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Curso de pilotagem: as lições que aprendi com a Motors Company

11 de March de 2019

No final de 2018, o MOTO.com.br – especificamente este que vos escreve – foi convidado para participar de um curso de pilotagem organizado e realizado pela escola de pilotagem Motors Company, que tem como principal figura pública o jornalista e piloto Leandro Mello.

Para aprender, nada de moleza. Acordamos cedo e, às 8 da manhã, chegamos ao circuito do Haras Tuiuti, localizado próximo à cidade de Bragança Paulista, no interior do estado de São Paulo. Aproveitamos o café da manhã para fazer o primeiro contato com os demais alunos e com a equipe de instrutores antes de uma parte importante que precedia a hora de subir na moto.


Foto: Gabriel Carvalho/MOTO.com.br

A teoria

Em uma sala preparada para receber os alunos, Mello e a equipe de instrutores explicaram em que consistia o curso de pilotagem denominado pela Motors Company de ‘Premium’.

Os exercícios a serem executados, as orientações de segurança, o histórico da Motors Company, tudo foi explicado de forma objetiva e com leveza. A ideia é conscientizar os alunos, acima de qualquer outro aspecto. Fernando Aurora, instrutor e um dos sócios da escola, deixa claro desde o início: “vocês não estão aqui para andar rápido, mas para aprender a pilotar uma moto da maneira correta”.

Engana-se, no entanto, quem imagina que a fala de Aurora deixou o dia menos divertido e proveitoso. Antes de ir para a pista, os instrutores dividiram os alunos em três grupos menores, de acordo com o nível de experiência dos ‘estudantes’.

“Claro que você entra no grupo A”, disse Aurora para o autor deste texto, que ficou um tanto quanto surpreso, já que os alunos em grande maioria tinham mais tempo de habilitação do que quem escreve estas linhas.

Postura é tudo

Frases à parte, fomos para os primeiros exercícios na pista. Para o curso, a Ducati emprestou ao MOTO.com.br a Monster 797, naked de entrada da fabricante. Ágil, estável e dócil, o modelo – que é a porta de entrada para a família Monster e também para o mundo da fabricante de Borgo Panigale – se mostrou uma escolha mais do que acertada para as atividades do dia.

Os primeiros exercícios, que eram compostos por sequências de ‘slalom’ pelo traçado, tinham como foco a postura em cima da moto. Quadril, posicionamento de pernas e pés, movimentação do corpo e pontos de apoio. O foco naquele momento era, mais do que passar pelos exercícios rapidamente, executar de forma correta os movimentos em cima da moto.

As entradas na pista eram realizadas por grupo e, a cada intervalo, os instrutores abordavam os alunos para passar feedbacks que, ainda que feitos em conjunto, eram compostos por recados individuais a cada aluno – afinal, cada um pecava em aspectos distintos da pilotagem.

Parte do feedback, aliás, era feito na pista: os instrutores seguiam de perto cada aluno e, através de sinais previamente combinados, mostravam o que deveríamos corrigir em nossa pilotagem.


Foto: Bira/SportSpeed

Para indicar, os instrutores nos ultrapassavam e gesticulavam usando o próprio corpo: toques nos pés indicavam que deveríamos posicionar os pés de forma correta nas pedaleiras; movimentos com o quadril indicavam que não estávamos nos movimentando de maneira adequada; a mão apontada para a pista mostrava o traçado ideal. Tais gestos foram explicados em detalhes durante a parte teórica.

Outra possibilidade era a conversa ainda na pista – sempre levando em consideração a segurança de todos, evidentemente. Em determinado momento, Francis Vieira, mais um dos experientes instrutores da Motors Company, levou-me para um trecho não utilizado da pista para explicar em detalhes que eu deveria mover mais o quadril nas mudanças de direção.

Ao terminar, Vieira me pediu para ir à frente e para que ele pudesse observar meus movimentos. Duas voltas depois fui ultrapassado pelo instrutor, recebendo um sinal positivo. Feedback instantâneo e mais conhecimento adquirido. O posicionamento correto sobre a moto solucionou uma dificuldade que este repórter tinha: contornar curvas à direita com confiança.

