INVENÇÕES DAS DUAS RODAS

Museu Contemporâneo de Invenções abriga uma série de engenhocas para motocicletas.

Por Thiago Fuganti

Eles não chegam a ser cientistas malucos, mas criam fórmulas mirabolantes para desenvolver a segurança, praticidade e até mesmo o conforto de seus equipamentos de trabalho; a motocicleta.

Os “moto-inventores” são os responsáveis por inúmeros projetos curiosos, como a máscara facial, identificador de capacete, viseira desembaçante, luva térmica, entre muitos outros inventos, que podem ser visualizados no Museu Contemporâneo de Invenções, em Perdizes, zona oeste da cidade de São Paulo.

O local é também a sede da ANI (Associação Nacional dos Inventores), onde há o registro de mais de 300 produtos com as mais diversas características e finalidades. Um deles, pertencente ao mundo das duas rodas, chama a atenção por ser, digamos, interessante e ao mesmo tempo revolucionário: um pedal de acelerador para motos, único no planeta.

Romero Rafael de Souza é o pai do sistema, construído para poupar o uso do pulso e garantir melhor controle do equipamento aos motociclistas. O componente fica localizado no pedal do lado direito e é acionado pelo calcanhar, sem alterar a estrutura básica da moto.

“Eu era motoboy e minha mão sofria muito desgaste, por conta do trânsito pesado da cidade”, contou o paraibano de 30 anos. O invento criou uma nova opção para acelerar, já que não inutiliza o sistema de acionamento de aceleração convencional, na manopla.

“Depois de pensar em soluções para o esforço excessivo no punho direito, deduzi que o pé seria uma ótima idéia. Então comecei a rabiscar papéis, fiz um pequeno esboço com papelão e, finalmente, um protótipo de ferro”, detalhou Romero, que na semana passada esteve em um programa da “TV Record” para mostrar o seu invento.

A idéia exigiu seis meses de trabalho do criador até ficar pronta. “Esse tempo foi necessário para que eu chegasse à perfeição do pedal. Como teste, eu fiz uma viagem até Brasília, sendo que 95% do percurso foi com aceleração no pé. Considerei o resultado muito satisfatório e prova disso é que o dispositivo nunca mais saiu da minha máquina”, destacou o dono de uma Honda NX 350.

O motivo de ter mantido a aceleração convencional se deveu à fase de adaptação. “As motos nascem com acelerador na manopla, então levou algum tempo para eu me acostumar com o pedal. Mas não demorou muito e hoje não consigo ficar sem a minha invenção. Eu estranho muito quando ando com motocicletas normais”.

Quem vê Romero nas ruas se impressiona com a cena de uma moto em movimento sem que a mão do condutor esteja no guidão.  “As pessoas se assustam, fazem perguntas. Mas eu não reclamo, porque já fiz muitas amizades por conta disso”, ressaltou o “moto-inventor”.

Com seu projeto patenteado junto à ANI, Romero não esconde o desejo de conseguir alguma empresa que compre a idéia. “Certa vez eu apresentei o trabalho à Força Especial Armada de São Paulo, que adorou o acelerador no pé. Uma pena não termos o investimento para iniciar a produção, pois seria o ideal para os policiais motociclistas. Eles não teriam problemas para andar com a moto e segurar a arma durante uma perseguição, por exemplo”.

Quanto à autonomia da moto, Romero disse que não há interferências. “Você tem a mesma potencia, o mesmo consumo e manutenção quase zero. O único gasto extra passa a ser o cabo de acelerador, só isso”, apontou.

 Por ser seu veículo de trabalho, Romero não pode deixar a invenção no museu. “Mas eu estou sempre à disposição para vir aqui, bater um bom papo, mostrar, demonstrar e divulgar o meu trabalho. Quem é aficionado por motociclismo como eu, sabe que não é esforço algum se dedicar a essa paixão das duas rodas”, concluiu.


Com vocês, os moto-inventores!

