Linguagem eletrônica se consolida como principal elemento de comunicação entre veículos de duas e quatro rodas
Aladim Lopes Gonçalves
Quem vê carros e motos no dia a dia do trânsito nota que são modelos de transporte com bastante diferenças, sobretudo pelo aspecto físico, mas parece que as algumas novidades e inovações estão fazendo esses veículos ficarem mais parecidos entre si. Pode até não parecer de cara, mas isso fica ainda mais evidente quando falamos de aspectos de tecnologia e de desenvolvimento de novos equipamentos voltados para as questões de segurança, conforto, economia e sustentabilidade.
Tanto que o ritmo de trabalho que rege os departamentos de engenharia, pesquisa e design dos principais fabricantes estão todos voltados para a criação e o aprimoramento de novos e sofisticados recursos de mobilidade no sentido de oferecer veículos com mais qualidade em aspectos como eficiência energética. O certo é que os veículos que estamos vendo nas ruas estão cada vez mais inteligentes, práticos e integrados com as novas tecnologias.
A facilidade de comunicação e conectividade entre diferentes dispositivos veiculares tem sido uma ferramenta de extrema utilidade na parte de assistência técnica pela facilidade que trouxe no serviço de manutenção e para as pessoas que acabam se beneficiando de várias comodidades e informações, todas acessíveis e disponíveis no painel de instrumentos do seu carro e da sua moto.
Isso porque chegamos a um nível de desenvolvimento em que os veículos de duas e quatro rodas estão falando praticamente a mesma língua. Parece estranho? Pois saiba que os especialistas confirmam que os mais recentes avanços dos carros também já estão presentes nas motos, fazendo com que esses veículos compartilhem as mesmas tecnologias e estejam cada vez mais integrados.
Segurança
Na visão do engenheiro Hilário Kobayashi, diretor de engenharia de produto da Yamaha do Brasil, essa integração está acontecendo como resultado da mistura de componentes de carros e motos, um fato que está se tornando cada vez mais presente nos complexos industriais das principais marcas do mundo.
“Estes novos recursos tecnológicos em comum e que acabam sendo compartilhados entre os dois veículos são feitos com tecnologias avançadas e que estão mais acessíveis para atender o mercado com produtos de melhor qualidade e focando sempre os aspectos mais importantes, como a segurança. No caso da Yamaha, nós desenvolvemos nossos próprios produtos para as motocicletas, porém existem outros fabricantes compartilhando a mesma tecnologia de carros, o que torna mais fácil a adaptação em motos.”
"Miniaturização"
Para o engenheiro Alfredo Guedes, supervisor de relações institucionais da Honda do Brasil, essa proximidade maior entre carros e motos aparece bem mais em relação à questão dos níveis de emissões de poluentes e consumo, a partir da instituição, em 2003, do Promot (Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares).
“É importante destacar que esse processo de miniaturização da eletrônica é que possibilita que uma nova tecnologia ou equipamento que foi apresentado em um carro seja levado mais rapidamente também para as motos.”
De fato, atualmente carros e motos estão falando a mesma língua no que diz respeito a equipamentos como injeção eletrônica, air bag (bolsa de ar que infla instantaneamente em colisões), freios ABS (antitravamento), acelerador eletrônico (drive by wire), controle de tração, modos de pilotagem, controle de suspensão, sistema liga e desliga (start stop), piloto automático (cruise control), câmbio sequencial e tantos outros dispositivos.
Também já circula por todo o mundo uma infinidade de carros e motos elétricos e híbridos que antecipam as perspectivas de mobilidade e tecnologias para o futuro, com veículos mais eficientes e sustentáveis para as cidades, as pessoas e o meio ambiente. Então, enquanto esperamos pelas próximas novidades, vamos saber mais de alguns recursos comuns de carros e motos nos dias atuais.
Acelerador eletrônico
Essa tecnologia chegou com as competições, como a Fórmula 1, e logo passou para os carros de passeio. Esse sistema usa um conjunto eletrônico a partir do pedal do acelerador para dosar o nível de aceleração do motor de modo a conseguir respostas mais precisas e dispensando o sistema tradicional com cabo. Nas motos, um sensor instalado no punho do acelerador passa essas informações ao sistema de controle do motor para regular a velocidade. Além de mais preciso, o acelerador eletrônico possibilita economia de combustível.
● Air bag
O air bag (bolsa de ar inflável) já é um sistema de segurança passiva que vem sendo usado há muito tempo nos carros, sendo responsável por salvar a vida de inúmeros motoristas e passageiros em acidentes nas estradas e nas ruas das cidades. Nas motos, o equipamento está presente faz pouco tempo, desde 2007, quando foi apresentado na touring Honda Gold Wing. Assim como nos carros o dispositivo fica armado no painel e em caso de choque ou forte desaceleração é acionado em fração de segundos, protegendo o condutor do impacto.
