Califórnia torna legal a circulação de motos no corredor
Segundo estudo, andar no corredor diminui a exposição dos motociclistas a riscos, embora muitos pensem o contrário por aqui
Por Alexandre Ciszewski
Por Alexandre Ciszewski
O Governador do estado da Califórnia (Estados Unidos), Jerry Brown, assinou na última a lei que torna oficialmente legal a circulação de motocicletas nos corredores ("lane-splitting"). Utilizar o corredor sempre foi legal, mas apenas por uma brecha técnica no Código da Trânsito da Califórnia (CVC). Até então a Califórnia não proibia, mas também não permitia as motos andarem no corredor legalmente, em um espécie de zona cinzenta (grey area: expressão em inglês para explicar algo que não está na lei, mas que também não é proibido), mais ou menos como acontece aqui no Brasil.
Essa lei assinada por Brown formaliza e acrescenta a circulação de motos no corredor como prática tolerada pelo CVC; e mais importante, expressamente permite que as agências do governo, como a Patrulha Rodoviária da Califórnia, criem e ensinem regras e diretrizes de melhores práticas de pilotagem. Além de ser um ótimo argumento para acabar com o velho papo – "se os motociclistas querem ter direitos têm que respeitar a lei e andar atrás dos outros veículos" ou ainda "em nenhum país do mundo as motos andam no meio dos carros" – a lei californiana abre um importante precedente no Estados Unidos e em todo mundo ao tornar legal essa prática tão comum – sim, acontece em diversos países europeus e até mesmo no Japão.
A medida tem bastante aceitação, inclusive da Associação Americana de Motociclismo (AMA da sigla em inglês), que divulgou uma nota oficial demonstrando total apoio à decisão do governador californiano. Segundo comunicado, vários estudos comprovam que muitos acidentes com motociclistas (cerca de 60%) acontecem em situações de tráfego moderado e pesado, quando os condutores de motos parados atrás dos carros nas faixas de rolamento ficam vulneráveis a mudanças de faixas de outros veículos, condutores distraídos. O estudo Hurt, sobrenome de um dos autores, chegou à conclusão de que "andar no corredor diminui a exposição dos motociclistas a esses riscos", apesar de muita gente discordar disso por aqui.
Já o Departamento de Segurança no Trânsito dos Estados Unidos (NHTSA), em documento publicado como agenda para a segurança dos motociclistas estudou o “lane-splitting'' e concluiu que a "largura de uma motocicleta permite o veículo passar entre as faixas de veículos parados ou movendo-se vagarosamente em vias, onde a largura das faixas seja suficiente para proporcionar um espaço adequado. Essa alternativa pode proporcionar uma rota de fuga para motociclistas que pudessem ficar presos ou serem atingidos em uma colisão traseira. Há evidência que rodar entre as faixas de rolamento com os carros em baixa velocidade ou parados em vias de múltiplas faixas reduz a frequência de acidentes com motos se comparado a locais onde as motos ficam dentro das faixas e se movendo com o tráfego".
A boa notícia da regulamentação de motos andarem no corredor na Califórnia também levanta outras questões importantes: quando, como e em qual velocidade devemos andar no corredor? Basta respeitar o bom senso para poder rodar com segurança no corredor. Outra dica é: respeitar o limite de velocidade da via ou até mesmo rodar abaixo dele.
Por exemplo, o corredor Norte-Sul em São Paulo (SP), formado pelas avenidas Tiradentes, 23 de Maio, Rubem Berta e Washington Luís, tem 50 e 60 km/h como limites máximos de velocidade de acordo com o trecho. Infelizmente, o que vemos com muita frequência, são motociclistas indo a 100 km/h e, o pior, entre os carros! Ou alguns que tentam forçar a barra em trechos onde não há espaço para dois carros e uma moto. Outros motociclistas, mais egoístas, não se contentam em rodar no corredor formado pela faixa da esquerda e a subsequente, querem rodar no corredor entre todas as faixas. O que, além de irritar os motoristas, prejudica os outros motociclistas, uma vez que os motoristas não conseguem dar espaço para passar uma moto de cada lado. Então, não bastam leis que regulamentem é preciso ter bom senso e educação no trânsito e na vida.
Fotos: Gustavo Epifanio/Agência Infomoto e Reprodução/Divulgação
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