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Dia do Motociclista: quatro décadas de vida e carreira nas motos

27 de July de 2019

No dia 27 de julho, comemora-se o Dia do Motociclista. O dia daquele ou daquela que são apaixonados pelo mundo das duas rodas, que escolheram a moto como meio de transporte ou construíram uma carreira em cima delas. 

Gabriel Marazzi, 60 anos, tem um perfil que se encaixa em todas as alternativas. Jornalista, Marazzi é filho de outro jornalista: Expedito Marazzi, que teve passagem pela tradicional revista Quatro Rodas. 

A história de Gabriel Marazzi tem influência do pai tanto no gosto pelas motos quanto pela carreira no jornalismo cobrindo a indústria de motos e carros. São mais de quatro décadas vivendo sobre duas rodas, uma coleção de motos e uma jornada que começou bem cedo, como o próprio Marazzi contou em entrevista ao MOTO.com.br. Confira: 


Foto: Arquivo Pessoal

O início 

“Existe aquele momento em que a gente se descobre como gente, sabe? Das pequenas lembranças aqui e ali, creio que tinha três ou quatro anos de idade. Eu via muitas fotos do meu pai nos testes para a Quatro Rodas – ele foi um guru para toda uma geração de profissionais no jornalismo automotivo e motociclístico, antes dele ninguém fazia isso.” 

“Então eu comecei a ‘testar’ os carros no quintal de casa. Quando ele chegava com os carros de teste eu entrava, sentava no banco do motorista e ficava buzinando e tal. Então eu comecei a ver fotos do meu pai testando motos, o que me causou estranheza, pois sempre o via em carros – chuto eu que ele tenha parado quando os filhos nasceram, pois ele sempre andou de moto.” 

“Quando eu tinha uns sete anos, ele apareceu em casa com uma moto. Foi exatamente na época em que o Brasil voltou a olhar para motos, com as motos japonesas chegando e tomando conta do mercado, por volta de 1967, 1968. Então ele começou a fazer teste de motos para a Quatro Rodas e a comprar motos.” 

Primeira moto 

“A primeira moto que andei na vida foi na garupa, uma BMW 1951. Foi a primeira que ele comprou. Selim com mola, uma ‘rabo duro’ (sem suspensão na traseira) e um pequeno puff que servia de garupa. Ele iniciou a compra de motos, todas europeias – o pessoal ainda não conhecia e não confiava nas japonesas. Ele tinha muitas Ducati, uma HRD Vincent – a verdadeira ‘Viúva Negra’ - uma Jawa 1951, uma Gilera, um monte de coisa.” 

"Nos anos 1970, meu pai se apaixonou pelas motos japonesas e começou a comprar algumas. Ele até teve uma loja da Kawasaki, de onde eu ‘roubava’ uma 125 que tinha na vitrine para dar voltinhas. Eu tinha cerca de 11 anos.” 

“Antes disso, ele tinha feito um rolo com um amigo dele e acabou pegando uma Zundapp 1969. Moto alemã, dois tempos, feia que dói. Ficou lá e ficou para mim, foi a primeira moto na qual andei sozinho. Era muito feia, eu tinha vergonha de ir com ela para a escola, só andava pelo bairro. Até encontrei essa moto recentemente e o dono queria me vender, mas faltam muitas peças e ele está pedindo muito dinheiro.” 

Polícia na cola 

“Um dia meu pai me ligou pedindo para eu ir até a Fórmula G, antiga concessionária Honda na Praça Panamericana. Ao chegar com a minha Zundapp, deixei-a do outro lado da rua, com vergonha. Meu pai me pediu para levá-la para dentro da loja. Então o funcionário da loja disse “é, tá bom, escolha uma”. Não acreditei, mas peguei uma 125, zero quilômetro. E comecei a andar com ela, ia para a escola, para o Guarujá, andava com número em vez de farol e coloquei escapamento direto, pois corria com ela aos finais de semana.”  

“Eu tomava uns tombos de vez em quando e ia preso às vezes. A primeira vez que fui pego, eu nem usava capacete. Já tinha a minha Honda, toda bonitinha, e queria andar sem capacete, queria ir para a escola, todo mundo me via. Meu pai insistia para eu usar capacete, mas eu não queria saber disso.”  

