Entrevista: Federico Alvarez e os planos da BMW Brasil

Executivo da subsidiária da marca alemã no país aposta na naked G 310R nacionalizada para conquistar e fidelizar novos clientes

Por Aladim Lopes Gonçalves

Em meio a uma das piores crises econômica e política do Brasil, o Grupo BMW anunciou recentemente a inauguração de uma fábrica própria de motocicletas em Manaus (AM). Ancorado nos bons resultados dos últimos anos e na estabilidade das vendas em 2016, o diretor da BMW Motos Brasil, Federico Alvarez, afirma que a construção da linha de montagem é uma aposta a longo prazo. “É certo que agora a situação do Brasil não é das melhores, mas em algum momento voltará a crescer. É um país com 200 milhões de habitantes”, reflete otimista o espanhol de 46 anos.

Apesar de crer no futuro, bacharel em Ciências Econômicas e Empresariais pela Universidade San Plabo e MBA pela Escola ESIC Business, da Espanha, Alvarez não arrisca nenhuma previsão de volume de vendas ou crescimento da marca no mercado de duas rodas brasileiro para os próximos anos.

Motociclista de longa data, Federico não tem viajado tanto com sua R 1200 GS como gostaria, mas sempre dá umas escapadas pelo interior e litoral do Estado de São Paulo. Não revela quando e nem por quanto a G 310R chegará ao mercado, mas acredita que a nova moto urbana de 310cc irá atrair e fidelizar mais fãs para as motos BMW. Confira nessa entrevista exclusiva.

PERGUNTA – Por que a decisão de montar uma fábrica de motos no Brasil?

FEDERICO ALVAREZ Tivemos um crescimento muito grande com o início da montagem das motos no País em 2009. No ano passado, quase 90% das modelos comercializados aqui foram montados pelo sistema CKD em Manaus (AM). A parceria com a Dafra foi bem sucedida, a qualidade das motos é ótima, mas queremos gerenciar nossa própria fábrica.

PERGUNTA – A nova G 310R tem papel fundamental nessa decisão. Essa moto compacta foi projetada para o Brasil?

FEDERICO ALVAREZ - O modelo será muito importante, pois nos dará um volume mínimo de produção mais alto e o necessário para termos nossa própria fábrica. Essa cilindrada, 300cc, praticamente não existe na Europa. É muito restrita. Há dois mercados principais no mundo: o asiático e o brasileiro. E o principal é o Brasil. É certo que agora a situação não é das melhores, mas em algum momento voltará a crescer. É um país com 200 milhões de habitantes, a classe média está crescendo. E moto tem tudo para ser um sucesso.

PERGUNTA – Na sua visão qual será o principal benefício dela para a BMW Motorrad (Motos) no mercado brasileiro?

FEDERICO ALVAREZ - Acho que terá dois efeitos: primeiro vai reforçar o nosso brand awareness (consciência de marca) e, além disso, teremos um modelo de entrada para as motos BMW. Se dermos um bom atendimento a esse cliente, na venda, na oficina, com atividades, esse cliente irá se manter na marca.

PERGUNTA – Qual o perfil do cliente da nova G 310R?

FEDERICO ALVAREZ – 90% deles homens, com idade entre 25 e 35 anos, renda acima de R$ 5.000, classe média urbana.

PERGUNTA – Na Europa, a G 310R vai custar 4.750 Euros, ou seja, R$ 20.000. Podemos projetar o mesmo valor para o nosso mercado?

FEDERICO ALVAREZ - Não podemos simplesmente fazer essa projeção: na Europa custa 4.750 Euros, aqui será tanto. Não. Nem mesmo comparar com o preço dos modelos concorrentes como a KTM Duke 390 ou a Kawasaki Z300 lá fora. Não. O preço no Brasil ainda não está definido.

PERGUNTA – Aqui no Brasil as concorrentes custam entre R$ 17.000 e R$ 23.000. A G 310R não poderá fugir muito disso senão chega muito perto do valor da G 650GS.

FEDERICO ALVAREZ - Se o preço ficar abaixo de R$ 18.000 o público-alvo que queremos muda muito. Nós como marca não podemos cometer esse erro. E a G 310R é muito diferente das concorrentes. Também há uma barreira muito clara que são as motos de 500cc, que custam a partir de R$ 24.900.

PERGUNTA – A BMW se autodenomina premium. Muitos consumidores fiéis criticam a G 310R, dizendo que há o risco de massificar a marca. Como você enxerga isso?

FEDERICO ALVAREZ - Esse mesmo medo aconteceu quando a BMW passou a comercializar o Série 1, modelo de entrada nos automóveis. Diziam: ‘Vocês vão vender um carro de entrada, para um cliente diferente’. Isso não nos trouxe problema. Não aconteceu uma massificação dos carros BMW. A G 310R será uma moto premium, uma moto BMW, o cliente terá um tratamento premium e acredito que será muito mais exigente que um cliente acostumado a ter uma BMW, pois será a primeira BMW, um sonho realizado. A partir do momento que você mantém o nosso padrão nos detalhes, no acabamento e vamos trazer para a categoria alguns itens como o ABS de série. Vamos trazer alguns elementos e valores da marca para esse novo segmento.

PERGUNTA – Quando a G 310R realmente chega ao mercado brasileiro? Quando a fábrica começa a operar?

FEDERICO ALVAREZ - A perspectiva é que tenha um evento de lançamento mundial da G 310R em meados de outubro. Mas isso é global. Nós começamos o processo de instalação da fábrica neste ano. Há datas já definidas, mas que não posso revelar. Toda fábrica necessita de ajustes e testes. Ficaria mais confortável em não dar uma data precisa. Vamos montar uma planta desde zero e fica muito complicado falar em datas. A ideia é ter a fábrica funcionando até o final do ano. A equipe de vendas e marketing gostaria que eu desse uma data para “aquecer” o mercado… mas ainda não podemos precisar e eu prefiro não falar.

PERGUNTA – Você chegou aqui em 2013 com a marca de 10.000 motos BMW vendidas na Espanha, qual a projeção você faz para as vendas no Brasil nos próximos cinco anos?

FEDERICO ALVAREZ - Cinco anos? Pensei que você iria perguntar a projeção para os próximos cinco dias! (risos). Com a atual situação estamos evitando falar em volumes e projeções de vendas. Está muito difícil prever. Seja na Espanha, nos Estados Unidos, tudo é cíclico. O Brasil vinha experimentando um bom momento já há alguns anos. Acho que agora estamos no pior momento: a economia local está ruim, a economia mundial atravessa dificuldades. A China, por exemplo, que era um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, também está desacelerando. Aqui ainda se juntou a um momento político complicado. Mas acredito que deverá retomar o crescimento.

PERGUNTA Quando um cliente poderá comprar uma moto fabricada na nova planta?

FEDERICO ALVAREZ – Começaremos fazendo testes com um modelo apenas. Deu certo? Partimos para outras. Temos um calendário. Mas certamente, isso já será possível neste ano.


Fonte:
Agência Infomoto

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