Especial: Compensa rodar com etanol na moto flex?

Rodamos mais de 1.000 km na cidade e na estrada com a Honda CG 160 Titan para responder à dúvida de muitos motociclistas

Por Gabriel Carvalho

Após o protesto dos caminhoneiros pela redução do preço do diesel, entre outras demandas, o valor cobrado pela gasolina disparou. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, um litro do combustível fóssil chegou a custar R$ 5,59 na primeira semana de junho – o preço médio em todo o País no mesmo período era de R$ R$ 4,60. 

Com isso muitos proprietários de motocicletas bicombustíveis passaram a considerar o etanol como uma alternativa para economizar alguns centavos. Afinal, no mesmo período, o valor médio do combustível vegetal era de R$ 2,98. Mas, afinal, vale a pena usar etanol ao invés de gasolina na moto? 

Para tirar essa dúvida, rodamos mais de 1.000 km com a moto mais vendida do Brasil, a Honda CG 160 Titan, que pode ser abastecida com gasolina ou etanol. Rodamos com a CG nas ruas de São Paulo (SP) e também na estrada, em uma viagem de 1.000 km até Tiradentes, em Minas Gerais. Confira.

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Moto “bebe mais” no álcool
Apesar do preço inferior, um litro de etanol rende menos do que um litro de gasolina. Ou seja, a moto “bebe mais” no álcool. Piadas à parte, a prática confirmou a teoria. 

Na cidade, por exemplo, em meios aos congestionamentos de São Paulo, o torque da CG 160 Titan (1,40 kgf.m a 6.000 rpm) dispensa constantes trocas de marchas. Respeitando os limites de velocidade e sendo usada de forma racional, a CG 160 foi muito econômica: 41 km/litro rodando na gasolina. O preço da gasolina comum utilizada foi de R$ 3,99. 

Já no etanol, o consumo aumentou cerca de 40%. Utilizando a moto da mesma forma e para percorrer praticamente os mesmos trajetos diariamente, rodamos 24,7 km / litro de etanol, vendido por R$ 2,49.

Em uma conta rápida, a vantagem no uso urbano vai para a gasolina. Gastamos R$ 0,097 por quilômetro rodado com a gasolina; já no etanol, esse valor subiu para R$ 0,10 / km. 

Outro aspecto favorável ao combustível derivado do petróleo é a autonomia maior. No caso da CG, que tem tanque de 16,1 litros, chegaria a 660 km. Com etanol, seria de pouco superior aos 390 km.

Até Tiradentes (MG) sem abastecer
Para avaliar o consumo na estrada, rodamos entre São Paulo e Tiradentes, distantes quase 500 km, com gasolina. Exigimos o máximo de desempenho do motor de um cilindro e 162,7 cm³ que atinge a potência máxima de 14,9 cv na gasolina. O velocímetro marcou 110 km/h na maior parte de viagem. E o marcador de gasolina no painel digital praticamente não se mexia. 

Após mais de cinco horas na estrada, o painel acusou reserva, quando o hodômetro parcial marcava 454 km. Rodamos até os 478 km e, já próximo ao destino, abastecemos a CG. 

Gastamos 15,22 litros para quase chegar à Tiradentes sem parar para abastecer. O consumo médio foi de 31,42 km/litro – mais alto do que no uso urbano, porque o acelerador estava quase sempre “no talo”. Com preço de R$ 4,949 pelo litro, gastamos R$ 75,32 na primeira parte da viagem. A autonomia estimada seria de 505 km. 

Mais paradas com álcool
No retorno à São Paulo, mantivemos o mesmo ritmo, mas a moto foi abastecida com etanol. Com o combustível vegetal, o desempenho declarado pela Honda é melhor: 15,1 cv e 1,54 kgf.m de torque. 

Na prática, a CG parecia estar mais solta e com maior facilidade para atingir a velocidade máxima – em torno dos 130 km/h. Nas subidas, por exemplo, a Titan parece estar mais “animada”. 

Mas, como era previsto, houve grande aumento do consumo. Tanto que foram necessárias duas paradas, uma com 255 km percorridos e depois já chegando ao centro de São Paulo, com 260 km. O consumo médio dos dois abastecimentos na volta foi de 20,84 km/litro. 

Ao todo consumimos 24,71 litros de etanol e gastamos R$ 79,56 no trecho de volta. O custo médio do litro de etanol na estrada foi de R$ 3,22. A autonomia caiu para 335 km.

Na ponta do lápis, os custos foram equivalentes. Gastamos os mesmos R$ 0,15 para rodar um quilômetro com gasolina e com etanol. Lembrando que isso pode variar de acordo com a diferença de preço entre os dois combustíveis. 

A desvantagem do etanol é a menor autonomia, o que obriga a fazer mais paradas. Mas, por outro lado, a CGzinha parece andar mais no álcool. 

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Compensa ou não?
Nossas medições mostraram que, na verdade, tanto faz abastecer com gasolina ou etanol. Na cidade, o combustível fóssil é um pouco mais vantajoso e economiza tempo, afinal são menos visitas ao posto de combustível, pois a gasolina oferece maior autonomia. 

Já na estrada, foi empate técnico. O gasto por quilômetro foi exatamente o mesmo. Vale lembrar, que os resultados de consumo e os gastos podem variar muito de acordo com o ritmo da viagem e também com o preço praticado nos postos. 

Muitos têm dúvida se o uso exclusivo do etanol pode danificar o motor da moto. Segundo o mecânico Olavo Antônio Jr. da concessionária Honda STR Motos de Osasco (SP), a CG e outras motos flex estão totalmente preparadas para rodar com o combustível vegetal. 

O mecânico alerta, entretanto, que é preciso ter alguns cuidados em regiões mais frias. “Abaixo dos 15 graus é recomendável manter 20% do tanque abastecido com gasolina”, avisa. Essa quantidade é necessária para facilitar a primeira partida do dia.


Fonte:
Agência Infomoto

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