Benelli comemora 100 anos e avança para a América do Sul

Marca italiana comemora seu centésimo aniversário e quer ampliar sua participação no mercado internacional

Por Aladim Lopes Gonçalves

Carlos Eduardo Bazela

Em 1911, a viúva Teresa Benelli decide abrir uma oficina com seus seis filhos na cidade de Pesaro, na Itália. A ideia que mais parece o roteiro de um filme de época, nada mais é do que a origem de uma das mais tradicionais marcas de motocicletas do mundo. Completando 100 anos, a Benelli é a realização do sonho de Giuseppe, Francesco, Giovanni, Filippo, Antonio e Domenico Benelli de fabricarem motos utilizando a oficina da “mamma”. A marca que, desde 2005 pertence aos chineses do Q.J. Group, agora faz parte de um seleto grupo formado por Harley-Davidson, Triumph, Husqvarna (Grupo BMW) e Gilera (Grupo Piaggio) — marcas que já completaram 100 anos de vida.

Para celebrar, além das festividades na cidade de Pesaro, a marca do Leão anuncia a ampliação de sua participação no mercado internacional, com a produção dos modelos Tre-K 1150, Tre-K Amazonas, TNT 899 e Café Racer 1130 na Venezuela. Há rumores que os chineses também querem montar as Benelli no Brasil, nos moldes (CKD) da parceria entre a BMW e a Dafra.

De volta ao passado
Em 1919, os irmãos Benelli construíram seu primeiro motor: um dois tempos de 75cc instalado no garfo dianteiro de uma bicicleta. Os resultados ficaram abaixo do esperado. Entretanto, dois anos depois, a Benelli entregava a sua primeira motocicleta, a Velomotore, produzida nas versões Touring e Sport, com 98 e 125 cc, respectivamente, ambas com motor dois tempos. Em 1923, a Velomotore já contava com um motor de 147 cc.
Foi com esta motocicleta que Antonio “Tonino” Benelli começou a trilhar seu caminho de sucesso nas competições de motovelocidade, fazendo da marca de Pesaro um nome conhecido no continente europeu.

Dentro e fora das pistas
As vitórias de Tonino fizeram com que seu irmão Giuseppe projetasse um novo modelo consideravelmente mais potente. Equipada com um motor quatro tempos, 175cc de capacidade e transmissão de quatro velocidades, a nova moto tinha desempenho superior aos modelos da mesma categoria, garantindo a este projeto o tetra campeonato italiano de motovelocidade (1927, 1928, 1930 e 1931).

O sucesso da marca nas pistas também se refletiu em vendas. Para atender a nova demanda, em 1932 os irmãos Benelli expandiram a fábrica para uma antiga serraria em Molaroni, na região conhecida como Viale Príncipe Amedeo. No mesmo ano, também foram lançadas duas novas motos com motores quatro tempos de 500 e 250cc. Dois anos mais tarde, a Benelli apresentou mais dois novos modelos de competição: uma 250 cc, com motor de dois cilindros em “V”, e uma 500 cc.

E veio a guerra...
Eram tempos prósperos para os irmãos de Pesaro. Em 1940, a marca se preparava para pôr nas pistas um de seus mais ambiciosos projetos: um motor com quatro cilindros em linha, duplo comando no cabeçote e equipado com um super compressor. Infelizmente, a moto nunca competiu.

A eclosão da Segunda Guerra Mundial fez com que a Benelli fosse mais uma empresa obrigada a parar sua produção e voltar sua planta fabril para os propósitos militares. O sonho dos irmãos Benelli começou a se desfazer. Bombardeios dos Países Aliados e a pilhagem das tropas alemãs reduziram a fábrica a uma pilha de escombros e galpões vazios.

Desistir estava fora de questão. Então, os seis irmãos Benelli iniciaram a reconstrução da empresa. Como primeiro passo para “sair do buraco”, eles escolheram converter mil motocicletas militares abandonadas nos campos de batalha pelos Aliados – a maioria de origem britânica – em motos civis. Em 1947, a Benelli já estava de volta às pistas.

Volta por cima
O ano de 1948 foi extremamente positivo para a Benelli. A contratação do piloto Dario Ambrosini foi um dos pontos altos, mas a grande reviravolta aconteceu mesmo em 14 de outubro, quando a empresa anunciou que voltaria a fabricar motocicletas de rua. Em 1950, Ambrosini venceu o Campeonato Mundial na categoria 250.

Quando tudo parecia estar bem para a marca de Pesaro, outro revés se abateu na família. Giuseppe Benelli deixou a companhia após desentendimentos com seus irmãos e passou a produzir motos de pequena e média cilindrada com nome Motobi. A nova empresa se revelou uma rival e tanto, acumulando mais de mil vitórias em competições entre os anos 1950 e 190.

Nem mesmo a saída de Giuseppe tirou o fôlego da Benelli. Em 1953, a marca comemorava o sucesso das vendas do modelo Leoncino e também a vitória do primeiro Motogiro d’Italia, pelas mãos do piloto Leopoldo Tartarini.

A comemoração dos 50 anos da Benelli, em 1961, veio com uma grande notícia. A fusão com a Motobi, que transformava o antigo rival em um forte aliado para enfrentar a queda pela qual passava a indústria de motocicletas na época. Uma das características dessa união foi a ampla gama de modelos oferecidos, com destaque para a Tornado, com motor bicilíndrico em “V”; e também para o segundo título mundial nas 250, conquistado pelo piloto australiano Kelvin Carruthers em 1969.

Montanha russa
Os trinta anos seguintes da Benelli foram uma sucessão de altos e baixos. Em 1972 a marca foi comprada pelo argentino Alejandro De Tomaso – então proprietário da Moto Guzzi – que revitalizou a marca, apresentando uma série de modelos com diferentes cilindradas. Mesmo com o controle longe das mãos dos irmãos Benelli, o número seis continuava sendo mágico para a marca italiana. Nesse mesmo ano, foi apresentada a Sei, primeira moto com seis cilindros produzida em série do mundo. Uma naked de 750cc que tinha a dura missão de trazer a marca de volta ao topo. A Sei chegou ao fim da linha em 1978 após 3.200 unidades produzidas, número expressivo para a época.

Depois de conhecer novamente o apogeu com a Sei, a marca italiana novamente se viu em declínio. A concorrência com as avançadas motos japonesas fez com que a empresa ficasse em uma situação bastante delicada no final da década de 80. Neste período, Giancarlo Selci, um conterrâneo da cidade de Pesaro assumiu o controle e focou sua produção em modelos de baixa cilindrada, como a Cosi, Devil e a Scooty.

Em 1995, o Grupo Merloni adquiriu a maior parte da empresa e a ressuscitou pela quarta vez. Projetos ousados começaram a sair das mesas de desenho, como o estiloso scooter 491 e as motos de grande porte chegaram ao mercado. Entre elas podemos destacar a nova Tornado, com motor de três cilindros e 900 cc, que participou do Mundial de Superbike, e a TNT, outra tricilíndrica de 1130 cm³ de capacidade.

O futuro
Depois de passar por tantas crises e superar até uma guerra, não há dúvidas de que a Benelli nasceu sob o signo da perseverança. Hoje, aparentemente longe das dificuldades financeiras, novos projetos são prometidos pelos chineses do Q.J. Group para manter a tradição da marca de Pesaro mais viva do que nunca.

Fotos: Divulgação


Fonte:
Agência Infomoto

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