“Tinha 14 anos quando fui pego pela primeira vez e me levaram para a delegacia. Liguei para o meu pai, que foi me buscar. Ele chegou e me deu uma bronca enorme, fiquei assustado. Depois, ele conversou com o delegado e fomos embora. No retorno para casa, perguntei a ele: “pô, por que essa bronca, você sabe que eu ando de moto”. Ele respondeu “se eu não faço isso quem vai preso sou eu”. Aí eu entendi!” 


Foto: Arquivo Pessoal

Um ‘não’ providencial nas pistas 

“Eu fazia só os campeonatos regionais. O Eloy Gogliano (criador da Confederação Brasileira de Motociclismo) não queria deixar eu correr, mas fazia vista grossa - “tá bom, não quero nem saber”.  Quando eu fui me inscrever para as 24 Horas de 1975, ele disse “você está louco”. Eu disse “pô, mas eu já corro”, no que ele me respondeu: “eu finjo que não vejo você correr nos regionais, mas 24 Horas você não vai correr”.  

“Hoje eu digo “santo Eloy”, eu teria me matado. Imagine um moleque de 14 anos, sem experiência, andar uma prova de 24 Horas no traçado antigo de Interlagos, que não tinha asfalto bom e era escuro pra caramba.” 


Foto: Arquivo Pessoal

Escola de pilotagem 

“A escola começou em 1966. Meu pai estava na Quatro Rodas quando o Pietro Taruzzi, pioneiro em escolas de pilotagem, veio ao Brasil. Quando ele foi embora, meu pai seguiu a ideia e criou a escola. Começou com cursos de carro, depois ele abriu algumas turmas de moto, tudo em Interlagos.”  

“Depois de um tempo, passou a ter curso só de carro. O pessoal de moto não gostava muito de aprender, achava que sabia tudo. Hoje isso mudou, as motos são muito rápidas. Mas antes era mais fácil encontrar o limite da moto.” 

“Quando Interlagos ficou fechado por dois anos, de 1968 na 1970, ele dava aula na Marginal Pinheiros – que já estava pronta, mas não estava aberta ao público. Depois de 1970, nunca mais parou, pois Interlagos nunca mais fechou.” 

“Em 1988, meu pai faleceu e assumi a escola, seguindo com ela por mais dez anos. Minstrava cursos de pilotagem de carro e de moto, de direção defensiva. Em 1998, o Roberto Manzini me fez uma proposta, comprou a escola, colocou o sobrenome dele e segue lá até hoje, mas sem curso de moto. ”Não quero nada de moto”, disse ele.” 


Foto: Gabriel Carvalho/MOTO.com.br

Coleção de motos 

“Tenho cerca de 15 motos, algumas esperando pela montagem. As peças estão aqui na garagem. Sempre gostei de qualquer tipo de moto. Gostava das esportivas, era jovem e não tinha medo de nada. Hoje a gente morre de medo de atravessar um cruzamento, pois pode vir um louco – a gente deveria ter sentido um pouco mais de medo naquela época.” 
 
“Aí fui ficando mais velho, barrigudo, pesado. Hoje eu prefiro as motos mais ágeis e rodo com as motos de teste, praticamente. A moto que eu mais gosto é a minha Honda Varadero 2008. Quando é para ir a algum lugar na cidade eu uso um scooter. Ando devagar, sem trauma, sem stress. Se você anda muito forte, acaba entrando naquele clima de acelerar para passar logo. Isso é perigoso e pode acabar em multas também. Quando é para pegar a estrada vou com as motos de teste ou com as minhas.” 


Foto: Arquivo Pessoal

Carreira 

“Em 1976 comecei a trabalhar na Auto Esporte como jornalista. Algumas capas eram minhas, eu era o magrelinho lá com as motos, com uma roupa improvisada e com o capacete que eu corria, todo velho.” 

“Sou engenheiro de formação - quando comecei o curso, já estava na Auto Esporte - trabalho em um órgão público. Nunca me formei em jornalismo. De repente fui para a Duas Rodas e fiz os anos 1980 todos por lá. Foi quando me firmei mesmo andando de moto.” 

“Depois da Duas Rodas, montei a revista Carro na Motorpress, revista que ainda existe. Em seguida, criei a revista Motociclismo. Foi por minha insistência que a edição brasileira foi criada. Tínhamos a edição alemã, a espanhola e a portuguesa na editora. Então eu enchi o saco deles até que me liberaram para criar a edição brasileira. Fiquei por lá de 1993 até 2005.” 

“Depois fiz a Moto Max e mais um monte de revistas e hoje estou mais tranquilo, escrevo colunas para o portal IG e testo motos e carros.” 

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