atuais (cerca de 80%). Hoje, a fábrica da Honda em Manaus tem capacidade produtiva de 2 milhões de motos/ano.

– O que efetivamente muda com a sua chegada à presidência?

Mizoguchi – Tenho conhecimento e experiência para agilizar as decisões. Comigo na presidência será mais fácil o acesso de pessoas até mim. Não precisamos mais de intérpretes, intermediários. Hoje falamos a mesma língua. Ou seja, diminuímos os tempo para a tomada de decisão.

– Quais os ensinamentos deixados pelo fundador da Honda – Shoichiro Honda – que o Sr. usa no dia a dia?

Mizoguchi – Respeito aos indivíduos, suas ideias e trabalhar com alegria. Por isso, mais do que nunca estou empolgado para desempenhar bem meu novo papel dentro da companhia. O desafio é o meu combustível.

– Em médio prazo qual será o tamanho do mercado brasileiro de duas rodas?

Mizoguchi – Com relação à distribuição da frota de motocicletas, temos no Brasil 12 habitantes por moto. Na Tailândia essa taxa é de 4 habitantes com moto. Diferentemente de outros países, a Brasil começou a rodar primeiramente sobre quatro rodas e não sobre duas.

Em quatro anos nosso o mercado interno deve ter patamares entre de 3,5 e 4 milhões de motos. Dessa forma atingiremos uma taxa de uma moto para cada oito habitantes.

– Como a Honda irá se manter no topo? Qual é meta de crescimento da fabricante no mercado nacional?

Mizoguchi – Hoje temos linhas de produtos em todas as faixas. Nosso esforço será no sentido para alcançarmos a marca de 3 milhões de motos/ano.

O crescimento estará calçado em produtos com melhor custo/benefício para nossos clientes. Sem uma rede forte não há volume de vendas. Para alcançarmos esta meta temos 1200 pontos de vendas espalhados por todo o País.

– Em função de um provável aumento da demanda, a planta fabril em Manaus (AM) tem para onde crescer?

Mizoguchi – Ainda temos espaço em Manaus para a fábrica crescer. Temos uma área reservada para uma futura ampliação. Tudo depende do aumento da demanda. Mas o investimento em modernização é constante. Temos que investir em qualidade, laboratórios e melhorar os processos produtivos.

– Quais são os principais fatores que podem atrapalhar os planos de crescimento da Honda: a concorrência ou o cenário econômico?

Mizoguchi – O que está determinando, impactando, no negócio não é a concorrência, mas sim o cenário econômico. Hoje os bancos estão cada dia mais restritivos com relação à liberação de crédito para o financiamento de uma motocicleta.

A modalidade consórcio atenua bem estas incertezas, que podem vir dos mercados internos e externos. E uma rede sólida e com boa capilaridade, como a da Honda, faz toda a diferença no volume de vendas.

– Qual a sua avaliação do mercado de motos Premium?

Mizoguchi – Hoje, o mercado premium é bastante competitivo, com produtos de várias marcas e países de origem. Queremos aumentar nossa participação neste importante nicho. Ter um produto de alta cilindrada pode indicar uma ascensão dentro da própria marca.

Atualmente, a Honda tem 73 concessionárias “Dream”, que comercializam produtos acima de 600cc. Nossa meta, em curto prazo, é chegarmos a 100 pontos de vendas.

– Ano passado, a Honda apresentou no Salão de Milão (Itália) a linha NC 700 com uma plataforma única para três modelos e com um motor novo em comum. Essa linha chegará ao Brasil?

Mizoguchi – Para trazermos um novo produto ao consumidor brasileiro, temos que ter responsabilidade. O fabricante precisa fazer vários estudos e adequação do produto ao mercado brasileiro como, por exemplo, gasolina e suspensão para suportar as condições das estradas brasileiras. E isso leva tempo.

O que posso garantir é que há estudos em andamento para o lançamento de novos produtos Honda. Em breve teremos novidades em modelos de baixa cilindrada.

– De que forma a Honda exerce sua responsabilidade social perante seus consumidores no sentido de reduzir acidentes?

Mizoguchi – Temos dois centros educacionais e de trânsito (CETH), um em Indaiatuba (SP) e o outro em Recife (PE). Este ano concluiremos as obras de nosso terceiro CETH, desta vez localizado em Manaus.

O objetivo destes centros é desenvolver instrutores para as concessionárias Honda. Estes profissionais serão agentes multiplicadores que irão preparar melhor os motociclistas para conduzir suas motos com segurança.

Além disso, por meio da Abraciclo (associação que reúne os fabricantes de motos) participamos de ações educativas junto aos órgãos públicos para diminuir os números de acidentes.

Fotos: Arthur Caldeira/Divulgação


Fonte:
Agência Infomoto

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