Câmbio automático sequencial
O crescimento da oferta e procura de carros com câmbio automático pode ser notado em vários mercados, sobretudo, quando estamos nos referindo a pessoas que vivem nos grandes centros urbanos e que encaram tráfego pesado. Nesse sentido, o câmbio automático (ainda há versões automatizadas e robotizadas) trouxe mais conforto e praticidade para o condutor que não precisa a todo instante passar as marchas. No câmbio automático sequencial é possível trocar as velocidades no modo manual ou automático, deixando essa escolha para o motorista. Nos veículos duas rodas o câmbio automático não chega a ser uma novidade, sendo utilizado o sistema CVT (sem relações de marcha definidas) em larga escala em scooters e maxi scooters. Mais recentemente as motos Premium já aparecem com câmbio sequencial, como as linhas Honda VFR 1200 e NC 750 que contam com o sistema DCT (Dual Clutch Transmission) de dupla embreagem que, entre outras vantagens, permite andar no modo automático ou automático sequencial com passagem de marcha por comandos nos punhos das motos.
● ABS
Os freios antitravamento com sistema ABS também são velhos conhecidos dos automóveis. Essa tecnologia permite frear com mais segurança e assim um controle maior do carro, evitando uma derrapagem descontrolada e perigosa. O dispositivo se baseia na ação de um modelo eletrônico que faz leituras das velocidades das rodas para realizar a frenagem com segurança, impedindo o travamento das rodas, mesmo com o forte acionamento do pedal do freio. Nas motos, os freios ABS vêm se popularizando e a cada ano novos modelos passam a contar com esse recurso como item de série ou opcional.
Controle de suspensão
Carros de luxo e esportivos usam controle de suspensão para ajustar o veículo em relação à velocidade e ao tipo de superfície, concedendo, conforme a necessidade, maior ou menor carga no sistema, possibilitando mais conforto ou maior desempenho, dependendo do tipo de situação. Essa tecnologia também já pode ser encontrada na suspensão de motos, inclusive com amortecedores eletrônicos, como no caso da esportiva BMW S 1000 RR HP4, que ajusta a pressão do sistema de acordo com o tipo de piso. A big trail Ducati Multistrada 1200S traz como novidade sensores nos amortecedores e no chassi para regular a suspensão da moto.
● Modos de pilotagem
Os carros utilizam o sistema para regular eletronicamente o funcionamento do motor em diferentes modos, como esportividade, conforto, dinâmico e econômico, permitindo que o motorista escolha a melhor opção de condução do veículo. Nas motos, o controle de modos de pilotagem oferece seleção semelhante a dos carros, permitindo escolher no painel a melhor alternativa de comportamento para o veículo. Na Ducati Diavel, por exemplo, o motociclista pode escolher entre os modos Urban, que limita a potência do motor, Touring, que leva o motor a sua potência máxima com uma regulagem mais suave do acelerador e Sport, que leva o motor a sua potência máxima com respostas mais rápidas do acelerador.
Controle de estabilidade
Atuando em conjunto com os freios ABS e o sistema de tração, o controle de estabilidade é mais um recurso eletrônico que atua no sentido melhorar o controle e as respostas do carro em situações adversas, tais como curvas acentuadas, pista escorregadia, declives e aclives acentuados, entre outros. Ainda é uma novidade recém-chegada ao mundo das duas rodas, com o lançamento da linha 2014 da big trail austríaca KTM 1190 Adventure, que utiliza o MSC (Motorcycle Stability Control) para controlar a estabilidade da moto em diferentes situações a partir de sensores nas rodas e de um sofisticado software para fazer leituras de inclinação e velocidade, por exemplo.
● Piloto automático
O dispositivo pode ser encontrado em automóveis mais sofisticados e com perfil aventureiro. Sua principal vantagem é manter a velocidade de aceleração do veículo, dispensando a necessidade de ficar pressionando o pedal do acelerador, evitando a fadiga do motorista. Nas motos, assim como nos carros, o piloto automático também funciona muito bem em viagens mais longas com bastante retas e curvas que não sejam muito acentuadas. Outra vantagem importante desse sistema é que ele ajuda a evitar multas, pela velocidade controlada, e pode gerar significativa economia de combustível, por evitar acelerações e desacelerações. O recurso tem acionamento no painel e é desativado quando pressionado o freio ou acelerador.
Controle de tração
A novidade dos carros também chegou às motos com o mesmo propósito de evitar derrapagens e aumentar a situação de controle em pisos escorregadios e situações desfavoráveis. Também é considerado como uma função de assistência ao sistema ABS, atuando automaticamente contra o travamento das rodas e a perda de estabilidade. A primeira motocicleta a incorporar o controle de tração foi a protuberante BMW R 1200 R. Atualmente, o sistema é incorporado especialmente em moto esportivas para aumentar a eficiência das motos em curvas, no sentido de evitar “escapadas” de traseira.
● Sistema liga e desliga
O sistema start stop ainda é relativamente recente nos carros e recentemente passou a ser oferecido por um número maior de fabricantes. O dispositivo é um recurso inteligente que permite desligar e ligar o motor quando não há aceleração, como quando o carro está parado no semáforo. O propulsor entra em modo stand by e quando o carro volta a acelerar ele funciona automaticamente, fazendo um papel importante para a economia de combustível e contribuindo para a redução de emissões. Nas motos, o sistema ainda é novidade, mas no Brasil já pode ser encontrado no scooter Honda PCX 150, com o nome de Idling Stop. Com acionamento no punho direito, nas paradas acima de três segundos a moto é desligada e religada instantaneamente quando ao acelerar.
Fotos: Divulgação
Fonte:
Equipe MOTO.com.br
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