É comum, em dias de chuva, a imagem dos motociclistas abrindo as viseiras do capacete por não conseguirem enxergar nada a sua frente. A solução para o problema foi dada por Antonio Vannini, inventor associado da ANI e responsável pelo desenvolvimento da viseira desembaçante.

Colocada em um capacete normal, ela permite ao usuário ligá-la por meio de um botão na parte frontal, e com isso, aciona-se um filamento de metal. Este filamento é mantido por baterias de 9 a 12 volts, colocadas na parte traseira do capacete.

Ao ser ligada, ela funciona como o desembaçador de um vidro traseiro de carro, acabando com a necessidade do uso de produtos químicos que hoje são colocados nas viseiras.

Outra invenção é o sistema de identificador, de Carlos Alberto Carvalho Martins. Voltado para o combate aos assaltos, o projeto nada mais é do que um material plástico adesivo colocado na parte traseira do capacete, com o número da placa em cor fluorescente.

Isso foi pensado para ser um projeto de lei, juntamente ao Detran, para se tornar obrigatório. Ou seja, todo motociclista teria que, quando cadastrar a placa, automaticamente colocar o adesivo em somente dois capacetes, o que também indiretamente inibiria o carona, já que não poderia se utilizar capacetes diferentes da placa.

Simples, porém prática, é a mochila para capacetes criada por Marta Prado. Ela desenvolveu uma sacola com alças para acabar com um incômodo em seu cotidiano. Seu marido havia comprado uma moto para utilizar em passeios, mas quando tinha que buscá-la em algum local sentia dificuldade de encontrar um local para colocar o capacete da esposa. Leve, o invento é feito em tecido resistente e pode ser colocado nos ombros como uma mochila escolar.

Quem também se insere na lista dos moto-inventores é Antônio Freire de Carvalho, que se inspirou na situação do primeiro dia em que precisou utilizar os serviços de moto-taxi.

Ao colocar o capacete oferecido pelo motorista, ele viu que o objeto se encontrava muito sujo e úmido de suor de outros passageiros. Como não tinha outra solução ele colocou o capacete, seguiu seu caminho.

Deste episódio, nasceu a máscara semifacial, que protege o usuário do contato direto com o tecido interno do capacete. A máscara pode ser feita com material semi-descartável e fabricada com o mesmo tecido de toucas cirúrgicas. Mesmo porque existem diversas doenças e micoses que podem ser transmitidas por meio do tecido do capacete. “Até o uso repetido de um mesmo capacete, por um mesmo usuário, caso de entregadores e usuários de motos, também representa uma ameaça”, ressaltou o “moto-inventor”.


Opinião feminina

Recepcionista do Museu Contemporâneo de Invenções, Maya Satyrko é uma admiradora das emoções sobre duas rodas. Embora nunca tenha pilotado uma motoca, a jovem de 21 anos tem muitas histórias e experiências vividas como garupa.

“Já participei de encontros da Megacycle, gosto muito de motos e tenho vontade de aprender a pilotar”, disse Maya. Pela familiaridade com o cenário das motocicletas, ela destacou também a admiração com os inventos da ANI.

“São itens muito curiosos, práticos e importantes para a segurança. O capacete desembaçante e a moto com acelerador no pé são os meus favoritos”, revelou a postulante à motociclista, que como carona já se aventurou em motos da Kawasaki, Honda e Yamaha.

De acordo com Maya, dezenas de pessoas visitam o museu, aberto de segunda a sexta-feira das 9h às 18h. “Este é o único do gênero na América Latina e é um espaço bacana para se conhecer. Falo isso não só porque trabalho aqui, mas por me impressionar com a série de trabalhos expostos. Aqui se encontra de tudo”, finalizou.

Fundado em 1996 pelo advogado e empresário Carlos Mazzei, o Museu tem como objetivo preservar e divulgar inventos nacionais e estrangeiros. Já a Associação Nacional dos Inventores, também idealizada por Mazzei, nasceu em 1992 com o propósito de ser um centro de negócios entre inventores e empresários. Atualmente, são mais de três mil associados e cerca de cem atendimentos por mês.

Vale a pena conferir as engenhocas. Não apenas as relacionadas às motocicletas.


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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