Chegando à metade do dia, pista fechada e todos voltam aos boxes para almoçar. Na segunda parte das atividades, além de repetir os exercícios feitos pela manhã, faríamos exercícios especialmente dedicados a uma parte fundamental da pilotagem.

Saber a hora de (e como) parar

Os exercícios de frenagem consistiam em focar primeiro no acionamento correto do sistema. Depois, a equipe da Motors Company nos obrigava a utilizar os freios com mais intensidade, para entender a potência dos freios e a confiar no sistema ABS, que impede o travamento das rodas.

Ao explicar os primeiros exercícios, Mello destacou a importância da utilização do freio traseiro, especialmente em caso de necessidade de redução da velocidade em uma curva. Tal explicação se mostrou útil na prática, quando este repórter entrou forte demais em uma curva e precisou corrigir a trajetória.

O instinto nos leva a buscar o freio dianteiro, o que eleva substancialmente a possibilidade de queda, já que grande parte das motocicletas não conta com freios ABS em curvas – a recém-chegada Ducati Multistrada 1260s, por exemplo, conta com o recurso.

Em grande parte das motos, o acionamento do freio dianteiro nas entradas ou durante o contorno de uma curva pode fazer com que o pneu dianteiro trave e a queda é praticamente inevitável.


Foto: Bira/SportSpeed

Ao perceber o erro que iria cometer, lembrei-me das instruções recebidas antes dos exercícios e não acionei o freio dianteiro, mudando o foco para o freio traseiro. Como na explicação teórica, ao acionar o pedal no pé direito a Monster 797 imediatamente voltou à trajetória desejada sem grandes dificuldades.

Antes do último exercício de frenagem, no qual deveríamos entrar em uma das retas acelerando forte, frear na área indicada pelos cones e depois fazer uma mudança de direção – um combinado de tudo que vimos durante o dia – Mello fez duas demonstrações.

Na primeira, tudo normal. Ele parou e disse: “vou fazer mais uma vez, fiquem atentos”. Enquanto Mello se dirigia novamente para o trecho do exercício, Aurora afirmou: “só vai receber o certificado quem executar o exercício da forma que vocês vão ver”.

Mello acelerou forte e, diante de nossos olhos, fez uma derrapagem controlada, com a roda traseira de lado na frenagem, e uma mudança de direção que só um profissional executaria com segurança. Todos, incluindo este escritor, ficaram espantados com a exibição – e, claro, a fala de Aurora foi em tom de brincadeira.

Garupa: adrenalina e aprendizado

Ainda faltava uma parte bastante esperada por quem faz o curso: a volta na garupa de Leandro Mello. Todas as referências adquiridas pela pista durante o dia parecem infantis perto do que ele faz levando um garupa para a volta rápida.

Acelerações fortes, freadas quase dentro das curvas, o balé das mudanças de direção. Tudo ganha um novo limite após o passeio “com emoção”, embora em nenhum momento a volta tenha chegado perto de acabar em acidente – a Panigale 1299 com a qual o piloto leva os alunos parece andar sobre trilhos.


Foto: Bira/SportSpeed

Após um dia de muitos quilômetros rodados e aprendizado intenso, concluímos o curso e recebemos o certificado. Mas mais importante do que um pedaço de papel, o conhecimento adquirido mudou a nossa pilotagem, não importando quanto tempo de experiência o piloto possuía.

Aplicação imediata e conclusão

No retorno a São Paulo, via rodovia Fernão Dias, foi possível notar de imediato o quanto mudanças simples de postura já tornaram o passeio muito menos cansativo e a pilotagem mais segura.

Em um país no qual a formação de condutores não prepara pilotos da forma mais adequada para conscientizar e ensinar de fato uma pessoa a pilotar uma motocicleta, cursos particulares como o da Motors Company – cuja agenda você pode conferir aqui – são de extrema importância para sairmos de nossas casas, seja para nos locomovermos no trajeto residência/trabalho, a passeio ou em um track day e retornarmos sãos e salvos.

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