Entrevista: Alexandre Barros e sua trajetória de sucesso
Maior nome da motovelocidade brasileira acumula conquistas importantes e atua hoje como manager de equipe
Por Aladim Lopes Gonçalves
Por Aladim Lopes Gonçalves
Aladim Lopes Gonçalves
Superando as dificuldades da falta de tradição do país nas competições internacionais de motovelocidade, o arrojado piloto paulista Alexandre Barros levou as cores brasileiras para o Mundial de Motovelocidade com vitórias e pilotagens memoráveis que lhe consagraram como uma das grandes lendas da MotoGP no Brasil e em países com mais tradição na competição, como Espanha, Itália e Estados Unidos. Com uma atuação de quase duas décadas na elite da motovelocidade, Alexandre Barros acumula conquistas e experiências que poucos pilotos conseguiram desenvolver em suas carreiras.
Com passagens por equipes representadas pelas principais marcas do Mundial de Motovelocidade, como Honda, Yamaha, Suzuki, Ducati, entre outras, o piloto brasileiro teve sua trajetória marcada por parcerias de sucesso com grandes pilotos, como Kevin Schwantz, Randy Mamola, Eddie Lawson, Nick Hayden, entre outras feras, e equipes que sempre o recebem com entusiasmo e reconhecimento.
Tamanha experiência é usada ainda hoje em causa da motovelocidade brasileira e da sua própria equipe, a Alex Barros Racing, que corre com a superesportiva alemãs BMW S 1000 RR HP4, e do seu centro de treinamento, o Alex Barros Riding School, que trabalha para formar novos talentos para as pistas. Em um bate-papo com a equipe do MOTO.com.br, Alexandre Barros revela um pouco sobre o trabalho de manager de equipe em mais uma disputadíssima temporada da Moto 1000 GP e da sua atuação também como instrutor e piloto para acompanhar e estimular os resultados dos seus pilotos.
MOTO.com.br: Conte como foi o seu primeiro contato com moto e como iniciou a carreira de piloto?
Alexandre Barros: Meu primeiro contato com a moto foi quando eu tinha três anos de idade. Em um dia, meu pai tirou do porta-malas uma moto pequena (de uma marca italiana), e quando eu vi a moto, achei que era para meu irmão mais novo (na época com um ano), porque ela era realmente bem pequenininha. Mas aí meu pai disse que era para mim, e nem deu tempo de ele me dizer onde acelerava, ou como a moto funcionava, eu subi na moto, e saí como um ‘louco’. Eu comecei deste jeito. Meu pai era ciclista e ia pedalar na USP [Universidade de São Paulo] e me levava junto, e eu ficava ali no estacionamento dando umas voltas na moto. E aí peguei gosto. E desde pequeno eu sempre quis desafiar os grandes, os meninos maiores que eu. Sempre fui competitivo, mas acho isso legal, porque te força a querer se superar sempre. Alguns anos mais tarde, em 1978, fiz minha primeira corrida em Interlagos, eu tinha sete anos, e venci a primeira disputa que participei.
MOTO.com.br: Como é essa transição de piloto para manager de equipe? É mais fácil acelerar na pista ou atuar nos bastidores, cuidando da equipe?
Alexandre Barros: É uma transição difícil. Quando você é piloto você se preocupa somente com você e com seus compromissos. Mas quando você tem uma equipe, aumenta a gestão, porque é um trabalho com várias pessoas, tem toda a parte técnica. Tenho que me preocupar também com os materiais, as peças, viagens. Tem o compromisso com os patrocinadores, além de ter que depender de terceiros, entre outras coisas. A demanda de gerenciar uma equipe é muito maior. E com certeza é mais fácil acelerar na pista, do que ser dono de equipe. Já tinham me dito isso, e é verdade. Mas eu gosto muito e me divirto bastante com os pilotos. E quando você gosta do que faz, vira diversão. Mas eu ainda sou piloto, e muitas vezes, estou andando com os meninos. E quando eu ando, a minha ideia é ajudar ao máximo no desenvolvimento da moto, justamente por eu ser mais rápido tecnicamente, e por ter mais conhecimento. Eu quero ensinar os pilotos, porque andando com eles, ali lado a lado, eu consigo desenvolvê-los mais rápido do que ficando apenas no box.
MOTO.com.br: Como maior piloto de motovelocidade do Brasil, como você vê as competições e o surgimento de novos pilotos no país?
Alexandre Barros: As competições no Brasil estão crescendo muito, a passos gigantes. De 2011 – quando começou o campeonato Moto 1000 GP –, para cá, a competição já está indo para a quarta temporada. E o nível técnico, as equipes, a organização, o público, o desenvolvimento das equipes, e o índice dos pilotos também estão aumentando e melhorando. E tudo isso ajuda no surgimento de novos pilotos, pois aumenta o interesse. O motociclismo brasileiro vive, sem dúvida, um bom momento. Tanto que o Moto 1000 GP pode ser considerado um mini mundial, temos nesse campeonato sete ou oito nacionalidades correndo no Brasil. E por experiência posso dizer que não é qualquer campeonato nacional que você vai e pode ver tantas nacionalidades. No italiano, por exemplo, só tem pilotos italianos, e não tem nem outros europeus. Aqui, temos português, francês, argentino, venezuelano, entre outros. E vindo pilotos de fora, acaba gerando notícias fora do Brasil também. E as pessoas começam a acompanhar, gerando mais visibilidade aos pilotos brasileiros e às competições do país.
MOTO.com.br: Com o cancelamento da etapa de Brasília (DF) o Brasil perdeu a oportunidade de voltar a realizar as provas da MotoGP. Você acha que um calendário sul-americano com provas da MotoGP e do Mundial Superbike no Brasil e Argentina pode ser viável para 2015 ou 2016?
Alexandre Barros: É muito viável sim. E acredito que o que vai acabar acontecendo, e será muito bom, é transformar o Campeonato Brasileiro em um Latino-americano, que pode ser Brasil/Uruguai/Argentina. E dentro do Brasileiro pode ter duas provas válidas pelo Latino-americano. E depois faz uma etapa no Uruguai, mais duas na Argentina, que tem a pista do Mundial. E apesar de já terem noticiado que o Brasil não terá a etapa do Mundial, não acredito que o país esteja totalmente descartado, pois existem negociações rolando e há um interesse grande em trazer o Mundial para cá. Vamos ver como isso vai ficar.
MOTO.com.br: Qual o melhor caminho para se tornar um piloto de motovelocidade?
Alexandre Barros: Entrar para a equipe Alex Barros Racing (brinca o chefe da equipe). Claro que isso é uma brincadeira, mas nosso time é um canal, como existem tantos outros canais, tantas outras equipes. O começo é bem difícil, precisa antes de tudo, ter vontade e querer. Ter uma moto é fundamental, porque ninguém vai comprar a moto por ele. Depois, ele precisa andar, treinar e aparecer em treinos e testes das categorias, e se mostrar. Se ele for bom, se tiver talento, pode ter a chance em alguma equipe, algum empresário olhar e se interessar e chama-lo para fazer um teste. E esta é a única forma de ter alguma chance. Especialmente porque no Brasil, não tem um programa como tem na Espanha, que um patrocinador banca um evento para fazer uma peneira, uma seletiva, e abre inscrição para todo mundo, independente de classe social, e ali são escolhidos aqueles que realmente são bons. Então tem que ir atrás, tem que buscar. Mas no começo é o pai, a família que custeia isso.
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